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segunda-feira, 9 de abril de 2018

POEMA - Dor em família (Anderson Damasceno)


A dor em família (Anderson Damasceno)

A meu primo morto, menino Wesley

Há coisas que a gente
não quer falar, Um assunto
melindroso de conversar. As razões
podem ser as mais atrozes De se acreditar.
Por certo, são as que Farão, ou não, as lágrimas
arrebentar. Com ou sem choro, a dor é vil, é dobro.
Sente por si, sente-se tão mais pelo outro. Não há peito
que aguente, nem mesmo Os feitos de ouro. Mesmo no
calabouço, E mesmo os que secam os olhos no osso. Não
consigo dar nome à tua partida, À tua mão estendida, e à
tua cabeça ferida. Há um mal que faz a multidão, que olha
o chão, que procura o vão, no teu Corpo estirado, alguma
marca de pecado, Alguma chance de perdão. A verdade é
Que olham, olham pra ti, olha a mim, Olham entre si, mas
não encontram não. É o fim de si próprio, último opróbrio,
Ninguém é imortal não. É nessa vida, Nessa gente movida,
por um crime, da Esquina, correndo só, sem nem saber:
cada um que cala, que a boca não fala, Só escondem
olhos, cúmplices do ver. A dor que era tua, e que
também era nossa, Agora não é mais tua e
perdurará nossa. Teu peito, menino, de
21 anos, ainda se Emancipando,
foi tirado de nós. Foi atirado,
Foi atravessado, por tiros
de dor. Que ora carrego,
sinto, não nego. É um
terror. Tampa a noite,
Que bate em açoite,
Da mor dor infeliz...




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