Existe um pacto social em torno da dor. Um pacto de silêncio e de não existência. É como se não fosse correto ninguém dizer, revelar, confessar que o sofrimento está ali. Bem vivo. Indenunciável! Impune! E segue...
Segue... enquanto o Cristo que
acolhe a dor do mundo, de quem O clama, enfrenta o vento da surdez humana.
Os não-ouvidos que sustentam esse pacto sofrível têm nomes e podemos mostrá-los.
Na verdade, mais fácil que expor os donos dessa falida empresa é o ato de sentirmos
o quanto nossa dor pouco importa a seus ouvidos. Olham-nos anestesiados.
É uma incorreção estranha! Mesmo a dor sendo comum a todos, é
necessário que todas as pessoas vivam por ignorar ou fugir dessa “qualidade”,
dessa característica: a natureza de comunidade que a dor tem.
Ela é capaz de irmanar as pessoas em
torno do sofrimento comum.
Seu pacto foi fechado muito antes de todo
vivo nascer.
E o caminho que se traça a cada dia,
para ricos e pobres, para experientes e inocentes, não me parece ser aquele em
que vamos nos despactuar da dor. Não ouso dizer que queremos nos despactuar de
senti-la, mas, quem sabe não seja muito, querer que todos que falarem de suas
dores não exprimam falas socialistas, mas falas naturais.
A dor não é procuração dada uma
pessoa pra falar em nome de todos os doloridos e doentes. Porém, uma única
pessoa ao sentir o que todos sentem dolorosamente saberá: ninguém foge da necessidade
do alívio. Este, a grande propaganda dos mundos, explorada por vendedores que
muitas vezes têm tão pouco para si. Mas seguem...
No fundo, só quando abraçamos a sua
venda, num salto de fé, quando sabemos encontrar o pouco de alívio que temos, será possível
atravessarmos o caminho asfaltado pela dor de nossos semelhantes. Muita gente
já trabalhou antes de mim, de ti, desse ou daquele que sofre no pacto ensurdecedor
da dor. Se faz tanto tempo que o sofrimento dura, dizendo aos homens o que é
ser homem, não encontraremos nenhum alívio, para compartilhar a bom preço com
ninguém, se da mesma forma deixarmos de ser como os mesmos homens que venderam no
passado.
Para que vivam os compradores,
perdidos nos pactos da dor comum, é necessário que os trabalhadores do alívio
não façam corpo mole perante a sociedade do silêncio.
Afinal, não é Cristo quem está ensurdecido.
Vendam do pouco que têm, pois já sabem
onde encontrar. Seu trabalho não foi em vão como vã também não foi a fé
daqueles antes de nós. Eles foram perguntar em algum momento a solução de suas
dores e só se aliviaram porque ouviram os vendedores a propagandear.
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