NACIONAL ENERGY

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

UEMA 2018 – Confira dicas e questões sobre romance "Cais da Sagração", de Josué Montello

























Anderson Damasceno 

Conforme anunciei, fiz aqui uma breve pesquisa acerca do romance “Cais da Sagração”, de Josué Montello, uma das três solicitadas no vestibular PAES 2018 - Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior, realizado pela UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), no dia 22 de outubro. O material inclui um pequeno questionário sobre essa obra. O gabarito está nos comentários. Bom estudo e sucesso pra vocês vestibulandos!

CAIS DA SAGRAÇÃO
Dono de uma vasta produção literária, desde crônicas à artigos jornalísticos, Josué Montello nasceu em São Luís – Maranhão, em 21 de agosto de 1917. Foi escritor, jornalista, teatrólogo e professor. Escreveu para a revista Manchete e para o Jornal do Brasil. Trabalhou no governo de Kubitschek, do qual escreveu um livro de ensaios, O Juscelino Kubitschek de minhas recordações (1999,) relatando fatos do país e a atuação do seu governo.
Em 1954, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira 29. Dentre suas diversas importantes obras como Janela Fechada (1941) e Os Tambores de São Luís (1975), Cais da Sagração (1971) conquistou o prêmio Intelectual do Ano pela Folha de São Paulo e pela União Brasileira de escritores, em 1971, e Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília, em 1972.
Sob a perspectiva crítico-analítica, é notável na obra a não linearidade dos acontecimentos, uma vez que, a trama se inicia a partir das crises fortes no peito e da apneia do Mestre Severino. Já no segundo capítulo, o velho barqueiro faz pretensões de casar de véu e grinalda com uma mulher chamada Vanju, mas logo é censurado pelo padre Dourado ao saber que a mesma foi uma meretriz. Aqui é possível observar um outro aspecto interessante da obra, isto é, o constante conflito de valores existente entre as ideias dos personagens e o contexto social estabelecido, neste caso específico, a doutrina religiosa da Igreja Católica.
A história segue com o Severino dentro da sala do Dr. Estevão que, após se submeter a uma rápida avaliação médica, é constatado uma lesão grave no coração.
Mesmo mediante as objeções do médico, o pescador teima em viajar de barco, uma vez que, além de ser o seu instrumento de trabalho, era o seu estilo de vida e uma herança de família. Lucas Faísca, um velho conhecido da cadeia, recebe a visita de Severino que, por sua vez, demonstra a sua insatisfação quanto ao diagnóstico de sua doença e aconselha o seu amigo, que está moribundo, a não se entregar, assim como mostra esse fragmento: “- Faísca – disse ele, com energia, buscando os olhos do outro – você precisa reagir. Reaja, enquanto lhe sobra um resto de força. Se você não reage, a doença toma conta de você. O homem só morre quando se entrega. E você está se entregando. Não faça isso. Eu ainda preciso de você” (1971; pág.: 46).
Observa-se, com isso, que Mestre Severino encarna o espírito destemido de quem não se entrega fácil, um homem teimoso, que insiste em viver a vida considerada por ele a mais correta e digna, mesmo que para isso seja necessário não oferecer credibilidade à autoridade científica instituída, representado pela medicina oficial do Dr. Estêvão.
Há um paradoxo na figura feminina de duas personagens: Vanju e Lourença. Esta, submissa, cuidadosa, entregue às vontades do Severino. Àquela, delicada, de beleza exorbitante. Tal divergência não é sustentada por muito tempo, posto que Severino aspirava ter um menino para dar continuidade à geração, o que o desaponta. Mesmo assim, ele insiste em ter outro filho, mas ela contesta. Não aceitando a sua condição de mãe provedora, Vanju manda Lourença cuidar de sua filha Mercedes, enquanto ela restituía o seu estado anterior: uma vida pacata e sem obrigações. Apenas entretida na vaidade.
Passado o tempo, Mercedes cresce e casa-se com Vicente, que por sua vez, este lhe dá um filho homem, mas ela logo falece. Mais uma vez, Lourença se sente na obrigação de criar o neto de Severino que, já adolescente, demonstra desinteresse em virar barqueiro. O enredo também reporta o leitor às reminiscências do protagonista e ao redimensionamento do passado. Há momentos, no decorrer da história, em que o flashback se confunde com a presente situação ali retratada. Além disso, a linguagem rebuscada, as leves pitadas de humor, as figuras de linguagem, a identidade regional e temas como valores morais e religiosos, morte constituem a trama.

