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domingo, 20 de fevereiro de 2022

POEMA – Olhos de bloguerinha

POEMA – Olhos de bloguerinha (Anderson Damasceno)


 

E durante a noite nascem os monstros,

assim que a razão se deita:

do sono da razão

vivem

os mistérios,

as lanças que sangram,

as espadas que se partem,

os graais.

 

Jacques Roubaud


 

Puxado pelos olhos da noite...

Fui.

A noite (en)canta e tem pele de negra,

Está vestida no branco da lua,

E guarda na casa do Pai uma oração.

 

A oração me diz que a Graça há de nascer.

Será filha de si,

Herdando todas as marcas,

Toda a bagagem,

Todas as horas de vida da noite.

 

Meu braço está parado por um click.

É uma selfie que aparece

Depois de um abismo de tempo entra a noite e eu.

Vivendo-se coisas parecidas, azeitadas pelas tantas feridas,

Coisas como a dor, a partida e o fim.

 

“Oh cavaleiro das armas escuras,

Aonde vais pelas trevas impuras,

Com a espada sanguenta na mão?”

Eu vou para os lábios dormentes, um caminho

Menos inconsequente, que verte fogo do meu coração.

 

Mesmo sem sorrisos,

As máscaras da noite e da minha prisão não escondem o desejo:

O de alguém acreditar que ainda há belezas ditas com os olhos,

E que mesmo entre esses trancados ferrolhos:

Máscaras de pandemia... Eles quiseram ficar lado a lado.

 

Deve haver mais chama queimando num instante trocado,

Entra a noite e meu eu puxado,

Incalculável à nossa vã filosofia.

A prisão, se de amor ou de instante, não se apaga

Com um espumante, que atravessa as margens do coração.

 

Temo todos os dias...

O dia em que a noite não quererá me dar seu olhar.

Por essa cegueira,

Soldado em plena trincheira,

Haverá de morrer sem lutar?

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