segunda-feira, 17 de novembro de 2025

O Padroeiro de Marabá, a Negritude e a Educação

E quando a força da negritude compete com a força da santidade católica?

Nesta semana, em que despenca o dia 20 de novembro, a cidade de Marabá, praticamente uma metrópole plantada na região sudeste do Pará, permite-nos colher alguns frutos. Entre eles, brotam-se um feriado municipal, o dia de São Félix de Valois (leia-se: “Valoá”), padroeiro da cidade, e uma data de repercussão nacional, o Dia da Consciência Negra (leia-se: discussões de esquerda e de direita sobre como as pessoas pretas devem ou não devem pensar e existir).

No cenário da educação municipal, como professor que sou há 21 anos, sei que, por um lado, existe a felicidade por causa da força do feriado. Feriado rima com descanso, duvida?! Todo trabalhador gosta de usufruir de um feriado no aconchego do lar.

Por outro lado, não vou afirmar que exista uma infelicidade, porém é nítido que esse feriado municipal (lei nº 2.376, de 1982), que representa fortemente a influência católica na formaçãoda identidade e da cultura marabaenses, parece perder espaço para as comemorações e protestos relacionados ao Dia da Consciência Negra.

Repito: não é uma infelicidade, mas enxergo alguns problemas nesse contexto em que o feriado local é invisibilizado pelo tema nacional.

Para ser bem objetivo na observação que faço aqui, vou deixar de lado, momentaneamente, minha crítica ao fato de que a esquerda política já sequestrou a data de 20 de novembro, usando-a como instrumento ideológico para promover a própria agenda de poder. Isto é, sequestraram a temática do racismo para sinalizar que eles são os únicos virtuosos, são eles os justiceiros sociais capazes de resolver os problemas do Brasil. A esquerda criou uma senzala ideológica. Enquanto isso, a direita política sedimenta ações para desmistificar essa falsa virtude. É chato, mas necessário. Afinal, os conservadores não caem nesse papo de racismo estrutural. Nem no curral cognitivo do “lugar de fala”. Em síntese, toda axiologia em torno do movimento negro de esquerda é, de fato, estratégia de silenciamento das pessoas pretas de direita.

Nesse sentido, o que a população de Marabá vê no chão das escolas, tanto nas públicas quanto nas particulares, é um esforço em escala amazônica para a realização de eventos: palestras, oficinas, apresentações artísticas, documentários, rodas de conversa etc., completamente voltados para o Dia da Consciência Negra. No entanto, a data do padroeiro de Marabá é relegada quase ao esquecimento. Digo: os estudantes sabem ou aprendem pouco, ou quase nada, acerca de quem foi e qual o peso de São Félix de Valois.

Doravante, faço aqui um singelo esforço para entender ou tentar entender as pessoas que acreditam que esse cenário está correto, ou seja, que Marabá deve seguir assim mesmo, sem nenhuma ou com ínfimas referências ao padroeiro local.

Primeiramente, entendo que muita gente vai argumentar sobre o fato de o racismo ser uma temática urgente, que necessita de enfrentamento e conscientização, e que as escolas são meios extremamente úteis para que a sociedade e o governo apliquem ações diretas e indiretas, visando à construção de um Brasil mais socialmente justo, igualitário e democrático. Beleza! Eu concordo que o drama do preconceito racial deva ser combatido, mas isso não justifica a aura de silêncio nas escolas sobre a história, a simbologia e a personalidade de SãoFélix de Valois. Caberia, nos espaços das salas de aula, ensinar também sobre o padroeiro.

Repito: concordo com as ações de uma educação antirracista. Mas não sou obrigado nem acredito que as escolas devam ser obrigadas a reproduzir qualquer discurso panfletário da esquerda política e autoritária. Autoritária porque rotula todos que pensam diferentemente dela de racistas. Uma canalhice intelectual e antidemocrática que infelizmente amedronta muita gente.

Em segundo lugar, entendo que há pessoas que vão justificar com o argumento de que o Estado é laico, no intuito de que as escolas não deem repercussão ou algum fomento aos valores em torno de quem foi “Valoá”. Geralmente, esse é o argumento mais usado por aqueles que promovem o preconceito e a intolerância religiosa aos cristãos. Contudo, se fosse um "padroeiro" de matriz africana, essas mesmas pessoas jamais evocariam o argumento da laicidade.

Por fim, é necessário que uma coisa não anule a outra. Deveria haver espaço para ambos nas escolas. Ou melhor, deveria haver espaço para esses três pontos: celebrar a consciência negra, dando voz às pessoas pretas de esquerda e de direita, respeitando suas diferenças, bem como garantir que os estudantes ao menos tenham noção da história da própria cidade. E, naturalmente, de seu padroeiro.

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