CONFLITO AMOROSO
Inicialmente, um aspecto interessante é a construção do tempo na obra. A sua apresentação é envolvida por quebras constantes no núcleo da memória individual do personagem-chave. É possível considerar então que o tempo se processa psicologicamente. Os fatos vividos pelos personagens não constituem um arquivo de memória, mas objeto de uma construção subjetiva do narrador.
Na subida que o levaria ao Largo da Matriz para a consulta, outro corte abrupto em sua memória; ele se lembra da primeira noite de amor com Vanju em seu barco. Ele a amou naquela noite inesquecível. A beleza da mulher surge como sinal explícito de um sexo carnal e consumado pelo desejo da satisfação do prazer. Naquele dia, ele prometera casar-se com ela, no juiz e no padre, nas leis dos homens e na lei de Deus.
Outra mulher marcante da obra é a personagem Lourença, que vive este drama: ser submissa, ou fazer tudo por amor? Este impasse nos salta aos olhos quando Mestre Severino anuncia à Lourença que vai se casar, e ela ingenuamente pensa ser com ela; ao que ele responde não ser ela a escolhida, mas uma conhecida de São Luís. Lourença, em estado de completa desolação, muda-se de quarto, passando a noite em claro, numa insônia devastadora.
Lourença, então, de maneira resignada, considera que: “a culpa é minha, de mais ninguém”. Isto é, ela aceita a posição submissa de mulher obediente, e passa a preparar a casa para a chegada de sua “substituta”, com dois dias de antecedência. Fato suficientemente plausível para considerar a sua condição de acatar de modo incondicional as determinações de Mestre Severino.
Eis então que surge a imagem da mulher irresistível, mulher da cidade, de nome Vanju. Como nova moradora, chega com sua beleza imponente, dando claros sinais de vir para ficar. Lourença, ao vê-la, mais uma vez se culpa do fato ocorrido: “se eu tivesse um filho, nada disso tinha acontecido”. A sua reação incide a pôr-se a espionar Vanju, aumentando ainda mais a sua dor, de quem não poderia competir com a beleza da nova moradora, que, “mesmo sem se arrumar era bonita”…
Vê-se, com isso, que a situação de Lourença era humilhante, pois agora estava ela na condição de serviçal, diante do casal a saciar-se na mesa do jantar, depois do amor consumado pela volta do Mestre Severino. A sua diligência para com ele agora tramitava as órbitas de uma relação subserviente, onde o cenário figurava em torno de duas personagens principais, e ela, de modo atento e imediato, guardava os bastidores, providenciando todos os elementos cênicos para a concretização do espetáculo montado. Ou seja, a platéia aplaudiria dois atores que tinham tudo a seus pés, sem qualquer esforço ou trabalho. Era certamente a entrega a uma vida determinada pela posição dominante de Mestre Severino. Lourença retrata em sua condição a posição de um papel social pré-determinado como mulher serviçal. Ela não questiona, apenas acata, internalizada pelo suplício de um amor jamais correspondido.
No, entanto, como para quebrar a ordem rotineira das coisas, o inesperado aconteceu, Vanju estava grávida. Ela jamais desejou tal condição. Embora este fosse o sonho de Mestre Severino, ter um filho herdeiro de seu barco. Entretanto, Vanju dá à luz uma menina, a Mercedes, o que deixa Mestre Severino profundamente desapontado. Torturado pela notícia, ele vaga em seu estado de ruína, perguntando a si mesmo: “sem outro homem na família, a quem entregaria o Bonança…?”. Tudo parecia ser fruto de um “capricho da sorte adversa, interessada em castigá-lo”. Inconformado com a notícia, Mestre Severino reage, pedindo a Vanju outro filho, ao que ela responde negativamente, dizendo que bastava o que já havia passado durante o primeiro parto. São as palavras de Vanju: “Não, isso não! Basta o que sofri. Pelo amor de Deus, não me fale de outro parto. Sei que morro, se tiver outro filho”.

