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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O LIVRO DA GRATIDÃO

Escrever à tinta, isto é, com caneta, marca, fixa e demora muito mais que a escrita a lápis. Seja uma anotação simples pra recordar depois, ou um bilhete breve e casual. 
Quem o faz a lápis não deve contar com garantia de longo prazo. O escrito “perde” a legibilidade com o tempo. 
Tamanha é a facilidade que isso acontece, ao passo que, se compararmos com a possibilidade de ter sido feito com caneta, fica quase possível pensar que este mundo não necessita mais de lápis, lapiseiras e grafites.
Mas, tudo que é útil tem seu lugar em algum lugar no tempo. Pena que George aprendeu sobre o efeito de lápis e canetas por outro caminho. Demorou! Muitos sóis passaram. Até que um dia a vida ficou tão quente, que a única medida foi parar e trocar seus usos de lápis e canetas, pelos de canetas e lápis.
Durante a adolescência, desfrutando pouco da presença dos pais, e tendo um cotidiano lotado de coisas que correm para lados diferentes de seu estilo de vida, George foi compreensível. Virtuoso. Soube julgar a realidade que tinha. Soube escolher. Porém, mesmo sendo compreensível, não entendia porque o seu crescer pesava. Vivia, só que se sentia enfadado. Sorria, mas fazia isso calado. 
A voz dos pais, apesar de pouca, não faltou. Havia sentimento. E dos pais não há nada igual. Um bilhete escrito aqui por causa das tarefas que ele, agora mais garoto, tinha de cumprir no dia. Os recados do amigo e vizinho também feito a lápis, para convidá-lo pra alguma diversão esportiva. Do mesmo modo, uma orientação numa e noutra matérias da escola que os professores grafitavam, só pra ajudar no aprendizado. Enfim, muitos tons de cinza marcavam sua vida, vindos de tantos escritos não canetados



Coisas simples e pequenas. Todas boas, de fato. Mas não entravam no coração, não faziam diferença diante das que pesavam, e que só agora começa a perceber o que lhe afetava o sorriso, todo o peso no qual ele crescia. Acordou pra reler a vida e a cor de quem a escreve.
George viu que as notas baixas vinham em cores, vermelhas, azuis, às vezes pretas... Notou que também era de tinta a carta que recebera, contendo entre tantos parágrafos escritos um “não”. Era o da primeira garota. Igualmente, ele percebeu ao retornar pra casa, depois de um dia de aula, que o espaço deixado numa carta canetada por si no dia anterior, pedindo aos país que fossem juntos, finalmente em família, ao cinema, não continha a resposta de nenhum.
A maneira diferente de pedir um lazer aos pais, e que não deu certo, esta sim entrou no coração. Todos os “nãos” em que ele esperava os “sins”... todos escritos errados.
Nada entrou só. Por isso pesava tanto. Ele tinha lápis e caneta no coração, desse jeito não dá. “Eu preciso dizer pra alguém que isso não dá mais de suportar!” 
Então, ele assim fez. Orou e orou. O bom é que George recebeu resposta e resolveu escrevê-la como primeira página. E tão claro tamém (rsrs), que dessa vez ia fazer de caneta. “Filho, apague tudo, tudo isso; pois eu tenho um livro escrito só pra você. E não é de lápis feito, nem mesmo de caneta que também pode ser desfeita. O meu pra ti, foi desenhado, escrito e pintado com sangue eterno. Pra você tê-lo, basta começar uma nova página dizendo algo, um algo que é assim: Eu te agradeço, Senhor Deus e Pai. Amém!”. 
Em algum lugar de seu coração, ficou escrevinhada essa voz, e ela foi só tudo isso: “A primeira página do seu livro de gratidão”.  

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