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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

MASTIGANDO ÓDIO – Crônica (Anderson Damasceno)

MASTIGANDO ÓDIO – Crônica (Anderson Damasceno)


Naturalmente, surgiu. Hoje, durante algumas aulas que lecionei sobre linguagens, em mais de uma instituição, percebi dois comportamentos semelhantes. Um novo e um “velho”. Um em mim, outro nos alunos.


E, já que num tô fazendo nada, vim aqui escrever uma crônica enquanto saboreio um cachinho de uvas estado aqui do ladinho do meu note.


O do alunado já é sabido. Repetidas vezes, o professor dá uma paradinha na exposição da aula, faz uma pausa de silêncio durante a abordagem de um conceito ou exemplo mais complexo, ou ainda durante a resolução de questões. Isso, só pra ver se a galera que tá com conversinha paralela, com burburinho, com ruídos, se manca e volta para o propósito da aula.


Acredito que não apenas eu, mas todo professor que preza pelo estudo, e pelo encontro especial que o espaço da sala de aula nos permite, tem a paciência comedida, na dose certa, para relevar esse comportamento de parte dos “estudantes” ao ficarem dispersos do foco do ensino. Dose certa para não permitir o abuso, pois, conduta tolerada é conduta permitida, e conduta permitida é conduta ensinada. Só que hoje, em parte, minha reação mudou.


Nos momentos em que ocorreram esses contratempos, eu fiz o dito silêncio, só que minha linguagem cinestésica, corporal, foi a de ficar mastigando. Poderia até ser um pretexto para um cara fofinho como eu pensar em comida. Ato reflexo próprio dos gordinhos. Mas não era comida. Até que eu quereria! Contudo, reagi naqueles breves segundos mastigando, mas como quem rumina palavras na boca. O silêncio, o vácuo intelectivo, o vazio, ganhou forma na cavidade bucal.


O mais interessante era o que eu falava ao final desses momentos de silêncio, até que todos colaborassem com o clima do saber ou os próprios alunos repreendessem os desavisados, cobrando em certo sentido o silêncio sapiente, tão caro e necessário para o andar da maior parte da aula. Eu encerrava com um “Tô mastigando ódio!”, o que causava uma reação de riso na maioria do público estudante, partindo de mim primeiramente, é claro. Se eu não rir das minhas piadas sem graça, quem o fará?


Regularmente, adoto um estilo piadeiro. Anedotas ou sacadas que possam aludir ao conteúdo da aula e ajudar a colar na retina, pra não esquecer. Espero! Não sou do tipo que “perde o amigo, mas não perde a piada”. Mas, às vezes... Perco quase o emprego (rsrs). O que seria mui injusto, afinal, nunca faço uma piada, assim, para tamanhuda absurdidade.   


Agora, retornando à minha reação, o que seria?!!! É chiste? É toc? É fetiche? É solução para certas descargas psíquicas? É a corporificação do teatrinho anedótico, sabor que tanto prezo não só em aula? Enfim, não sei responder. E já que a Unifesspa em meio à crise (rsrs) formou sua primeira turma de psicologia, em Marabá, tá aí um prato cheio. Deixemos os amigos psicólogos responderem. Me julguem! Ops... É “Julguem-me!”.

2 comentários:

  1. Excelente lembrança no que tange o uso da ênclise, ao final do texto, mestre Anderson.
    Nos meses que estudei em uma das instituições que o senhor leciona, percebi que realmente há uma dedicação muito grande da parte do senhor para que o instruendo absorva o conteúdo ensinado. Contudo, percebi a resistência do aluno ao captar(Justificando meu caso, a "resistência" era intelectual haha). Mas realmente haviam muitos elementos que, quando não estavam simplesmente rasgando o dinheiro dos responsáveis financeiros, passavam a aula conversando e atrapalhando. Por diversas vezes a reflexão não era levada a sério, prejudicando, também, a evolução. Mas quem sou eu, somente com ensino médio completo e funcionário público "sem expressividade" para poder discorrer algo?
    A dicotomia impera no meu cerne intelectual e espiritual, uma vez que ao passo que minha parcela humana e impura torce para que o meu "concorrente" cague e ande para as aulas, culminando com uma nota menor que a minha no ENEM, enquanto o espírito santo roga para que eu ore e peça misericórdia a Deus por esses palermos indivíduos (respeitando o limite da humildade xD).

    Tenha uma semana abençoada, mestre!

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  2. É um dilema mesmo! E fico grato pelo apreço. Peço a Deus que te faça vencer nos novos desafios. Realmente, cada aluno tem que buscar a superação pessoal, mas, quando se é cristão, a gente sempre quer que as pessoas em nosso redor também melhorem e vençam os desafios. Abraço!

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