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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

UEMA 2019 - Análise da obra "Verão no Aquário", romance de Lygia Fagundes Telles



























LITERATURA
Anderson Damasceno
UEMA 2019
Prosa contemporânea
                A prosa intimista, com raízes em Clarice Lispector, volta-se para a solidão, a solitude e os dramas pessoais. Autran Dourado, Osman Lins e Lygia Fagundes Telles são os nomes que se destacam nessa vertente.
                Lygia Fagundes Telles estreou no cenário brasileiro com a publicação de Porão e sobrado, contos de 1938. Em 1944, lançou Praia viva, e depois Cacto vermelho (1949). Porém, essas obras, segundo a autora, são livros mortos. “Eu não quero que os jovens percam tempo com eles. Quero que conheçam o melhor de mim mesma, o melhor que eu pude fazer, dentro de minhas possibilidades. (...) Não há mais tempo, entende? Num país como esse, onde ninguém lê nada, ficar lendo coisas da juventude, as juvenilidades de um escritor, é perca de tempo!”, afirmou Lygia em entrevista.
                Só com Ciranda de Pedra (1954), Telles atingiu a maturidade inventiva e o pleno domínio de sua identidade como ficcionista, abordando temas recorrentes como: a loucura, a solidão e os desencontros ocorridos na vida.
Portanto, é nesse cenário pessoal que nascem os livros: Verão no aquário (1963), As meninas (1973), A noite escura e mais eu (1995) e Um coração ardente (2012). Desde sua estreia, a ficcionista mostrou predileção pelo conto, que considera uma “forma arrebatadora de sedução”.
Nos textos de Lygia Fagundes Telles temporalidade e atemporalidade permutam-se, intercambiam-se num jogo que mescla fragmentos do passado com o presente, sobre o futuro sempre lembrado da inexorabilidade da morte e de seus mistérios. Ultrapassando o apertado círculo de uma realidade reconhecível e datável, a ficção de Lygia insere-se no domínio do mítico, e percebemos em sua narrativa os anseios, as frustações, os temores e as esperanças assaltam a mente do homem, tudo expressado pela tessitura enigmática da linguagem simbólica. O paraíso e a queda, a morte e a ressurreição, todas as grandes antíteses e contradições da alma humana tomam forma nas tramas criadas. Sua obra apresenta homogeneidade, seu mundo poético é bastante nítido.   

A caçada (Lygia Fagundes Telles)
A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou vôo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.
- Bonita imagem - disse ele.
A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no cabelo.
- É um São Francisco.
Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.
- Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso... Pena que esteja nesse estado.
O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.
- Parece que hoje está mais nítida...
- Nítida? - repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída. - Nítida, como?
- As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?
A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.
- Não passei nada, imagine... Por que o senhor pergunta?
- Notei uma diferença.
- Não, não passei nada, essa tapeçaria não aguenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho que é a poeira que está sustentando o tecido - acrescentou, tirando novamente o grampo da cabeça. Rodou-o entre os dedos com ar pensativo. Teve um muxoxo: - Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estava por demais estragado, que era difícil encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto...
Preguei aí na parede e aí ficou. Mas já faz anos isso. E o tal moço nunca mais me apareceu.
- Extraordinário...
A velha não sabia agora se o homem se referia à tapeçaria ou ao caso que acabara de lhe contar. Encolheu os ombros. Voltou a limpar as unhas com o grampo.
                [...]

A formação intimista feminina em Verão no Aquário, de Lygia Fagundes Telles
No texto intitulado “Mulher, mulheres”, Lygia Fagundes Telles desenvolve sua opinião acerca do que chama de revolução das mulheres e não propriamente uma revolução do movimento feminista. Sua abordagem se refere em larga medida às mudanças sociais. Quase no final do texto, ela define a “Revolução da Mulher”:
[...] A difícil Revolução da Mulher sem agressividade, ela que foi tão agredida. Uma revolução sem imitar a linha machista na ansiosa vontade de afirmação e de poder mas uma luta com maior generosidade, digamos. Respeitando a si mesma e nesse respeito, o respeito pelo próximo, o que quer dizer amor. (TELLES: 2002, p. 59)
Mas, quando perguntada se ela diferencia a literatura escrita por mulheres da escrita por homens, sua resposta surpreende: [...] Sim, a ficção feminina tem características próprias, é mais intimista, mais confessional, a mulher está podendo se revelar. Se buscar e se definir, o que a faz adotar um estilo bastante subjetivo, aparentemente narcisista: ela precisa falar de si mesma. No meu romance As meninas, há a frase uma personagem que aborda a situação: “antes eram os homens que diziam como nós éramos. Agora, somos nós”. Agora, quanto a uma propalada divisão de águas no sentido de separar especialmente a literatura feminina da masculina, penso que esta divisão não existe. Há livros de mulheres que são livros bons e livros que são ruins, exatamente como acontece com os livros dos homens. A única divisão seria o sentido da qualidade. O sexo é como o sexo dos anjos não interessa.
                Mesmo com tais exposições um tanto contraditórias, a autora valeu-se do universo feminino e suas complicações para compor romances e contos. Entre os seus quatro romances, é em Verão no aquário que a autora ousa em sua escrita, mas não chega a subverter os preceitos do romance de formação. Suas soluções artísticas para narrar a história de uma jovem mulher em um período formativo vêm alargar a compreensão do gênero feminino.

