Barreto ressalta impacto negativo por causa da exploração ilegal, que inicia desde a ponta do Cabelo Seco |
Moradores da ponta do Cabelo Seco, Ademar Ferreira, Raimundo
Coelho e Reginaldo Santos comparam os anos de pesca que
já tiveram no Rio Tocantins. "Hoje o peixe já não dá".
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A história dos rios que costuram
a cidade de Marabá, metrópole de Carajás situada no sudeste do Pará, se
confunde com a biografia da população. A vida duradoura do Rio Tocantins tem
sido fonte de esperança para muitas gerações de marabaenses, que se utilizaram
dos recursos hídricos. Foi estrada para que os primeiros viajantes chegassem, foi
fonte de sobrevivência para a pesca, também foi fonte de ciclos econômicos importantes
como o diamante.
Desse rio, mais uma vez, depende o
progresso com a esperança de construção da Hidrovia Araguaia-Tocantins, etapa
fundamental para implantação de projetos como a ALPA – Aços Laminados do Pará,
e servir à escoação da produção de outros setores para o exterior.
De acordo com José Santos
Barreto, que já atuou na presidência da associação de Moradores do Bairro Francisco
Coelho, mais conhecido como “Cabelo Seco”, há uma dupla influência do Rio
Tocantins sobre a vida da população.
“A face positiva é que o rio
contribui para o ganho, o alimento, como fonte de recurso para muitas famílias
ali. Elas ainda dependem da pesca. Isso é cultural, passado de pai para filho e
realmente tem um impacto”, afirma.
Por outro lado, há um impacto
negativo por causa da exploração ilegal que, conforme Barreto, inicia desde a
ponta do Cabelo Seco. “Existe uma extração desordenada de areia, seixo e outros
materiais, feito por diversas balsas. E isso tem destruído e alterado a
geografia. Ocorre um processo de erosão intenso ali. Então, devia ser um ponto
turístico, mas isso é pouco lembrado”, observa.
Barreto, inclusive, já fez
registros e produziu um documento, no formato de denúncia, levado ao Ministério
Público do Pará.
Muitas pessoas ainda necessitam
das águas tocantinas para a sobrevivência, bem mais árdua nos dias de hoje. Assim
contam três moradores da Marabá Pioneira, entrevistados na última quarta-feira
(1).
Para o trabalhador de construção
civil, Ademar Ferreira, de 45 anos, nesse mesmo período do ano havia mais
peixe, mais pesca, isso há pouco mais de uma década.
Ferreira é natural de Araguaína, município
localizado no estado do Tocantins, e reside em Marabá há 22 anos. Junto dele
estava Raimundo Coelho, nascido em Marabá, que fala do alto dos seus 70 anos.
“Num está dando nem pra comer,
tem dias. Está acabando peixe. Há vinte anos atrás tinha peixe demais nesse
período”, ressalta.
Reginaldo Santos, que é sobrinho
de Barreto, também acompanhava a dupla. Embora seja bem mais novo que os
amigos, apenas 28, ele já entende o que provoca essa situação. “Tem muito
pescador com rede de arrasta, que pega os peixes pequenos. Daí, eles não
crescem”, pontua.
HIDROVIA AINDA NÃO FAZ PARTE DO PIL
O Rio Tocantins, novamente, está
em debate otimista como progresso da região, através das obras em torno da
Hidrovia Araguaia-Tocantins.
O novo modelo de transporte para
o Brasil foi citado pela ministra da Agricultura, a senadora Katia Abreu
(PMDB), em recente audiência pública, realizada em 25 de março na Câmara dos
Deputados em Brasília (DF). Na ocasião, deputados paraenses cobraram a hidrovia
Araguaia-Tocantins. O Governo Federal investiu mais de R$ 1 Bilhão para fazer
as eclusas de Tucuruí (PA), há quatro anos, mas, paralelo a isso, nada investiu
para construir o canal da hidrovia.
Segundo o Deputado Federal, Josué
Bengtson (PTB), isso é o mesmo que fazer o “Maracanã sem gramado”.
“Então, nós temos uma eclusa que
não funciona e continuamos com o Pedral do Lourenço, que não permite passar as
barcaças, o que encurtaria em milhares de quilômetros às nossas exportações,
deixando de termos que ir lá em Santos ou Paranaguá”, enfatizou o deputado, na
comissão de agricultura.
Se o canal existisse, toda a
produção de estados como Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará desceria
pela hidrovia até o Porto de Vila do Conde, no município de Barcarena (PA), e
sairia pelo Rio Amazonas.
No entanto, a ministra apresentou
outros projetos do PAC, que se referem à construção de ferrovias. Ainda está em
fase de estudo a inclusão de hidrovias no Plano de Investimentos em Logística
(PIL), que desde 2012 engloba ferrovias, rodovias e portos.
Katia Abreu tratou do custo nas
saídas para se chegar à China e até Roterdã, nos países baixos, mostrando dois
mapas, um deles com progressão de como seria o Brasil daqui a cinco anos.
“Por exemplo, para sair de Lucas
do Rio Verde, usando um pouco de rodovia, e uma parte de hidrovia, para chegar
até Roterdã e China. E nesse outro mapa, se nós fizéssemos a ferrovia, que sai
de Cuiabá (MT) a Rondonópolis, passando em Sinop e indo até Miritituba (PA).
Então, usando rodovia e hidrovia e indo para os mesmos lugares, temos uma
economia de 30 a 40 reais a tonelada”, detalhou.
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