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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ser povo neste "seu meu" Brasil



Ser povo, da forma mais simples que quero passar aqui, é ser aquela grande e maior parcela da sociedade brasileira que paga caro por tudo. Energia, aluguel, feira, farmácia, impostos, parcelas no crediário... É você e sou eu. Pessoas que para conseguir um mil reais, livre, disponível pra se fazer um investimento, precisa ralar muito. Meses.
Isso é tão ralado que, nem assusta mais, saber que as pessoas – do povo – pagam caro por um estilo de vida que parece Deus, mas não o é. Com Deus não se tem uma vida de eterno escravo da miséria e da necessidade.
Chega a ser tão árduo que se gasta tanto esforço até juntar mil reais, a ponto de não sobrar mais vontade de tentar aquilo que se pretendia. “Será que valeu a pena?” Parece até que as forças que você tinha, e que te faziam pensar no seu objetivo, já não sobram mais. Secaram! A bateria do cérebro se descarregou nos músculos do trabalho diário.
Parece radical resumir o conceito de “ser povo” ao de “ter” pouco dinheiro. Há quem acha isso um fatalismo anti-capitalista. Outros, pensam que é pobreza de espírito democrático. Ou, no mínimo, que falar disso não é novidade nenhuma. Se não é novidade, então é o que? Respondo, é obviedade! E é exatamente aí, nessa obviedade que faz o povo ser povo em sua forma mais simples, que precisamos pegar o que sobrou de força pra nos pensarmos sendo um povo diferente.
Diferente, ok? Tipo, basta mudar suas obviedades. Está tão claro que se precisa mudar o que está tão claro.
Tenho começado a duvidar de tudo que é óbvio demais, porque, pelo que vejo, hoje em dia, afirmar que algo é óbvio se tornou praticamente atestado de que a vida tem que ser do jeito que ela é. Tipo, ontem e daqui a dez anos, pagar seis parcelas de cinqüenta reais no crediário é uma foto do meu hoje.
Não que tenha medo da obviedade de saber que eu sou povo. Esse povo que rala, que paga caro e não arruma mil reais fácil. Facilmente! E que nem arruma “dificilmente”. Inda que eu seja, e pertença financeiramente à parte da sociedade brasileira que tem pouco dinheiro, meu medo é admitir que a vida de povo só pode ser assim. Sempre uma dureza.
O que é óbvio só me atormenta mais porque caí também nessa mesmice de vida. E de que só posso ser povo assim, sempre no óbvio, no ter pouco dinheiro. Encarar a vida com esse atestado de que não há novidade, definitivamente, prova que algo precisa ser explodido. E o algo aqui não é a vida, mas o atestado de ser povinho do jeito que todo mundo está.
De certa forma meu cansaço está indescansável. Estou asfixiado de ser esse povo que só paga caro, e não tem sua casa própria, não consegue pagar conta de hospital... Até tem medo de ir ao hospital particular por causa da conta, do preço que a consulta é lá. Bem como prefere continuar doente a ir ao hospital público, pois, pelos menos doente, ainda dá pra viver mais um pouquinho.

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