A crítica literária
                Para Alfredo Bosi, importante crítico da literatura brasileira, os contos de Lygia F. Telles podem ser definidos como “prosa psicologizante [...] empostada nos ritmos da observação e da memória” (BOSI: 2006, p.393). De acordo com sua percepção, Telles escreve “romances de tensão interiorizada” onde “O herói não se dispõe a enfrentar a antinomia eu/mundo pela ação: evade-se, subjetivando o conflito.” (BOSI: 2006, p.392).
Outros críticos consideram que o detalhe, entre realista e “literário”, entre o documental e o imaginário, é o seu forte, permitindo-lhe a notação intimista de acentos simbólicos e, não raro, fantásticos.

Personagens femininas
No primeiro romance, Ciranda de Pedra, a personagem Virgínia passa por um processo evolutivo natural, começa criança e termina o texto uma jovem adulta. Todo o seu percurso é marcado por descobertas
que vão construindo sua personalidade. O segundo, Verão no aquário, tem como protagonista a jovem Raíza que tenta definir-se em um estágio de autocompreensão. No terceiro romance, As meninas, existem três protagonistas que dividem a narrativa determinadas a encontrar um fim justificável para suas vidas. O quarto, e até então, último romance, As horas nuas, tem como personagem principal uma atriz decadente que, em uma idade mais avançada, tenta inserir-se no mundo de onde é constantemente despejada. Todas essas mulheres, independente de sua
faixa etária, buscam a si mesmas e passam por processos distintos de aprendizagem. Essa construção do próprio eu por que passam as personagens protagonistas de Lygia Fagundes Telles torna a sua narrativa muito próxima do gênero romance de formação. As mulheres dessas obras estão sempre em busca de montar o seu próprio mosaico identitário.

Raíza
A história, narrada em primeira pessoa pela protagonista, tem como foco um período específico da vida de Raíza. O tempo diegético compreende um curto momento pelo qual a adolescente passa: uma estação, ou mais precisamente, um verão, acrescido de inúmeras
analepses. A ação se passa em sua maior parte no interior da casa em que Raíza vive com sua mãe, sua tia, uma empregada e sua prima, esta, esporadicamente. A complexidade do enredo está centrada no conflito gerado pelo processo de transformação pelo qual Raíza está passando.
No caso de Verão no aquário, a formação da protagonista Raíza passa por conflitos de gênero e sua independência reflete em parte as questões que estavam sendo vivenciadas naquele momento. O ano em que o romance estava sendo lançado (1963) coincide com um forte momento de mobilização social. A revolução feminista da década de sessenta, em prol dos direitos da mulher, trouxe consigo uma nova maneira de pensar a posição da mulher dentro da sociedade. Mais uma vez, esse aspecto social teve repercussão na literatura. O romance de Lygia Fagundes
Telles traz em sua trama elementos que pautaram essas discussões propostas pelo movimento contracultural. No texto são abordados assuntos como a liberação sexual da mulher (as personagens mais jovens possuem vários parceiros), o uso de drogas e a independência social do sexo feminino frente ao masculino.
Ocorre também uma concentração na fase de transição final: Raíza está passando de sua adolescência para a idade adulta. Ela está assumindo responsabilidades, apaziguando-se emocionalmente e reatando os laços de afetividade com a mãe. Podemos verificar que a protagonista manifesta um conturbado envolvimento com novas responsabilidades que possam torná-la independente e segura de si. Ela retoma algumas traduções, que faz junto com sua prima, e tenta
reiniciar sua carreira frente ao piano, senão como artista, ao menos como professora de música.
O relacionamento com a mãe é um importante propulsor para o amadurecimento de Raíza. No relato da protagonista, percebemos que a figura da mãe desde a infância se antepôs à dela. Isso, é claro, partindo do ponto de vista da filha. A mãe, Patrícia, é exposta como uma mulher independente, com temperamento altivo e um tanto desinteressada dos assuntos alheios. Em muitas passagens do livro, Raíza corrobora essa personalidade:
[...] Agora podia ouvir o ruído da máquina, mamãe estava escrevendo, André ainda não tinha chegado para o chá. [...] Seria concebível uma amizade assim branca? Dentro de alguns anos ela já estaria velha. Teria tido forças para resistir àquele jovem esbraseado e ainda por cima, casto?! Casto. .. Está claro que já se amavam como
loucos, os hipócritas. Ela, principalmente, tão distinta, tão correta. E tão devassa. (TELLES: 2010, p. 14)

