Escrever à tinta, isto é, com
caneta, marca, fixa e demora muito mais que a escrita a lápis. Seja uma
anotação simples pra recordar depois, ou um bilhete breve e casual.
Quem o faz
a lápis não deve contar com garantia de longo prazo. O escrito “perde” a
legibilidade com o tempo.
Tamanha é a facilidade que isso acontece, ao passo
que, se compararmos com a possibilidade de ter sido feito com caneta, fica
quase possível pensar que este mundo não necessita mais de lápis, lapiseiras e
grafites.
Mas, tudo que é útil tem seu lugar
em algum lugar no tempo. Pena que George aprendeu sobre o efeito de lápis e
canetas por outro caminho. Demorou! Muitos sóis passaram. Até que um dia a vida
ficou tão quente, que a única medida foi parar e trocar seus usos de lápis e
canetas, pelos de canetas e lápis.
Durante a adolescência, desfrutando
pouco da presença dos pais, e tendo um cotidiano lotado de coisas que correm
para lados diferentes de seu estilo de vida, George foi compreensível.
Virtuoso. Soube julgar a realidade que tinha. Soube escolher. Porém, mesmo
sendo compreensível, não entendia porque o seu crescer pesava. Vivia, só que se
sentia enfadado. Sorria, mas fazia isso calado.
A voz dos pais, apesar de pouca, não faltou.
Havia sentimento. E dos pais não há nada igual. Um bilhete escrito aqui por
causa das tarefas que ele, agora mais garoto, tinha de cumprir no dia. Os
recados do amigo e vizinho também feito a lápis, para convidá-lo pra alguma
diversão esportiva. Do mesmo modo, uma orientação numa e noutra matérias da escola
que os professores grafitavam, só pra ajudar no aprendizado. Enfim, muitos tons
de cinza marcavam sua vida, vindos de tantos escritos não canetados.
George viu que as notas baixas
vinham em cores, vermelhas, azuis, às vezes pretas... Notou que também era de
tinta a carta que recebera, contendo entre tantos parágrafos escritos um “não”.
Era o da primeira garota. Igualmente, ele percebeu ao retornar pra casa, depois
de um dia de aula, que o espaço deixado numa carta canetada por si no dia anterior, pedindo aos país que fossem
juntos, finalmente em família, ao cinema, não continha a resposta de nenhum.
A
maneira diferente de pedir um lazer aos pais, e que não deu certo, esta sim
entrou no coração. Todos os “nãos” em que ele esperava os “sins”... todos
escritos errados.
Nada
entrou só. Por isso pesava tanto. Ele tinha lápis e caneta no coração, desse
jeito não dá. “Eu preciso dizer pra alguém que isso não dá mais de suportar!”
Então, ele assim fez. Orou e orou. O bom é que George recebeu resposta e
resolveu escrevê-la como primeira página. E tão claro tamém (rsrs), que dessa vez ia fazer de caneta. “Filho, apague
tudo, tudo isso; pois eu tenho um livro escrito só pra você. E não é de lápis
feito, nem mesmo de caneta que também pode ser desfeita. O meu pra ti, foi
desenhado, escrito e pintado com sangue eterno. Pra você tê-lo, basta começar
uma nova página dizendo algo, um algo que é assim: Eu te agradeço, Senhor Deus
e Pai. Amém!”.
Em algum lugar de seu coração, ficou escrevinhada essa voz, e ela
foi só tudo isso: “A primeira página do seu livro de gratidão”.
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