terça-feira, 15 de outubro de 2024
PROFISSÃO DE FÉ - POEMA
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
AS CAMADAS DA MENTIRA - CRÔNICA
Para se observar as camadas da mentira existe uma questão elementar e inevitável. A mentira. Que ela aconteça!
É importante que o erro a ser escondido,
que não é escondido de todos, já tenha sido cometido. É necessário que a
vergonha que pode ser causada já tenha motivo consumado. Só é possível quando a
dor que pode ser sentida já tenha se tornado sentida imaginosamente: contando
com os atores que não podem saber da verdade sabendo-a. É crucial que o pecado,
o delito em alguma escala da vilania, tome corpo, matéria e forma.
Vencida essa etapa, podemos, então,
identificar a geologia da mentira, as eras em que ela se instala. Podemos localizar
todas as camadas que o tronco do mal conseguiu arvorar, vasificando sua seiva
bruta. Quem sabem possamos discernir, inda que por espelhos, alguma nítida luz,
atravessando as brechas do inexplicável natural.
Há
a camada do querer falar a verdade. Há a camada do seguir mentindo para si. Há
a camada do acreditar que é melhor mentir para os outros. E, por fim, há a
camada de fora, isto é, a não-camada, a liberdade, definida enquanto a retirância
de cima de si de todo o julgo-que-não-é-suave e do fardo-que-não-é-leve.
Na camada do querer falar a verdade, você
está diante da pessoa sobre quem e a quem você acredita ser melhor mentir. A
verdade caminha até tua mente, pula nos teus olhos e ganha feições nos traços
da tua face, porém, ela enreda-se pela língua e salta fisicamente em ondas "amorais", sonorando
a falsidade. Leve, indolor e conforme o script.
Na camada do seguir mentindo pra si...
Nunca conhecemos sua fundura n´alma. Seria a resposta mais simples e honesta.
Não sabemos o quanto desse poço em secura pode
prejudicar. A si e aos outros. Mas, sigamos com o a si. Sequer imaginamos que
seja um abismo chamando outro abismo. É nessa camada que a verdade permanece desconhecida
de nós mesmos. Nós nos tornamos desconhecedores de quem somos perante nosso próprio
espelho interior.
E, na camada mais covarde da mentira,
nela, habita o mal. Nela, a crença que apaga qualquer sentido da vida do outro
em nós. Anula e desumaniza. Apaga o Espírito Santo e nos descristianiza. Nela, o
senso de toda uma existência dual alquimiza-se em vazio. Isso nos faz
questionar de que matéria é construída a dura camada, que dá corpo, que constrói
– destruindo-nos – a camada do seguir crendo que mentir às outras pessoas é melhor.
Por fim, há a que devia só haver. Há a em que
muitos vivem sem ha(v)er.
Há a camada que, por ora, e por anais, muita gente questiona, filosofa, discrepa...
O lado de fora.
domingo, 6 de outubro de 2024
CULTIVE SEU NARCISISMO - CRÔNICA
Cultive certo narcisismo, um peculiar narcisismo.
Pois você não sabe até que ponto as pessoas vão querer te usar, caso você não
se sinta melhor do que elas.
Não abandone por completo Teu egoísmo, porque
você não imagina o quanto de gente vai te chamar de desumilde, se você não
fizer, exatamente, aquilo que elas querem.
Tenha sabedoria para travar uma batalha com o
teu próprio ego. Isto é, todas as pessoas sábias batalham com e contra o
próprio ego. Isto é inescapável. Mas nem sempre o ego dos outros vai usar de
sabedoria para julgar o teu.
Mantenha uma quantidade de personalismos, já
que tentar agradar a todos é uma maneira muito triste de não honrar quem você
é, jogando fora tua identidade própria.
Não jogue fora o rei que você tem em teu umbigo,
já que as chances de te chamarem de pessoa sem qualidade nenhuma, vazia, também
é uma das consequências de quem se sacrifica pelos outros e por todo mundo. Pois,
no meio do todo mundo, que recebeu teu sacrifício, também tem gente que vai te
chamar assim.
Nem sempre é ruim se sentir a última bolacha do
pacote. Saiba que muita gente vai avaliar você como quem não dá valor nenhum a
si mesmo. Seria muito bom te pegarem num dia desses de bolachinha preciosa.
Não arrisque anular teu orgulho próprio. Ainda que
você pense não ser melhor nem pior do que ninguém, lute para nunca ser o pior
nem continuar tendo a mesma quantidade de amor próprio que ontem.
Ame-se mais!
Neste mundo, há um intercâmbio obscuro de signos
e espelhos da alma. Não há garantia nenhuma de que o bom senso, seja o dos
olhos que te denunciam, seja o dos olhos que se autojulgam, tenha sido bem
desenvolvido.