[...] Acendi um cigarro e fiquei ouvindo o ruído da máquina de escrever, um ruído acobertado lá no fundo
como uma conspiração. Minha mãe. [.. .] o importante era que ela escrevesse seus livros. [.. .] Ela não queria saber de nada. Ou melhor , queria saber mas era como se não tivesse sabido. Ouvia. Calava. E muito tesa e muito limpa, sentava-se diante da máquina, punha os óculos e começava a escrever. [...] Que importância meu pai ou eu podíamos ter? [...] que importância, não, mamãezinha? Se ao menos tivéssemos sabido aprender as lições admiráveis de seus livros [...] (TELLES: 1973, p. 67-68).
Em outros momentos, a descrição de Raíza demonstra certa admiração – evidentemente velada – pela mãe: [...] Um raio de luz batia em seus cabelos dando-lhes um
brilho quente. Podia tingi -los. Mas preferia deixá-los assim, docemente castanho-grisalhos , penteados para trás. O perfume discreto. O discreto colorido da boca. E os olhos largos e luminosos, irradiando uma luz que a envolvia como uma aura. Era jovem mas não era mais jovem. Estava vestida para sair mas não ia sair. (TELLES: 1973, p. 68-69)
[...] Fiquei sorrindo e pensando em minha mãe. Tão deusa, tão inacessível, as vinte mil léguas submarinas longe daquela vulgaridade que se pintava diante de mim. E o mesmo triste lado humano na sede de mocidade, o mais velho sempre sugando o mais jovem na ânsia de alguns anos mais... (TELLES: 2010, p.89)
[...] Pensei em minha mãe. Lá devia estar ela na sua sala, tão bem penteada, tão bem composta que parecia recear algum fotógrafo invisível, pronto para o flagrante do descuido, caso ela se descuidasse. (TELLES: 2010, p. 147)

Atividades 1
1. Aquela gente teria mesmo existido? Madrinha tecendo a cortina de crochê com um anjinho a esvoaçar por entre rosas, a pobre Madrinha sempre afobada, piscando os olhinhos estrábicos, vocês não viram onde deixei meus óculos? A preta Dionísia a bater as claras de ovos em ponto de neve, a voz ácida contrastando com a doçura dos cremes, esta receita é nova... Tia Olívia enfastiada e lânguida, abanando-se com uma ventarola chinesa, a voz pesada indo e vindo ao embalo da rede, fico exausta no calor... Marcelo muito louro – por que não me lembro da voz dele? – agarrado à crina do cavalo, agarrado à cabeleira de tia Olívia, os dois tombando lividamente azuis sobre o divã. Você levou as velas à tia Olívia?, perguntou Madrinha lá embaixo. O relâmpago apagou-se. E no escuro que se fez, veio como resposta o ruído das cerejas se despencando no chão.
Disponível em: http://leiadevez.blogspot.com/2010/08/lygia-fagundes-telles.html.
Acesso em: 27 set. 2018.
O registro das percepções emocionais é algo comum na obra de Lygia Fagundes Telles. No fragmento, a narradora enfatiza o(a)
A) estabelecimento de vasos comunicantes com as lembranças por meio do fluxo da memória.
B) preocupação com a descrição minuciosa da receita da preta Dionísia.
C) dificuldade de integração da Madrinha ao ambiente aristocrático e patriarcal do casarão.
D) poder dos fenômenos naturais na construção das cenas.
E) sentimento de felicidade e o clima de harmonia entre as personagens.

2. As obras de DaIton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lispector e  Lygia Fagundes Telles atestam o fato de que:
A) a linguagem e a visão de mundo dos modernistas da primeira geração constituem fonte de inspiração.
B) a poesia de caráter social e reivindicatória tem caracterizado a criação literária destes autores.
C) há um estilo muito semelhante, com traços de Neorromantismo, dominam a criação literária contemporânea.
D) o conto, de tendências diversas (denúncia social, intimista, especulação da existência) tem sido constante da atual produção.
E) os romances politicamente comprometidos, neonaturalistas, de denúncias das mazelas sociais constituem o aspecto mais importante da geração de 30.

