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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

UEMA 2019 - Questões selecionadas da obra "Libertinagem", de Manuel Bandeira



















LITERATURA
Anderson Damasceno
UEMA 2019

MANUEL BANDEIRA – LIBERTINAGEM
Atividades 1
1. TEXTO I
Irene no céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
BANDEIRA, M. Libertinagem.
TEXTO II
Bach no céu
Para Manuel Bandeira
Imagino Johann Sebastian Bach entrando no céu:
– Com licença, São Pedro?
– Faz favor, João. Só não repare a bagunça.
VILLAÇA, Alcides. Ondas curtas. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
Dada a explícita relação intertextual entre Bach no céu e Irene no céu, é possível inferir que
A) Bach no céu, por ser um poema dedicado a um grande compositor, se opõe frontalmente ao primeiro poema, dedicado a uma mulher simples.
B) a linguagem, no poema de Villaça, é formal porque ele retrata um grande compositor.
C) inexiste afetividade em Bach no céu, pois o sujeito lírico não conheceu Bach pessoalmente.
D) a admiração do sujeito lírico por Bach não é, na visão dele, compartilhada por São Pedro.
E) Bach no céu homenageia, ao mesmo tempo, Johann Sebastian Bach e Manuel Bandeira.

2. Evocação do Recife
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros 
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser
A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica.
B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
E) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

3.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava
no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
afogado.
BANDEIRA, M. Libertinagem.
Acerca do Poema tirado de uma notícia de jornal, podemos inferir que
A) adotando o princípio modernista de que a arte deve ater-se ao cotidiano simples, banal, o poema focaliza um episódio corriqueiro relativo a uma única pessoa.
B) a originalidade e o aspecto inovador do poema são expressos especialmente por meio do tom de prosa narrativa e pela síntese de linguagem que lembra o texto jornalístico.
C) partindo de certas premissas parnasiano-simbolistas, o poema discute de forma impessoal e universal questões inerentes à condição humana.
D) a organização estrutural dos versos, segundo os modelos clássicos de composição, revela a tendência parnasiana do autor.
E) a originalidade contida no título do poema denuncia a intenção de se registrar de modo sucinto, objetivo e impessoal uma notícia.

4. Leia atentamente o poema a seguir, de Manuel Bandeira.
Cunhantã
Vinha do Pará.
Chamava Siquê.
Quatro anos. Escurinha. O riso gutural da raça.
Piá branca nenhuma corria mais do que ela.
Tinha uma cicatriz no meio da testa:
— Que foi isto, Siquê?
Com voz de detrás da garganta, a boquinha tuíra:
— Minha mãe (a madrasta) estava costurando
Disse vai ver se tem fogo
Eu soprei eu soprei eu soprei não vi fogo
Aí ela se levantou e esfregou com minha cabeça na brasa.
Riu, riu, riu
Uêrêquitáua.
O ventilador era a coisa que roda.
Quando se machucava, dizia: Ai Zizus!
(Em Libertinagem, 1930.)
Com base no que foi lido, o poema sofreria críticas se
A) revelasse a busca de incorporar ao português literário do Brasil a língua indígena, por meio do uso de termos originários do tupi, como “cunhantã”, “piá”, “tuíra” e “uêrêquitáua”.
B) de acordo com a norma culta da língua portuguesa, o poema apresenta diversos erros. Nas falas de Siquê, observa-se a ausência de pontuação (“Eu soprei eu soprei eu soprei”) e a corruptela no nome de Jesus (“Zizus”); no discurso do eu lírico, encontra-se “Chamava Siquê”, forma popular que substitui o padrão “chamava-se”.
C) das características mais evidentes do Modernismo, encontram-se, nesse poema, o uso do verso livre, a linguagem coloquial, o elogio do popular e a ironia.
D) o significado do poema constrói-se por meio da contraposição da alegria e da ingenuidade de Siquê à maldade revelada por sua madrasta.
E) revelasse certo preconceito racial, pois Siquê, “escurinha”, é vista como sendo inferior às meninas brancas, devido à sua ingenuidade e dificuldade de expressão.

Atividades 2
1. TEXTO I
VOU ME EMBORA
Mario de Andrade
(Fragmento)
Vou-me embora, vou-me embora
Vou-me embora pra Belém
Vou colher cravos e rosas
Volto a semana que vem
(...)
Vou-me embora paz na terra
Paz na terra repartida
Uns têm terra, muita terra
Outros nem pra uma dormida
Não tenho onde cair morto
Fiz gorar a inteligência
Vou reentrar no meu povo
Reprincipiar minha ciência
(...)

TEXTO II
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira
(Fragmento)
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
(...)
BANDEIRA, M. Libertinagem.
Expressões e palavras assumem diferentes significados dependendo do contexto em que estão sendo utilizadas. A expressão “Vou-me embora” assume, nos textos I e II, os seguintes sentidos de busca, respectivamente,
A) da independência financeira e da liberdade condicional.
B) da expressão nacionalista e do paraíso perdido.
C) do conhecimento da pátria e da independência financeira.
D) do conhecimento do povo e da liberdade de expressão linguística.
E) da felicidade e do conhecimento da cultura popular.

2. Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
a vida inteira que podia ter sido e que não foi
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
– Diga trinta e três.
– Trinta e três ... trinta e três ... trinta e três ...
– Respire.
..........................................................................
– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
e o pulmão direito infiltrado.
– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
BANDEIRA, M. Libertinagem.
É marcante, na estrutura do poema, o(a)
A) tom dialogal por meio do uso do discurso direto.
B) tom naturalista em “tosse, tosse, tosse”.
C) marca caricatural com termos médicos.
D) estilo sincopado com versos rimados.
E) estilo lacônico do autor pelas marcas formais parnasianas.

3. Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
BANDEIRA, M. Consoada. Libertinagem. Porto Alegre: L&PM, 2012. p. 133.
Sobre esses versos de Manuel Bandeira, é possível observar que eles
A) mostram uma dissociação entre a realidade concreta e a presumível.
B) sintetizam o mascaramento da angústia como solução diante do inevitável.
C) revelam a instabilidade do sujeito poético diante da transitoriedade da vida.
D) tematizam, metafórica e eufemisticamente, a morte, que é aceita, embora não desejável.
E) refletem a desilusão diante de um viver sem sentido, devido ao mal sem cura que o acometeu.

4. O cacto
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da
estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste, carnaubais,
caatingas…
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades
excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e
quatro horas privou a cidade de iluminação e energia:
— Era belo, áspero, intratável.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Rio de Janeiro: Cia. José Aguilar, 1967.
No poema de Manuel Bandeira, pode-se interpretar que a narração de um fato que interfere no cotidiano de um local remete à
A) eficácia de ações que usam a natureza como instrumento de intervenção artística.
B) dureza de realidades marginais que impactam temporariamente estruturas sociais.
C) retomada de referências clássicas na composição do cenário urbano moderno.
D) relação de independência existente entre os meios natural e artificial.
E) força de desastres naturais que vitimam vidas humanas inocentes.

5. TEXTO I
Belo belo
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
[…]
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Companhia José Aguilar. Editora: Rio de Janeiro, 1974.
TEXTO II
Bandeira
[…]
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
[…]
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)
BALEIRO, Zeca. Por onde andará Stephen Fry? Intérprete: Zeca Baleiro.
MZA/Universal. 1997. 1 CD.
A canção de Zeca Baleiro apresenta uma relação de intertextualidade com o poema “Belo belo”, de Manuel
Bandeira. Entre os elementos que marcam explicitamente essa relação no texto II estão o(a)
A) uso da primeira pessoa e a referência a um interlocutor.
B) título e a predominância de orações com o verbo querer.
C) repetição de estruturas sintáticas e o uso de neologismos.
D) frase “vida vida, noves fora zero” e a alusão a figuras femininas.
E) reiteração de negativas e prevalência da função apelativa da linguagem.

6. Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos
universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de
exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do
amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às
mulheres etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é
libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Pode-se asseverar que os tipos humanos citados (loucos, bêbados, clowns) possuem o seguinte denominador comum:
A) representam os segmentos sociais mais perseguidos na época, e isso fazia com que o eu poético se manifestasse a favor deles.
B) simbolizam os poetas marginais da época, e isso fazia com que houvesse uma identificação entre o eu lírico e os citados.
C) pertencem, de uma ou outra maneira, a uma classe social inferior, menosprezada e discriminada, e, por isso, o eu poético quer ser solidário a eles.
D) desempenham papéis de transgressores, daqueles que quebram as regras sociais e/ou a seriedade da vida, daí o eu poético identificar-se com essas figuras.
E) defendem, de certa maneira, ideologias incompatíveis com qualquer sociedade humana, daí o eu lírico simpatizar com eles.

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