Ser povo, da forma mais
simples que quero passar aqui, é ser aquela grande e maior parcela da sociedade
brasileira que paga caro por tudo. Energia, aluguel, feira, farmácia, impostos,
parcelas no crediário... É você e sou eu. Pessoas que para conseguir um mil
reais, livre, disponível pra se fazer um investimento, precisa ralar muito. Meses.
Isso é tão ralado que, nem
assusta mais, saber que as pessoas – do povo – pagam caro por um estilo de vida
que parece Deus, mas não o é. Com Deus não se tem uma vida de eterno escravo da
miséria e da necessidade.
Chega a ser tão árduo que se
gasta tanto esforço até juntar mil reais, a ponto de não sobrar mais vontade de
tentar aquilo que se pretendia. “Será que valeu a pena?” Parece até que as
forças que você tinha, e que te faziam pensar no seu objetivo, já não sobram
mais. Secaram! A bateria do cérebro se descarregou nos músculos do trabalho
diário.
Parece radical resumir o conceito
de “ser povo” ao de “ter” pouco dinheiro. Há quem acha isso um fatalismo
anti-capitalista. Outros, pensam que é pobreza de espírito democrático. Ou, no
mínimo, que falar disso não é novidade nenhuma. Se não é novidade, então é o
que? Respondo, é obviedade! E é exatamente aí, nessa obviedade que faz o povo
ser povo em sua forma mais simples, que precisamos pegar o que sobrou de força
pra nos pensarmos sendo um povo diferente.
Diferente, ok? Tipo, basta
mudar suas obviedades. Está tão claro que se precisa mudar o que está tão
claro.
Tenho começado a duvidar de
tudo que é óbvio demais, porque, pelo que vejo, hoje em dia, afirmar que algo é
óbvio se tornou praticamente atestado de que a vida tem que ser do jeito que
ela é. Tipo, ontem e daqui a dez anos, pagar seis parcelas de cinqüenta reais
no crediário é uma foto do meu hoje.
Não que tenha medo da
obviedade de saber que eu sou povo. Esse povo que rala, que paga caro e não
arruma mil reais fácil. Facilmente! E que nem arruma “dificilmente”. Inda que
eu seja, e pertença financeiramente à parte da sociedade brasileira que tem
pouco dinheiro, meu medo é admitir que a vida de povo só pode ser assim. Sempre
uma dureza.
O que é óbvio só me
atormenta mais porque caí também nessa mesmice de vida. E de que só posso ser
povo assim, sempre no óbvio, no ter pouco dinheiro. Encarar a vida com esse
atestado de que não há novidade, definitivamente, prova que algo precisa ser
explodido. E o algo aqui não é a vida, mas o atestado de ser povinho do jeito
que todo mundo está.
De certa forma meu cansaço
está indescansável. Estou asfixiado
de ser esse povo que só paga caro, e não tem sua casa própria, não consegue
pagar conta de hospital... Até tem medo de ir ao hospital particular por causa
da conta, do preço que a consulta é lá. Bem como prefere continuar doente a ir
ao hospital público, pois, pelos menos doente, ainda dá pra viver mais um
pouquinho.
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