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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

DICAS E ANÁLISE DE QUESTÕES DA PROVA DE LINGUAGENS (ENEM 2017) – Professor Anderson Damasceno

















INTRODUÇÃO
Este texto apresenta apontamentos gerais e específicos que o tornarão um pouco extenso. Porém, o conteúdo possui uma validade interessante para quem se lança a responder as três questões, propostas no encerramento dessa análise (sessão II: “Atividades”) acerca da competências e habilidades presentes no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). De antemão, quero alertar que as análises que se seguem dialogam com estudantes e professores. Ora as orientações são para o trabalho do professor de linguagens (português, literatura, artes, TICs e Educação Física), ora para o vestibulando que pretende vencer no ENEM de 2018.

SESSÃO I – ANÁLISE DE QUESTÕES
Responda a questão abaixo:

 (ENEM 2017) QUESTÃO 6
Romanos usavam redes sociais há dois mil anos, diz livro
Ao tuitar ou comentar em baixo do post de um de seus vários amigos no Facebook, você provavelmente se sente privilegiado por viver em um tempo na história em que é possível alcançar de forma imediata uma vasta rede de contatos por meio de um simples clique no botão "enviar''. Você talvez também reflita sobre como as gerações passadas puderam viver sem mídias sociais, desprovidas da capacidade de verem e serem vistas, de receber, gerar e interagir com uma imensa carga de informações. Mas o que você talvez não saiba é que os seres humanos usam ferramentas de interação social há mais de dois mil anos. É o que afirma Tom Standage, autor do livro Writing on the Wall - Social Media, The first 2 000 Years (Escrevendo no mural - mídias sociais, os primeiros 2 mil anos, em tradução livre).
Segundo Standage, Marco Túlio Cícero, filósofo e político romano, teria sido, junto com outros membros da elite romana, precursor do uso de redes sociais. O autor relata como Cícero usava um escravo, que posteriormente tornou-se seu escriba, para redigir mensagens em rolos de papiro que eram enviados a uma espécie de rede de contatos. Estas pessoas, por sua vez, copiavam seu texto, acrescentavam seus próprios comentários e repassavam adiante. "Hoje temos computadores e banda larga, mas os romanos tinham escravos e escribas que transmitiam suas mensagens", disse Standage à BBC Brasil. "Membros da elite romana escreviam entre si constantemente, comentando sobre as últimas movimentações políticas e expressando opiniões."
Além do papiro, outra plataforma comumente utilizada pelos romanos era uma tábua de cera do tamanho e da forma de um tablet moderno, em que escreviam recados, perguntas ou transmitiam os principais pontos da acta diurna, um "jornal" exposto diariamente no Fórum de Roma. Essa tábua, o "iPad da Roma Antiga", era levada por um mensageiro até o destinatário, que respondia embaixo da mensagem.
NIDECKER, F. Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 7 nov. 2013 (adaptado).
Na reportagem, há uma comparação entre tecnologias de comunicação antigas e atuais. Quanto ao gênero mensagem, identifica-se como característica que perdura ao longo dos tempos o(a)
a) imediatismo das respostas.
b) compartilhamento de informações.
c) interferência direta de outros no texto original.
d) recorrência de seu uso entre membros da elite.
e) perfil social dos envolvidos na troca comunicativa.

Na Questão 6, do ENEM 2017 (caderno azul), o conhecimento trabalhado é referente aos “gêneros textuais”, considerados base de todo o Ensino de Língua, no Brasil. Isso porque as pessoas, na função de sujeito-leitor, compreendem e operam o mundo através de gêneros textuais. Então, nessa questão, o conhecimento mobilizado, exigido por parte de quem se propõe a solucioná-la, tem a ver com a teoria e o funcionamento dos gêneros que configuram os textos. Geralmente, fala-se que é o “conhecimento cobrado” do aluno –  forma como boa parte dos professores apresenta o saber e a habilidade necessários para calcular com segurança à interpretação do texto –, a fim de chegar à alternativa correta de cada item (termo técnico que o ENEM emprega para questão).
Contudo, aqui vale uma ressalva. Muita vez, não é positiva a carga do termo “cobrado”, cobrança, porque o estudo e o aprendizado não podem perder o caráter de diversão, a brincadeira de aprender, ou seja, o lúdico, o prazer que o conhecimento possibilita no sujeito que experimenta e conhece. Não se trata de proibir o professor de usar o termo em sala, mas entender de que maneira usa e que efeito provoca no alunado.
Retomando o texto, cujo título é “Romanos usavam redes sociais há dois mil anos, diz livro”, temos um dos gêneros jornalísticos, a reportagem, que aborda um livro, em que o autor (jornalista) discorre sobre contextos de uso das redes sociais (TICs) a partir de uma perspectiva (a de Tom Standage) diferente, incomum, ao estudante e ao leitor leigo no assunto. Isto é, trata da evolução das redes sociais, coisa que o senso comum imagina ter existido só após o advento da internet. Portanto, o estudante vestibulando deve esperar ou, pelo menos, estar ciente de que, a cada ano, “cairão” na prova de linguagens textos inusitados, apresentando situações e acontecimentos numa ótica diversa, incomum, e por que não dizer estranha aos leitores médios.
O comando da questão/item, como se sabe, indica (é a pista para) a competência/habilidade a ser exigida. Nesse caso, temos a Competência 6: Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação; e a Habilidade 18 – Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. O destaque na habilidade também deve ser lido da seguinte maneira: orientamos aos vestibulandos que, na medida do possível, entendam o sentido da habilidade ou compreendam o funcionamento dela, sem necessariamente ter que memorizar o que versa na competência/habilidade. 
      Por que essa habilidade? A segunda parte do comando da questão facilita seu reconhecimento. Ela requer do estudante a habilidade para identificar uma característica, um aspecto, pertinente ao gênero mensagem. Por isso, a resposta é a letra b, uma vez que com a passagem das épocas as esferas humanas de comunicação perpetuam um aspecto inerente ao gênero mensagem: servir para o compartilhamento de informações.
A questão central para quem trabalha com o ensino de língua nas séries iniciais é: “Que práticas pedagógicas, aulas e atividades, no fundamental I e II, contribuem de maneira que o aluno desenvolva a proficiência exigida pelo ENEM?”. 
Há vários caminhos, práticas em sala de aula e atividades que podem responder isso (Sugiro o artigo “Desenvolvendo habilidades e competências no processo de leitura-escrita: gêneros textuais e artes”, de José Marcos de França). Mas, prefiro enfatizar a necessidade do ensino híbrido e a força das TICs, como se vê hoje em dia.  
De uma parte, sabe-se que os alunos trocam mensagens entre si na escola e, de modo mais sistemático, em sala de aula quando trabalham textos de diferentes gêneros: bilhete, carta, mensagem de texto (sms), e-mail, entre outros. De outra, as tecnologias que potencializaram o compartilhamento de informações fazem parte do dia a dia do alunado. É isso que se vê nas plataformas Facebook e WhatsApp. Logo, aquela aula planejada e essa realidade, marca inexorável da era da informação, cobram de nós, professores, o ensino híbrido desde o fundamental. Não se pode negar que a tecnologia é bem-vinda em sala de aula e, com ela, a cultura digital, inevitável. 
A ciência comprova que os gêneros textuais, como práticas sociocomunicativas, são dinâmicos e sofrem variação na sua constituição, que, em muitas ocasiões, resultam em outros gêneros, novos gêneros e relações intergenéricas. Portanto, o ensino de língua é a partir dos gêneros textuais. Os alunos precisam se familiarizar com o “DNA” dos gêneros textuais, numa perspectiva histórica da promoção do uso, que foi exatamente o ponto atacado por Tom Standage. 

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