O papel da arte na conscientização da vida em sociedade
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A segunda edição do Sarau da
Lua Cheia ocorreu durante a noite de quinta-feira última (25), e surpreendeu com
requintes da poesia os visitantes que vieram até a sede da ARMA (Associação dos
Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará), situada no Bairro Novo Horizonte. O
cenário do encontro ficou repleto de apreciadores da arte literária e outras manifestações
artísticas.
O imenso saguão, que recebeu
cerca de 15 pessoas no primeiro evento realizado mês passado, ficou pequeno diante
da numerosa participação de estudantes, professores, músicos e poetas.
Idealizado pelo o escritor
da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), Airton Souza, o segundo
sarau manteve o ambiente informal. Entre os mais de 50 presentes no evento, boa
parte se serviu do chão para sentar e prestigiar duas horas de declamações
poéticas, contos de causos e cantorias.
“Já fui a eventos onde as
pessoas estavam lá por obrigação. E nem prestavam atenção. Aqui é diferente. Nada
é sistemático. O importante é que cada um se sinta à vontade e fale dos poemas
que gostam. Aqui é um lugar aberto ao público, que vem fotógrafos, artistas
plásticos, pessoas interessadas na arte”, afirma.
Após as boas vindas, Souza
fez a abertura com poemas de Zeca Tocantins, escritor e cantor natural de
Xambioá (TO), que teve boa estadia em Marabá.
A maior parte do sarau foi
embala por textos poéticos assinados por poetas contemporâneos, como Ferreira Gullar,
Paulo Leminski e Ademir Brás. Sendo este um escritor reconhecido na região cuja
obra, Antologia Tocantina, pertence
aos expoentes máximos da arte local.
Xavier Santos, cantor
amplamente conhecido como Ravier, declamou o poema “Auto-tessitura”, que compõe
a Antologia Tocantina.
O fisioterapeuta, Daniel
Fernandes, aproveitou o convite para o encontro singular de leitores utilizando
um tablet.
“Não tenho o costume da
leitura, salvo os livros da minha área de trabalho. Na verdade, estou aqui para
aprender. E costumo dizer que já li mais livros pra minhas filhas que para mim
mesmo”, declara Fernandes, que recitou o poema “Dois poetas na praia”, escrito
por Ferreira Gullar.
A arte como instrumento de
solidariedade e conscientização, a partir da poética de Gullar, recebeu atenção
ímpar dos professores ali.
Crisálida
–
O poema “De poetas e loucos”, que faz parte do livro vencedor do Prêmio IAP 2011
– realizado pelo Instituto de Artes do Pará – atraiu atenção do público.
Autoria de Eliane Soares, a
mensagem coloca em foco a condição de vida do poeta em face das demandas
modernas. Este ser tão precioso pra formação do ser humano ainda sobrevive aos
atropelos do mundo.
Talento
musical – Muitos cantores também marcaram presença nessa edição do
Sarau da Lua Cheia. O adolescente, Marcos Gomes Cardoso, deu uma palhinha de
sua composição “Não sei, será?”, que maravilhou a roda de ouvintes.
Marquinhos Poeta, forma como
é chamado pelos amigos mais próximos, fez questão de dizer que as aulas de
música com a professora tem aperfeiçoado sua arte.
EJA
–
Uma das turmas da Escola Municipal Tereza Donato, formada por alunos do sistema
Educação de Jovens e Adultos (EJA), marcou presença na companhia de alguns
professores. Dona Mariana, idosa estudante no EJA, apresentou uma composição
musical, surgida após uma experiência marcante.
“Quando eu estava indo pra
um pequeno bairro aqui de Marabá. Que um dia vai ser um grande. O Bairro dos
Maranhenses. Fiz uma viagem de barco, pela primeira vez. Tive um medo tão
grande. Mas, mesmo com esse medo, eu fui pensando e vendo as paisagens... Tudo
bonito! Ai, como eu tinha levado material pra estudar, eu parei pra escrever
essa letra”, detalha.
Do
forno – E o que é bom vale a pena repetir. O sarau encerrou como
o mesmo ritual do anterior. Produziram novo poema com temperos dos mais vários.
Marquinhos Poeta deu início
a versos solitários espalhados numa folha de caderno de desenho. Após passar
pelas mãos dos leitores que compunham a roda poética, um novo poema intitulado “Sozinho?”
ficou pronto ali mesmo. O idealizador do Sarau entoou os versos que carregavam
consigo um pouco de cada ser.
LETRA
DE DONA MARIANA
Era dia
dois de março,
Do ano
de 2013.
Fiz uma
linda viagem
Que eu
nunca tinha feito.
O
transporte era um barquinho
De um
moço muito importante.
Tem a
sua gentileza,
Que se
julga fascinante.
Era uma
viagem lenta,
Com
cuidado e muita calma
Até
porque, na subida,
O pobre
barquinho pesava.
Eu ia
de leve calada.
Sentindo
um pouco de medo,
Porque
existe uma frase
Que a
água não tem cabelo.
Subindo
de rio acima,
Olhando
as luas para baixo,
O barco
fazia as curvas
Deixando
as voltas para trás
E as
flores tão perfumadas
E as
árvores lindas demais.
As
obras da natureza
É coisa
que só Deus faz.
Na
subida do lado esquerda,
Uma
linda fazenda avistamos
E do
lado direito eu não vi
Uma
velha, máquina, trabalhando.
Era uma
colhedora de seixo
Abrindo
erosão dentro do rio escavando
E uma
equipe da coordenação
Nem um
instante ligava
Nenhuma
só reprovação.
Nisso
passou uma voadeira
E as
águas se agitou
E no
embalo das águas
O barquinho sacudiu e tombou.
Eu
olhava prum lado e pro outro,
Só via
a barraquinha dos pescador
E as
pirambeiras do rio encostadas,
Às sujeira que o vento levou.
Artigo nota 10, gostei muito da publicação e também não poderia deixar de ressaltar o quanto gostei deste maravilhoso Sarau e o quanto aprendi vendo tanto poetas e pessoas simples tão ansiosas pelo saber, pela leitura, pelo ouvir, pelo apreciar de uma poesia! Marabá é realmente uma celeiro de grandes poetas e personalidades! E podem contar comigo para os próximos Saraus que, com certeza, estarei presente!
ResponderExcluirParabéns aos nossos grandes poetas marabaenses e aos organizadores deste grande evento mensal!