Anderson Damasceno
Em quantas brigas inférteis eu já me meti? E em quantas delas o motivo, que eu julgava ser o certo, não o era? A energia que eu acreditava valer a pena aplicar não valia. E todo o tempo, que eu sequer me importava em gastar, esse, sim, valia. Porém, todas as brigas foram trocadas por um grande e abstrato nada.
Pior, tudo foi transmutado pela memória do inacabado.
Algumas das improdutivas lutas duraram pouco. Outras duraram anos. E, no final das contas, a conta e os juros da infertilidade só inflacionaram. Muita coisa boa foi abortada. Anos de devoção errada não vingaram. E o coração que pulsava soube que seus pulsos não bombearam nada.
Talvez, vai, bombearam um sangue sisificado... e as pedras erguidas, ou roladas pelos punhos de seu dono, construíram no máximo a mente de sua jornada. Uma mente de travessia. Uma mente em lemniscata.
Bora lá!
Primeiramente, tirar esse tipo lição para continuar vivendo, com sobriedade, a vida, olha, não é nada fácil. Conviver com a autopercepção de que se investiu muito alto num vazio de nada é perturbador. É insonificante!
Foi aos 35 anos, depois dos anos 2020, eu acho, que pude ter algumas experiências com o pânico, com picos de ansiedade e com a perda de sono. Três coisas cujas existências nunca foram empíricas para mim. Ocupavam não a memória do inacabado, mas, quem sabe, alguma parte pequena do Ser. Não nesse grau angustiante, de agora, “e de por anos”, que me fazem olhar minhas mãos improdutivas.
E olha que já perdi sono nos corujões de CS da juventude. Melhor, nas vigílias de fé para uma nova juventude. E ambas não foram improfícuas. Houve boa colheita.
Contudo, esses episódios acontecidos de lá pra cá, possivelmente, só estariam coroando toda a minha violenta infertilidade de briguento. Acredito que estou disposto a admitir isso.
Nem toda briga é justa. Nem todo sacrifício é certo. Vou fazer o esforço de recordar algumas das vezes que lutei por coisas de baixo valor. Confesso que farei um tipo de esforço de quem foge. O tipo de esforço em que se enxerga o mal e se conhece o mal, só que não consegue sobre ele falar. Não consigo detalhar sua face que, por agora, já tem até um pouco das rugas que encontro na minha. Mas estou de uma distância de segurança em que posso fitar.
Sempre há um mal que a gente quer esconder antes que outros o enxerguem como nos os enxergamos. Quem sabe, o medo mesmo seja o de sermos pegos olhando para o nosso próprio mal improdutivo, pois, nesse exato momento, dos que nos olham, muitos podem saber que a gente já se sabia.
É bom encarar o mal. Do mesmo modo que é bom refletir.
E, quem sabe, vou descobrir um dia que as quantas brigas inférteis ao menos puderam me dar um bom e grande nada, para que eu possa carregar, consciente, de que as perdas e os não resultados, que sisificaram, não puderam impedir as novas brigas.
Quando eu falo “brigas” posso estar me referindo a pessoas, a projetos, a sonhos que se criam certos. Sonhos em que eu os cria bons.
E... olha só! Recordei confessando pelo menos duas lutas de improdutividades. Numa, fujo. Noutra, espero que vocês nunca me vejam enquanto estou olhando para mim.