Não gosto nenhum pouco do que vou
falar aqui. Se livrar de pessoas em nome do amor próprio é o tipo de coisa que
nunca imaginei ou supus sair de mim. Falar disso faz-me sentir desumano,
criminoso. Talvez criminoso seja um exagero ou autocondenação covarde.
Contudo, quando comecei a pensar
nessas palavras, “Se livre”, “pessoas”, “desnecessárias”, e nas atitudes que
representam essas palavras, vários sentimentos e outras sensações confusas,
“finitas”, me atravessaram. Sensações de fogo-fátuo. Algumas como pensamentos
que se despedaçam, desvanecem, pouco depois de começarem a se configurar, a se constituir enquanto
fio de energia psíquica. Quase natimortos.
Passei a maior parte da vida
aceitando tudo e todos. Não recordo de uma só feita que tenha me negado a
aceitar a amizade de alguém, o olhar natural das pessoas, ou de ter julgado
algum ser humano como desnecessário. Talvez, por isso mesmo, me sinto tão
carregado de lixo às vezes, de más energias, com um desgaste emocional que a
longo prazo deteriorou aquilo, aquela barreira que me fazia aguentar, quem sabe
resistir a este momento de agora. E agora chegou. A hora de se livrar.
Se existe um lado mal na força só
pode ser esse. Este em que me sinto por hora.
Eu preciso começar de onde estou.
E se tem algumas pessoas das quais preciso me livrar, as primeiríssimas, são
aquelas mais óbvias. Necessito me livrar de algumas piores versões de mim.
Disso não paira sombra alguma de dúvidas.
Eu tenho total segurança de que,
tão logo eu reconheça essas piores versões de mim, fácil será partir para os
outros. Os de fora. Livrar-me de gente que trago cá dentro. E que de tão anestesiado de me
sentir culpado, devo estar intoxicado da boa versão que finjo ou forço
acreditar que pessoas tenham, dentro de mim.
Não adianta eu entrar nesse
passo, avançar pra elas, enquanto ainda é tão preciso identificar melhor as
desnecessidades que aceitei cultivar dentro de mim. Sobre mim. E até que
ponto?! Até que ponto cultivei? Até que ponto acho que esses sujeitos que me
habitam estão longe do meu eu sufocado, resignado, passando-se por mim em
tantos momentos que por vezes mereciam que eu estivesse no controle, na
direção, honrado e responsável.
Não prevejo o trabalho
sacrificial que precisarei, todavia, cada introspecção que eu fizer, cada
pequeno momento de reflexão, em cada parada para me pensar, por mais
dispendiosa de tempo e energia que seja, é digna de ser feita, colhida. Talvez, o mais correto seja plantada, isto é, plantar momentos de meditação e sondagem do eu. No entanto, essa plantada tem sabor de colheita pra mim. Capaz de gerar o que quero. Quero
uma nova colheita.
Minhas piores versões não são as dos
meus erros, e sim, as do abandono de mim quando errado. Nem são as feridas
pelos outros, mas as que se algemaram a essas feridas pelo ressentimento altivo
e negado. São muito menos as que sentem medos ou reconhecem culpas, que as inábeis
que pararam de crescer apesar disso.
Enfim, sem ódio de mim, sem ódio
de si e sem autopunição. Isso é um ato de amor próprio. Acredito que Alguém
dentro de mim merece. E a hora chegou!