Mães de Marabá (POESIA POLITICAMENTE INCORRETA) - Anderson Damasceno*
Para dona Nira, mãe de
Anderson e Andressa e Tiago
Marabá é uma mãe,
Que matou seu filho,
Coisa amarga de lembrar.
Mas, quem sabe, com poesia,
Dá pra dessa história falar,
E a todas as mães homenagear.
Marabá é a história da índia,
Que Gonçalves Dias fez consagrar,
Grávida de homem de branco,
A cria, sua tribo não pôde
aceitar.
Se o pai abortou, ela ouviu velho
conselho:
“Seria melhor vivo o enterrar”.
Ninguém aceitava a mistura,
Nem do lado de lá, nem do lado de
cá.
Índio só queria natureza pura,
E português odiaria se “rebaixar”.
Já que é essa a história, digo:
“Tem hora que não dá pra acreditar”.
Já que os dois fizeram um filho,
Assumir era o mínimo a se
esperar.
Ela mãe, ele pai, e Marabá filho,
Suas purezas que ficassem pra lá.
A família natural é o maior bem,
Nem lei ou ideologia a podem
acabar.
Sei que em algum lugar,
A natureza havia de reclamar,
Se os pais não assumem,
Algum resultado isso há de dar.
Mas deixo essa parte pra depois,
Existem polêmicas antes pra
apreciar.
Culpam sempre o homem branco,
E isso é preciso recordar.
A ele é dada a cultura de
violentador,
Veio aqui só pra explorar,
Só pra impingir terror
E mandar todo mundo se lascar.
Só que quem tem mente livre, de
vero,
Consegue lançar mais de um olhar,
Enxerga que no passado
marabaense,
O brasileiro também está.
Índio também matava imigos,
Muito antes das naus aqui chegar.
Disso fala Darcy Ribeiro,
O homem d’O povo brasileiro,
Dou página, parágrafo, e sublinhedo
Essa rima tive que forçar,
Mas posso até emprestar,
E que os mimizentos chorem por lá.
Suas culturas “eram” guerreiras,
Também faziam guerras estrangeiras,
Mesmo que seus semelhantes,
Com arco e flecha, porretes
maçantes,
Mal sabiam o cavalo usar.
Bicho ainda não domesticado,
As ONGs de hoje não gritariam: “Irados”.
E já que o verso é meu, posso
mais um esticar.
Marabá também é a filha,
Mulher de mistura e híbrida,
Sobrevivente daquele conselho
velho,
E imortalizada em românticos
versos.
Nela, Francisco Coelho viu
candura,
Apesar da imagem cruel da literatura.
Não aceita, nem por lá, nem por cá,
Nem por pai, nem por mãe,
Nem por branco, nem por índio.
Ela sente falta de um mimo,
E pensa que nos homens pode
encontrar.
“Mas, tu és Marabá!”
Ao se olhar no espelho d’água,
Vendo em duas metades a própria
cara,
A percepção que tem de si é rara.
Mesmo com a beleza de dois povos,
O seu coração é todo oco,
Não recebe amor de um nem de
outro.
Lá não havia ninguém para pregar:
“Você num piciza de homi, mulé,
Ramo lá! Deixa de ser besta, siá.
Tia Bey disse que vamos esse
mundo dominar”.
E se alguém cantar que é pra o
exemplo de Atenas mirar,
Logo, logo, Belchior vai
encontrar.
Acho que dá pra deixar aqui um
KKK,
E mais uma vez os meus versos
esticar,
Assim os nazi-mortadelas podem ao
Ku Klux Klan me relacionar.
E agora, depois de tanto texto,
E dessa esticada poesia,
Ainda sobra alguma beleza,
Que não seja só cinismo e ironia?
Será que dá pra elogiar as mães,
Todas que tem ou não o nome Maria?
Há sim muitas histórias,
E é preciso que eu as diga.
Aqui também há memórias,
De Severinos e Zacarias,
De Luandinos e Mia Coutos,
De muitas mães e de índias.
Gente que encontra alegria,
Hoje adulto, lembrando da
infância,
Correndo nas ruas da Antônio
Vilhena, ou da Boa Esperança.
