Nesta postagem, reuni 9 questões que permitem fazer um reflexão significativa a respeito da poesia de Adélia Prado, poetisa mineira que será solicitada no vestibular PAES 2018 - Processo Seletivo de Acesso à Educação
Superior, realizado pela UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), no dia 22 de
outubro. O gabarito
está nos comentários. Bom estudo e sucesso pra vocês vestibulandos!
1. Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me
levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e
salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na
cozinha,
de vez em quando os cotovelos se
esbarram,
ele fala coisas como “este foi
difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira
vez
atravessa a cozinha como um rio
profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
PRADO, A.
Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
O poema de Adélia Prado, que segue a
proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação
de limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma
a) expectativa do marido em relação à
esposa.
b) imposição dos afazeres conjugais.
c) disposição para realizar tarefas
masculinas.
d) dissonância entre as vozes
masculina e feminina.
e) forma de
consagração da cumplicidade no casamento.
2. No texto de Adélia Prado, o eu
lírico feminino revela, a partir de suas experiências, que o casamento é
a) frustração e desencanto com o
outro.
b) troca paulatina do amor pela
subserviência.
c) vínculo
baseado na cumplicidade e no respeito.
d) ausência permanente de palavras e
ações carinhosas.
e) cárcere onde a mulher é condenada a
cuidar do lar.
3.
Um dos procedimentos consagrados pelo
Modernismo foi a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do
cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses
elementos a partir do(a)
a) reflexão irônica sobre a
importância atribuída aos estudos por sua mãe.
b) sentimentalismo, oposto à visão
pragmática que reconhecia na mãe.
c) olhar comovido sobre seu pai,
submetido ao trabalho pesado.
d) reconhecimento
do amor num gesto de aparente banalidade.
e) enfoque nas relações afetivas
abafadas pela vida conjugal.
4. A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de
farinha
tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com
orgulho
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
PRADO, A.
Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.
Os diferentes gêneros textuais
desempenham funções sociais diversas reconhecidas pelo leitor com base em suas
características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é
produzido. Assim, o texto A diva
a) narra um fato real vivido por Maria
José.
b) surpreende
o leitor pelo seu efeito poético.
c) relata uma experiência teatral
profissional.
d) descreve uma ação típica de uma
mulher sonhadora.
e) defende um ponto de vista relativo
ao exercício teatral.
5. Quem não passou pela experiência de
estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos
conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade.
Leia os seguintes textos:
I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na
vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de.
Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
II. Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e
Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)
III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio
de Janeiro: Guanabara, 1986)
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem
intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por:
a)
reiteração de imagens.
b) oposição de ideias.
c) falta de criatividade.
d) negação dos versos.
e) ausência de recursos.
6. Grande desejo
Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos,
Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra
chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito “ai”.
Quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago
humilde
e fortíssima voz pra cânticos de
festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com
ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.
Adélia
Prado
O poema de Adélia Prado apresenta um
eu lírico feminino que explora a inconstância da condição humana. Com base
nisso, pode-se concluir que
a) nos dois primeiros versos, a rima
provocada pelo contraste dos nomes “Cornélia” e “Adélia” suscita uma relação de
similitude.
b) o eu lírico se declara uma mulher
simples por meio da enumeração de atos excepcionais como fazer comida e bater o
osso no prato para chamar o cachorro.
c) no sexto verso, para que ocorra um
afastamento ainda maior do coletivo, o eu lírico diz que “quando dói” grita
“ai”, pois não consegue reprimir sua dor.
d) suas sensibilidades são reprimidas
e governáveis, pois caracterizam-se como racionais, detentoras de uma lógica da
sensibilidade.
e) o eu
lírico apresenta uma mulher prosaica, sem fortes traços revolucionários e
excepcionais, uma detentora de vivências.
7. Simplesmente amor
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele falo palavras como
lanças
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele podem entalhar-me:
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste
Amor é a coisa que mais quero.
Adélia Prado.
Disponível
em: <http://goo.gl/Jl3Ig>. Acesso em: 5 maio 2013.
A obra poética de Adélia Prado é prova
de que a poesia não precisa nascer somente do solo duro do eixo Rio-São Paulo.
Como poucas, ela sabe resgatar para o seu leitor toda trama cultural e social
do piccolo mondo das cidades do
interior brasileiro. Pequenas histórias familiares, dramas do dia a dia, tudo
isso filtrado pelo seu olhar arguto, resulta em uma poesia extremamente
refinada e bela. É aquela famosa história de que, ao tratar de sua aldeia, o
poeta está sendo universal. Morando em Divinópolis, Minas Gerais, onde nasceu
em 1935, Adélia Prado é uma das mais importantes poetas brasileiras.
Com base no texto e na temática do
poema "Simplesmente amor", conclui-se que a autora
a) define o amor sob uma perspectiva
lógica, direta e objetiva.
b) considera o sentimento como algo
fundamental para sua poesia panfletária.
c) associa o modo de composição do
poema ao trabalho do ourives.
d) apresenta uma concepção naturalista
e positivista do amor.
e) revela
sentimentos e aspectos paradoxais da condição sentimental dos que amam.
8. Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o
sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo
serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço
pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no
fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Adélia Prado
O poema “Ensinamento”, entre outros
aspectos, versa sobre os relacionamentos humanos, revelando que
a) o amor é uma palavra de luxo por
ser escasso na relação familiar apresentada.
b) a mulher é representada por uma
figura reprimida, sem acesso ao estudo e subjugada ao marido.
c) o eu
lírico aprendeu com a mãe um ensinamento sobre o amor por meio de uma
experiência cotidiana.
d) o eu lírico apresenta discordância
em relação ao ensinamento da mãe, buscando criticá-la por sua postura submissa.
e) há diferenças entre gerações; no
caso, a mãe valoriza o casamento, enquanto a filha preocupa-se com o futuro
profissional.
9. Para o Zé
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda
e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como
abelha,
alegrinha como florinha amarela,
desejando
as finuras, violoncelo, violino,
menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu
peito
pra escutar o que bate. Eu te amo,
homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que
é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de
tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os
fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me
afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em
latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde
apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia,
para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de
teus companheiros”.
Adélia
Prado.
Fonte:
http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/adelia-prado-poemas/#.U8mNS9NOXIU em
17/7/14
O poema de Adélia Prado apresenta uma
voz lírica feminina que revela
a) o quanto a mulher é vítima da
opressão machista que a impede de amar.
b) uma noção de homem reificado, ou
seja, completamente despido da possibilidade de despertar o amor.
c) um olhar desatento sobre a condição
masculina, pois ela se mostra impossibilitada de qualificação.
d) uma visão poética, mas referencial,
sobre o cotidiano dos homens que habitam as cidades do interior de Minas
Gerais.
e) a
paixão, a devoção e o carinho que ela sente pelo seu par amoroso, ressaltando
suas peculiaridades sentimentais.
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