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sábado, 20 de fevereiro de 2016

PODER JUDICIÁRIO - 1ª e 2ª Varas do Juizado Especial acumulam 8 mil processos aproximadamente

Processos demoram anos mesmo para pessoas com deficiência, 
que são asseguradas pela lei da prioridade. 





















Há mais de 830 dias, se arrasta no Poder Judiciário o processo promovido por Nacélio Souza Madeiro, universitário de 31 anos, que exige reparos por danos morais provocados pelo Banco Fibra. Mesmo sendo assegurado pela lei 12.008, que confere a ele prioridade no atendimento por ser deficiente visual, a ação tramita a passos lentos na 2ª Vara do Juizado Especial Cível de Marabá, que fica no Fórum Juiz José Elias Monteiro Lopes, situado no Bairro Amapá.
Em novembro de 2013, o estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), entrou com processo porque pagou fatura do cartão de crédito, mas o Banco Fibra alegou não recebimento e negativou o nome dele no SERASA. O pagamento foi provado e a empresa financeira perdeu a causa, mas nunca houve a reparação.
Segundo Nacélio Madeiro, logo em abril de 2014 o juiz de direito, César Dias de França Lins, decretou que o banco teria que pagar uma quantia de R$ 5.000,00 em indenização.
“Tive duas audiências, sendo que numa de 2014 a outra parte não compareceu. Já em abril de 2015, ambas partes compareceram. Porém, estou muito insatisfeito porque meu processo está para ser sentenciado até hoje. Toda vez que vou até o Fórum, eles pedem para aguardar mais dias, ou dizem que mudou o juiz. O que é certo é que a minha prioridade já completou dois anos de espera. Assim não dá”, afirmou.
Madeiro recorreu à Imprensa, enviando carta ao Jornal Opinião, pois considera que está sendo alvo de descaso e morosidade por parte do Poder Judiciário em Marabá.
A reportagem foi ao Fórum, na terça-feira última (16), a fim de averiguar o porquê dessa situação seguir indefinidamente. 
Pelo exposto nos documentos da 2ª Vara, Nacélio é vítima de uma crise estrutural, que deixa o Judiciário de joelhos, sendo a falta de juízes sua principal causa.
De acordo com Nádia Alice, diretora de secretaria, para se ter uma ideia, com o passar do tempo há um acúmulo de 5 mil processos em andamento – 8 mil, na verdade, se forem somados com os da 1ª Vara.
“Desde junho de 2015, por exemplo, a 2ª Vara do Juizado Especial estava sem juiz titular. Não tinha ninguém para trabalhar os processos e ainda não tem. Muito menos servidores e técnicos o suficiente”, enfatiza.
Ainda de acordo com Nádia Alice, no meio desses milhares de ações tramitando em Marabá, há casos de pessoas que vieram do Pacajá para resolver, muitos são amparados pela lei da prioridade, que vão continuar sofrendo, haja vista que existe um conjunto de problemas gerando a demora.  
“Há processos de 2011, que são com prioridade, mas nunca foram resolvidos. As pessoas estão aí aguardando sentença. Nós, servidores, também estamos acumulando funções, pois aqui só existem dois funcionários, para fazer ofício, interagir com o Ministério Público, ficar no atendimento”, observa.
A reportagem não pode ser atendida pela juíza, Adriana Divina da Costa Tristão, que está à frente da 2ª Vara, desde janeiro de 2016. Também com ela estaria o processo de Nacélio Madeiro, apenas aguardando nova sentença. 

ENTENDA O CASO DE NACÉLIO MADEIRO
Nacélio Madeiro (segundo da esquerda) participa do 
Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica 
(NAIA), na UNIFESSPA. E depois de tanto
tempo lutando na Justiça diz que pensa em
desistir de lutar pelos próprios direitos. 

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Há episódios na crise estrutural do Poder Judiciário semelhantes às novelas trágicas, que podem ser vistos na caminhada do reclamante Nacélio Madeiro. O caso dele se torna emblemático por representar milhares de portadores de necessidades especiais.      
Em primeiro lugar, por não ter condição de pagar os honorários advocatícios, ele iniciou o processo pelo sistema Projudi (Processo Judicial Digital) para poder agendar um defensor público que acompanhasse o caso dele. E são poucos. Por consequência, o jovem deficiente sofre na pele a qualidade do serviço.
“Sei que eles ganham muito bem para atender a gente. Mas, por mais que eu procure o meu defensor público, o José Erickson Rodrigues, nunca trocamos uma palavra. Nem uma ligação ele dá”, pontua Madeiro.
Segundo, a sentença favorável do juiz César Lins foi anulada pela juíza relatora em Belém, Márcia Cristina Leão Murrieta. Em dezembro de 2014, ela aceitou recurso do Banco Fibra tão somente porque o endereço deste não foi citado nos autos.
“Entendo que os atos processuais praticados após a citação inválida do recorrente (Banco Fibra) devem ser anulados, razão pela qual determino o retorno dos autos à Vara de origem para regular processamento da ação, (...) devendo, ainda, ser designada nova audiência”, diz a sentença de Márcia Murrieta, em documento pelo órgão Turma Recursal Permanente Exclusiva dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Pará. 
Com isso, a ação de Nacélio Madeira foi retomada com as correções exigidas pela relatora de Belém. E agora, a indenização que o Banco Fibra deve pagar é de R$ 13.560,00 uma vez que o juiz César Lins, novamente, esteve em audiência com as partes, em abril de 2015, e não houve reconciliação.
Tal situação revela um vício no Judiciário, pois, ser houver mais um “deslize” ou “errinho”, o processo do universitário pode, novamente, ser anulado e ter que voltar para origem. Mesmo o fato principal já foi comprovado. Isto é, ele nunca ficou devendo o Banco Fibra.
Por fim, o fato dos juízes terem que revezar no acompanhamento dos casos, demorando anos para sentenciar, faz a crise estrutural ser monumental também. Só o de Nacélio Madeiro já passou pelas mãos de três doutores, César Dias de França Lins, Daniel Gomes Filho e Adriana Divina da Costa Tristão, uma situação que já o fez pensar em desistir várias vezes de lutar contra a injustiça que sofreu.

Vale lembrar que o Tribunal de Justiça do Pará, recentemente, chamou 41 novos juízes para, futuramente, atuarem nas comarcas do estado. Espera-se que Marabá viva um pouco deste futuro. 

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