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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

UEMA 2018 – Questões sobre a poesia de Adélia Prado

Nesta postagem, reuni 9 questões que permitem fazer um reflexão significativa a respeito da poesia de Adélia Prado, poetisa mineira que será solicitada no vestibular PAES 2018 - Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior, realizado pela UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), no dia 22 de outubro. O gabarito está nos comentários. Bom estudo e sucesso pra vocês vestibulandos!

1. Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma
a) expectativa do marido em relação à esposa.
b) imposição dos afazeres conjugais.
c) disposição para realizar tarefas masculinas.
d) dissonância entre as vozes masculina e feminina.
e) forma de consagração da cumplicidade no casamento.

2. No texto de Adélia Prado, o eu lírico feminino revela, a partir de suas experiências, que o casamento é
a) frustração e desencanto com o outro.
b) troca paulatina do amor pela subserviência.
c) vínculo baseado na cumplicidade e no respeito.
d) ausência permanente de palavras e ações carinhosas.
e) cárcere onde a mulher é condenada a cuidar do lar.

3.
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Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foi a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses elementos a partir do(a)
a) reflexão irônica sobre a importância atribuída aos estudos por sua mãe.
b) sentimentalismo, oposto à visão pragmática que reconhecia na mãe.
c) olhar comovido sobre seu pai, submetido ao trabalho pesado.
d) reconhecimento do amor num gesto de aparente banalidade.
e) enfoque nas relações afetivas abafadas pela vida conjugal.

4. A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha
tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva
a) narra um fato real vivido por Maria José.
b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
c) relata uma experiência teatral profissional.
d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.

5. Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
                  (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)

II. Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim. 
                  (BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)

III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
                  (PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por:
a) reiteração de imagens.
b) oposição de ideias.
c) falta de criatividade.
d) negação dos versos.
e) ausência de recursos.

6. Grande desejo
Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito “ai”.
Quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.
                                                                                                Adélia Prado
O poema de Adélia Prado apresenta um eu lírico feminino que explora a inconstância da condição humana. Com base nisso, pode-se concluir que
a) nos dois primeiros versos, a rima provocada pelo contraste dos nomes “Cornélia” e “Adélia” suscita uma relação de similitude.
b) o eu lírico se declara uma mulher simples por meio da enumeração de atos excepcionais como fazer comida e bater o osso no prato para chamar o cachorro.
c) no sexto verso, para que ocorra um afastamento ainda maior do coletivo, o eu lírico diz que “quando dói” grita “ai”, pois não consegue reprimir sua dor.
d) suas sensibilidades são reprimidas e governáveis, pois caracterizam-se como racionais, detentoras de uma lógica da sensibilidade.
e) o eu lírico apresenta uma mulher prosaica, sem fortes traços revolucionários e excepcionais, uma detentora de vivências.

7. Simplesmente amor
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele falo palavras como lanças

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele podem entalhar-me:
Sou de pedra sabão.

Alegre ou triste

Amor é a coisa que mais quero.

 Adélia Prado.
Disponível em: <http://goo.gl/Jl3Ig>. Acesso em: 5 maio 2013.
A obra poética de Adélia Prado é prova de que a poesia não precisa nascer somente do solo duro do eixo Rio-São Paulo. Como poucas, ela sabe resgatar para o seu leitor toda trama cultural e social do piccolo mondo das cidades do interior brasileiro. Pequenas histórias familiares, dramas do dia a dia, tudo isso filtrado pelo seu olhar arguto, resulta em uma poesia extremamente refinada e bela. É aquela famosa história de que, ao tratar de sua aldeia, o poeta está sendo universal. Morando em Divinópolis, Minas Gerais, onde nasceu em 1935, Adélia Prado é uma das mais importantes poetas brasileiras.
Com base no texto e na temática do poema "Simplesmente amor", conclui-se que a autora
a) define o amor sob uma perspectiva lógica, direta e objetiva.
b) considera o sentimento como algo fundamental para sua poesia panfletária.
c) associa o modo de composição do poema ao trabalho do ourives.
d) apresenta uma concepção naturalista e positivista do amor.
e) revela sentimentos e aspectos paradoxais da condição sentimental dos que amam.

8. Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

                                                                                                                               Adélia Prado

O poema “Ensinamento”, entre outros aspectos, versa sobre os relacionamentos humanos, revelando que
a) o amor é uma palavra de luxo por ser escasso na relação familiar apresentada.
b) a mulher é representada por uma figura reprimida, sem acesso ao estudo e subjugada ao marido.
c) o eu lírico aprendeu com a mãe um ensinamento sobre o amor por meio de uma experiência cotidiana.
d) o eu lírico apresenta discordância em relação ao ensinamento da mãe, buscando criticá-la por sua postura submissa.
e) há diferenças entre gerações; no caso, a mãe valoriza o casamento, enquanto a filha preocupa-se com o futuro profissional.

9. Para o Zé
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Adélia Prado.
Fonte: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/adelia-prado-poemas/#.U8mNS9NOXIU em 17/7/14
O poema de Adélia Prado apresenta uma voz lírica feminina que revela
a) o quanto a mulher é vítima da opressão machista que a impede de amar.
b) uma noção de homem reificado, ou seja, completamente despido da possibilidade de despertar o amor.
c) um olhar desatento sobre a condição masculina, pois ela se mostra impossibilitada de qualificação.
d) uma visão poética, mas referencial, sobre o cotidiano dos homens que habitam as cidades do interior de Minas Gerais.
e) a paixão, a devoção e o carinho que ela sente pelo seu par amoroso, ressaltando suas peculiaridades sentimentais. 

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