Texto para as questões 3 a 5.
Era a primeira vez que eu pisava naquele lugar. Nas minhas andanças pelas redondezas, jamais fora além do vale. Mas nesse dia, sem nenhum cansaço, transpus a colina e cheguei ao campo. Que calma! E que desolação. Tudo aquilo – disso estava bem certa – era completamente inédito pra mim. Mas por que então o quadro se identificava, em todas as minúcias, a uma imagem semelhante lá nas profundezas da minha memória? Voltei-me para o bosque que se estendia à minha direita. Esse bosque eu também já conhecera com sua folhagem cor de brasa dentro de uma névoa dourada. “Já vi tudo isto, já vi... Mas onde? E quando?”
Fui andando em direção aos penhascos. Atravessei o campo. E cheguei à boca do abismo cavado entre as pedras. Um vapor denso subia como um hálito daquela garganta de cujo fundo insondável vinha um remotíssimo som de água corrente. Aquele som eu também conhecia. Fechei os olhos. “Mas se nunca estive aqui! Sonhei, foi isso? Percorri em sonho estes lugares e agora os encontro palpáveis, reais? Por uma dessas extraordinárias coincidências teria eu antecipado aquele passeio enquanto dormia?”
Sacudi a cabeça, não, a lembrança – tão antiga quanto viva – escapava da inconsciência de um simples sonho.
Lygia Fagundes Telles, in "Oito contos de amor"

3. A frase “Já vi tudo isso, já vi... Mas onde?” O uso das reticências sugere:
A) Impaciência.
B) Impossibilidade.
C) Incerteza.
D) Irritação.
E) Inquietação.

4. Podemos inferir que o trecho enquadra-se como sendo:
A) Descritivo.
B) Narrativo.
C) Científico.
D) Dissertativo.
E) Jornalístico.

5. “O Sol espiava atrás de uma nuvem...” Neste trecho a autora faz uso de uma figura de linguagem muito comum nos textos descritivos. Trata-se de uma
A) Hipérbato.
B) Assonância.
C) Metáfora.
D) Catacrese.
E) Prosopopeia.

Atividades 2
Texto para as questões 1 a 4.
Que se chama solidão
Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor.
Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas.
— Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês?
Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. (...)
— Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo. Agora já sei.
TELLES, Lygia Fagundes. Invenção e memória.
1. De acordo com o texto, entende-se que o chão da infância da narradora é marcado:
A) pela incômoda viuvez da tia.
B) pela ausência do pai.
C) pelo convívio com família e pajens.
D) pelo medo da escravidão.
E) pela indiferença das pajens.

2. Entende-se que a relação da narradora com a pajem baseia-se:
A) na tolerância entre elas, embora a narradora quase não consiga conter sua raiva com os descasos da pajem.
B) na tensão entre elas, embora a pajem deva respeito à narradora, pois tem uma relação profissional com a família.
C) na indiferença entre elas, pois tanto a narradora deixa de responder como a pajem deixa de atender-lhe o pedido.
D) na rivalidade entre elas, fato que se comprova pela agressividade da pajem que sonhava estar no lugar da narradora.
E) na proximidade entre elas, pois a pajem, por exemplo, externa seus sentimentos de desagrado, quando se vê incomodada por algo.

3. Na resposta enfurecida da pajem à narradora, repete-se a forma verbal "pensa": Essa resposta permite entender que ela:
A) não pretende mais cortar cana naquele momento.
B) se vê na obrigação de atender ao pedido.
C) está, na verdade, fazendo uma brincadeira.
D) não compreendeu ao certo o que lhe foi pedido.
E) se dispõe a atender ao pedido com prontidão.

4. O texto de Lygia Fagundes Telles apresenta marcas características do projeto literário da autora, ligado à ficção:
A) do realismo fantástico.
B) documentária urbano-social.
C) regionalista.
D) metafísica.
E) intimista e psicológica.

5. A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus anos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou voo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.
        — Bonita imagem — disse ele.
        A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no cabelo.
        — É um São Francisco.
        Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.
        — Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso… Pena que esteja nesse estado.
        O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.
        — Parece que hoje está mais nítida…
        — Nítida? — repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída. — Nítida, como?
        — As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?
        A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.
        — Não passei nada, imagine… Por que o senhor pergunta?
        — Notei uma diferença.
        — Não, não passei nada, essa tapeçaria não aguenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho que é a poeira que está sustentando o tecido acrescentou, tirando novamente o grampo da cabeça. Rodou-o entre os dedos com ar pensativo. Teve um muxoxo: — Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estava por demais estragado, que era difícil encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto… Preguei aí na parede e aí ficou. Mas já faz anos isso. E o tal moço nunca mais me apareceu.
A caçada, Lygia Fagundes Telles
O primeiro momento de tensão do conto é criado pelo narrador com a frase:
A) “Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja”.
B) “A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar.”
C). “O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.”
D) “Teve um muxoxo: — Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro.”
E) “Preguei aí na parede e aí ficou.”

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