A dor em família
(Anderson Damasceno)
A meu primo morto,
menino Wesley
Há coisas que a gente
não quer falar, Um
assunto
melindroso de
conversar. As razões
podem ser as mais
atrozes De se acreditar.
Por certo, são as que
Farão, ou não, as lágrimas
arrebentar. Com ou
sem choro, a dor é vil, é dobro.
Sente por si,
sente-se tão mais pelo outro. Não há peito
que aguente, nem
mesmo Os feitos de ouro. Mesmo no
calabouço, E mesmo os
que secam os olhos no osso. Não
consigo dar nome à
tua partida, À tua mão estendida, e à
tua cabeça ferida. Há
um mal que faz a multidão, que olha
o chão, que procura o
vão, no teu Corpo estirado, alguma
marca de pecado, Alguma
chance de perdão. A verdade é
Que olham, olham pra
ti, olha a mim, Olham entre si, mas
não encontram não. É o
fim de si próprio, último opróbrio,
Ninguém é imortal
não. É nessa vida, Nessa gente movida,
por um crime, da Esquina,
correndo só, sem nem saber:
cada um que cala, que
a boca não fala, Só escondem
olhos, cúmplices do
ver. A dor que era tua, e que
também era nossa, Agora
não é mais tua e
perdurará nossa. Teu
peito, menino, de
21 anos, ainda se Emancipando,
foi tirado de nós.
Foi atirado,
Foi atravessado, por tiros
de dor. Que ora
carrego,
sinto, não nego. É
um
terror. Tampa a
noite,
Que bate em açoite,
Da mor dor infeliz...
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