Talvez, muita fração do bem que as pessoas
julgam ver em si mesmas, elas mesmas reputam ser o mal que elas enxergam na
vida do próximo.
E vice-versa!
Enfim, cuide para que a luz há em ti não sejam
trevas. E tenha muito mais cuidado ainda para que não sejam tão grandes tais
trevas.
sábado, 14 de setembro de 2024
LUTANDO PELO O QUE NÃO DURA - CRÔNICA
Anderson Damasceno
Em quantas brigas inférteis eu já me meti? E em quantas delas o motivo, que eu julgava ser o certo, não o era? A energia que eu acreditava valer a pena aplicar não valia. E todo o tempo, que eu sequer me importava em gastar, esse, sim, valia. Porém, todas as brigas foram trocadas por um grande e abstrato nada.
Pior, tudo foi transmutado pela memória do inacabado.
Algumas das improdutivas lutas duraram pouco. Outras duraram anos. E, no final das contas, a conta e os juros da infertilidade só inflacionaram. Muita coisa boa foi abortada. Anos de devoção errada não vingaram. E o coração que pulsava soube que seus pulsos não bombearam nada.
Talvez, vai, bombearam um sangue sisificado... e as pedras erguidas, ou roladas pelos punhos de seu dono, construíram no máximo a mente de sua jornada. Uma mente de travessia. Uma mente em lemniscata.
Bora lá!
Primeiramente, tirar esse tipo lição para continuar vivendo, com sobriedade, a vida, olha, não é nada fácil. Conviver com a autopercepção de que se investiu muito alto num vazio de nada é perturbador. É insonificante!
Foi aos 35 anos, depois dos anos 2020, eu acho, que pude ter algumas experiências com o pânico, com picos de ansiedade e com a perda de sono. Três coisas cujas existências nunca foram empíricas para mim. Ocupavam não a memória do inacabado, mas, quem sabe, alguma parte pequena do Ser. Não nesse grau angustiante, de agora, “e de por anos”, que me fazem olhar minhas mãos improdutivas.
E olha que já perdi sono nos corujões de CS da juventude. Melhor, nas vigílias de fé para uma nova juventude. E ambas não foram improfícuas. Houve boa colheita.
Contudo, esses episódios acontecidos de lá pra cá, possivelmente, só estariam coroando toda a minha violenta infertilidade de briguento. Acredito que estou disposto a admitir isso.
Nem toda briga é justa. Nem todo sacrifício é certo. Vou fazer o esforço de recordar algumas das vezes que lutei por coisas de baixo valor. Confesso que farei um tipo de esforço de quem foge. O tipo de esforço em que se enxerga o mal e se conhece o mal, só que não consegue sobre ele falar. Não consigo detalhar sua face que, por agora, já tem até um pouco das rugas que encontro na minha. Mas estou de uma distância de segurança em que posso fitar.
Sempre há um mal que a gente quer esconder antes que outros o enxerguem como nos os enxergamos. Quem sabe, o medo mesmo seja o de sermos pegos olhando para o nosso próprio mal improdutivo, pois, nesse exato momento, dos que nos olham, muitos podem saber que a gente já se sabia.
É bom encarar o mal. Do mesmo modo que é bom refletir.
E, quem sabe, vou descobrir um dia que as quantas brigas inférteis ao menos puderam me dar um bom e grande nada, para que eu possa carregar, consciente, de que as perdas e os não resultados, que sisificaram, não puderam impedir as novas brigas.
Quando eu falo “brigas” posso estar me referindo a pessoas, a projetos, a sonhos que se criam certos. Sonhos em que eu os cria bons.
E... olha só! Recordei confessando pelo menos duas lutas de improdutividades. Numa, fujo. Noutra, espero que vocês nunca me vejam enquanto estou olhando para mim.
quinta-feira, 18 de julho de 2024
A PILHA DOS DIAS - POEMA
Deixados para depois,
Que
não são feitos,
Somados
ao que não se teve tempo de fazer.
Desejos
que eram os próximos,
E
até hoje não realizados,
Estão
bem próximos das urgências nunca cumpridas.
Amontoa-se...
Enfileira-se...
Almoxarifa-se...
Prazos
dados seriamente para si,
Mas
nenhum si ousou,
E
ninguém mais voltou a tratar.
Planilhas
preenchidas,
Listas
escritas e satisfeitas,
Tudo
junto com números que a pilha do tempo vê parados.
Energias
acumuladas,
Novos
hábitos iniciados,
Seguidos
de uma perdição de mente que demora autolocalizar-se.
Propósitos
erguidos,
Verbalizados
de si pra si e de si para outros,
Desatualizados
seguem no local substratado.
Mas
o Senhor do tempo anda,
Imparável,
Sabendo
bem a quem cabe a pilha.