Quem sabe correndo na Folha 16,
Ladeiras e ladeiras, esta é a
minha infância.
Por lá tinha uma peixaria...
Teixeira? infância...
Marabá é tão plural,
O bom disso é que não existe
A preocupação de se chegar ao final.
Quem dirá, então, chegar a seu
começo?
Mesmo que eu o tenha feito neste
poema,
De qualquer lugar você pode
começar sua cena.
Esta cidade começa em qualquer
lugar,
Basta que haja uma mãe,
A sorrir, a chorar,
Acompanhada ou solitária.
Existem mães na beira da estrada,
E outras que hoje não voltaram
pra casa.
Quem delas hoje terá sequer um,
Um filho só para a congratular,
Ao menos uma filha pra abraçar e
presentear.
Não me custa acreditar que a
maioria delas,
Fez de tudo pra ver sua criança
brincar,
Correu na ladeira, ou foi atrás de
“retrato tirar.”
Coisa dura é dar um filho,
Por ser pobre não criar,
Passando fome e frio, apesar de
amar.
Pior ainda é o matar,
Pois a natureza de um aborto,
Pode ser tudo, menos amar.
Só que agora me demoro
Naquelas que vim louvar,
Mães de toda minha cidade,
Minha linda Marabá.
Foi aqui que eu nasci,
É onde pude me criar.
Filho de mãe solteira,
Filho de mulher acima das
guerreiras,
Pode passar a sorte de uma vida
inteira,
O melhor presente foi dela eu principiar.
Deus gracioso, Deus divino, mesmo
Sem eu pedir, Ele soube me
abençoar.
A vida dela se confunde,
Não é difícil de se igualar,
A tantas mães que padeceram
Para poder seus filhos criar.
Abdicou de sonhos, passou fome,
Mas conseguiu nos fazer amar.
Sua história não cabe nesse
poema,
Isso também devo falar,
E sem tem um coisa,
Da qual sempre vou me orgulhar,
É que se hoje tenho honra de
homem,
Graças as suas lições, continuarei
a lutar.
*Anderson Damasceno Brito Miranda é natural de Marabá, Pará, nascido a 8 de julho de 1985. Mas, residiu por longos anos em outros municípios do estado como Altamira e Goianésia do Pará. Retornou para a cidade natal em 2004, onde passou a morar, novamente, com a família. Aos 19 anos, fez confissão de fé em Cristo. Em 2005, ingressou para o curso de Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Marabá, onde hoje é o Campus I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). O poeta leciona inglês, português, redação e literatura. Também é repórter, fotógrafo e blogueiro.
*Anderson Damasceno Brito Miranda é natural de Marabá, Pará, nascido a 8 de julho de 1985. Mas, residiu por longos anos em outros municípios do estado como Altamira e Goianésia do Pará. Retornou para a cidade natal em 2004, onde passou a morar, novamente, com a família. Aos 19 anos, fez confissão de fé em Cristo. Em 2005, ingressou para o curso de Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Marabá, onde hoje é o Campus I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). O poeta leciona inglês, português, redação e literatura. Também é repórter, fotógrafo e blogueiro.
Participou do Concurso de Poesia
Professor(a) Poeta(isa) na sua última edição, realizada em 2011, em que
alcançou o segundo lugar. E participa ativamente do concurso anual realizado
pela Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), intitulado Prêmio
Inglês de Sousa, em que logrou a primeira colocação no gênero poesia, durante a
edição do ano 2014.
Atualmente, trabalha no Instituto
de Ensino A+, Colégio Universo, Preparatório de Medicina Everest. Além disso, é
assessor parlamentar e assina o blog Olhar do Alto (OA).
Até outubro de 2016, Anderson fez
parte do coletivo de poetas e artistas do Sarau da Lua Cheia, um evento
artístico e cultural fundado em março de 2013, de caráter itinerante, que
acontece em Marabá, uma vez por mês, promovendo a leitura, o livro e a
divulgação das obras de autores paraenses.
Também foi membro-fundador da
Associação de Escritores do Sul e Sudeste do Pará (AESSP), mas dissidiu por
discordar da mentalidade esquerdista que passou a dominar a direção da
instituição após a queda do governo Dilma Rousseff, que manteve o PT no poder
por quase 14 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário