NACIONAL ENERGY

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

POEMA – Benção e maldição (Anderson Damasceno)


POEMA – Benção e maldição (Anderson Damasceno)  

A poesia está entre a benção e maldição.
É como cada um de nós estamos.
Por isso tanta gente se identifica nela.

Quando o leitor se depara com um feito-poema,
Com um toque poético traduzido pelo artista
Em palavras,
É a própria vida dele(s) sendo literada.

Se se escolhe a benção ou a maldição,
Via poesia,
Não é nada diferente do que quem nasce
E faz do seu dia verdade ou disfarce.
Quem usa o tempo pra investimento ou autodesgaste.

Talvez me julguem por de longe estar condenando a poesia da não-comiseração.
Não condeno a poesia da frescura, do fútil ou do ódio.
Sobretudo do fútil...
Leio Manuel de Barros e se há algo mais necessário,
No mundo hodierno,
Que a desnecessidade do despropósito,
Eu desconheço.
O mundo passa bem como a sua concupiscência,
Eis a maldição do desejo vão.  

O que quero dizer então?
É só questão de ler o tempo.

Quisera eu ter explicado tudo nessa resposta.
E enquanto escrevo já me vem à mente aqueles que,
Vão,
Me desmerecer por usar a poesia pra explicar.
Entãaaao!
É dessa maldição que tô falando.
E só comete o preconceito quem não sabe ler o tempo.

Ler o tempo é como ler as almas.
No universo não há mistérios, exceto aqueles que a mente humana cria.
Portanto, eita ódio que deva dar um “portanto” num poema.
Pensando agora acho que nunca vi.

Nessa altura, acho que só continuou a ler quem espera explicação também...
Explicação para como se ler o tempo.
Ou ainda mais explicação para quem defende a ausência de mistérios.

A poesia será mais bem sabida
Por parte de quem ler o tempo
A fim de evitar a maldição poética.
A mesma maldição que tira dos versos a humanidade
A mesma maldição que tira dos versos a sensibilidade
A mesma maldição que tira dos versos a almanidade.

Ler o tempo é saber ler almas pra não amaldiçoar pela poesia.
Tá saindo muita coisa tóxica ultimamente,
E de gente,
Gente que outorgou pra si a arma da poesia.
Que tiro nada eficaz!
Deixemos a bala ser bala.
E a cara que ela vara seja...
A cara de quem amaldiçoar deseja.

Mas isso também é ódio.
Não!
Isso é a poesia do ódio, diferentemente da poesia da maldição.

Vamos às almas!
Quem as ler saberá melhor discernir o tempo.
Pois só foi-me dada a consciência do tempo pela alma de alguém.
É assim que andamos, e vivemos, e nos movemos, e existimos.

Houve o tempo parado,
O tempo do não saber,
O tempo da angústia velha de criança.
Quando alguém começou a me dar as horas
Foi aí que acendeu minha alma.
E comecei a transcorrer a sensação da existência
Pelas horas que me deram.
E comecei a sentir meu lugar no espaço
Pelas horas que me deram.
E comecei a não sentir o tempo parado
Pelas horas que me deram.
O tempo parado,
Como era antes de quando a existência houvera.

Isso não é louvor da ignorância.
Esses versos são só adágios da inocência.
Da consciência da alma abandonada
E que ninguém quer mais ler.
Que revela a ausência de mistérios
Quando se recorda da alma que se deixou de ser.
E amplia nossa leitura das poesias,
Até mesmo das de malquerer.

Ler o tempo é como ler as almas
Que hoje estão presas noutras formas de viver o tempo,
Almas que não dizem mais porque só vivem de lamentos,
Almas emudecidas sendo as próprias autoras do sofrimento,
Almas delinquidas por quem pratica a poesia do maldiçoamento,
Almas feridas por todas as vias em que se entra qualquer tipo de tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário