Para se observar as camadas da mentira existe uma questão elementar e inevitável. A mentira. Que ela aconteça!
É importante que o erro a ser escondido,
que não é escondido de todos, já tenha sido cometido. É necessário que a
vergonha que pode ser causada já tenha motivo consumado. Só é possível quando a
dor que pode ser sentida já tenha se tornado sentida imaginosamente: contando
com os atores que não podem saber da verdade sabendo-a. É crucial que o pecado,
o delito em alguma escala da vilania, tome corpo, matéria e forma.
Vencida essa etapa, podemos, então,
identificar a geologia da mentira, as eras em que ela se instala. Podemos localizar
todas as camadas que o tronco do mal conseguiu arvorar, vasificando sua seiva
bruta. Quem sabem possamos discernir, inda que por espelhos, alguma nítida luz,
atravessando as brechas do inexplicável natural.
Há
a camada do querer falar a verdade. Há a camada do seguir mentindo para si. Há
a camada do acreditar que é melhor mentir para os outros. E, por fim, há a
camada de fora, isto é, a não-camada, a liberdade, definida enquanto a retirância
de cima de si de todo o julgo-que-não-é-suave e do fardo-que-não-é-leve.
Na camada do querer falar a verdade, você
está diante da pessoa sobre quem e a quem você acredita ser melhor mentir. A
verdade caminha até tua mente, pula nos teus olhos e ganha feições nos traços
da tua face, porém, ela enreda-se pela língua e salta fisicamente em ondas "amorais", sonorando
a falsidade. Leve, indolor e conforme o script.
Na camada do seguir mentindo pra si...
Nunca conhecemos sua fundura n´alma. Seria a resposta mais simples e honesta.
Não sabemos o quanto desse poço em secura pode
prejudicar. A si e aos outros. Mas, sigamos com o a si. Sequer imaginamos que
seja um abismo chamando outro abismo. É nessa camada que a verdade permanece desconhecida
de nós mesmos. Nós nos tornamos desconhecedores de quem somos perante nosso próprio
espelho interior.
E, na camada mais covarde da mentira,
nela, habita o mal. Nela, a crença que apaga qualquer sentido da vida do outro
em nós. Anula e desumaniza. Apaga o Espírito Santo e nos descristianiza. Nela, o
senso de toda uma existência dual alquimiza-se em vazio. Isso nos faz
questionar de que matéria é construída a dura camada, que dá corpo, que constrói
– destruindo-nos – a camada do seguir crendo que mentir às outras pessoas é melhor.
Por fim, há a que devia só haver. Há a em que
muitos vivem sem ha(v)er.
Há a camada que, por ora, e por anais, muita gente questiona, filosofa, discrepa...
O lado de fora.
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