Atividades 1
Texto para as questões 1, 2 e 3.
Exposição de fotos recompõe livro "Cais da Sagração", de Montello
27/08/2017 às 07h00

SÃO LUÍS - Entre as atividades de celebração do centenário do escritor Josué Montello (1917-2017), a exposição fotográfica “Cais da Sagração” será reapresentada nesta segunda, 28, às 17h, no Buriteco Café (rua Portugal, 81, Praia Grande). A exposição foi inaugurada na abertura da Semana Montelliana, organizada pela Casa de Cultura Josué Montello, e terá sua primeira itinerância no Buriteco Café que recebeu a mostra no sábado, 26.
A exposição é acompanhada de sarau literário aberto ao público, que pode recitar trechos do livro “Cais da Sagração” e de outras obras do autor em um palco aberto, no Buriteco Café, com acompanhamento musical. O trabalho é de autoria da médica e professora da UFMA, Marizélia Ribeiro, baseado em vários trechos do livro que tem como principais referências históricas e geográficas o Centro Histórico de São Luís, especialmente o bairro Praia Grande.
As imagens são uma recomposição ficcional de um dos principais livros do escritor Josué Montello, “Cais da Sagração”, que deu ao autor o prêmio Juca Pato/Intelectual do Ano, uma das maiores honrarias da Literatura brasileira. O livro publicado em 1971 tem como personagem principal Mestre Severino, que narra suas memórias de um tempo em que o Cais da Sagração (do Porto do Jenipapeiro à Praia Grande) era o principal entreposto comercial e marítimo do Maranhão. A exposição fotográfica Cais da Sagração foi inaugurada na abertura dos trabalhos da Semana Montelliana, realizada na Casa de Cultura Josué Montello.
1. No texto, há o predomínio da função da linguagem
a) conativa, por evidenciar o tom confessional.
b) referencial, por centrar-se no referente ou assunto.
c) fática, por focalizar na manutenção do canal comunicativo.
d) apelativa, por tornar o repórter um cúmplice de sua escrita.
e) metalinguística, por utilizar um código explicando o próprio código.

2. As produções artísticas, mencionadas no texto, podem ser consideradas tanto cultural como política, pois
a) geram a alienação política por meio da doutrinação sociocultural.
b) pretendem arregimentar grupos sociais para a aceitação dos interesses do governo.
c) expressam os planos da classe artística e candidatos populares às campanhas políticas.
d) demonstram os costumes e as necessidades políticas
de uma parcela da sociedade maranhense.
e) exercem o poder de fogo como uma arma e, por isso, é usada tanto por artistas como por políticos.

3. A reportagem anterior apresenta temática histórica, apesar de o fato central acontecer na atualidade. A despeito de trabalhar um tema atual, se destaca na reportagem o fato de
a) caracterizar-se como um texto investigativo por ter sido publicado em jornal.
b) mostrar preocupação acadêmica em produzir bibliografia sobre o tema.
c) reorganizar uma ficção, através da arte fotográfica, de um tema relevante historicamente.
d) possuir declarações de fontes não confiáveis sobre o tema abordado.
e) substituir as obras historiográficas, como faz a mídia atual.

Textos para a questão 4.
                Texto I
Como seria a dona que enfeitiçara Mestre Severino? De si para si, pitando o cachimbo, Lourença queria queixar-se, no teimoso esforço para se compenetrar da injustiça da sorte; mas logo reconhecia que não era direito. Dos dois, pensando bem, quem tinha culpa era ela. Mestre Severino dera-lhe casa, dera-lhe comida, dera-lhe roupa, dera-lhe carinho, tirara-a das mãos do pai que lhe batia, e a verdade é que ela não lhe tinha dado, ao fim de tantos anos, o filho que ele sempre deixava dentro dela, à noite, quando voltava das viagens.
- A culpa é minha, de mais ninguém.
Cais da Sagração, de Josué Montello, p. 68
Texto II
O existencialismo sendo uma doutrina de ação, coloca o homem como ser que exerce plenamente o seu humanismo através de movimentos subjetivos. É também um movimento cultural e de caráter humanista, sendo o humanismo, em linhas gerais, uma filosofia que enfatiza o bem-estar e a dignidade humana, ou seja, procura do seu "eu", único autônomo, autoconsciente racional, na medida em que afirma que o homem deve encontrar-se a si mesmo.
A existência precede a essência. Isso significa que não existe uma natureza humana, (...) não há uma essência precedente, que determina aquilo que cada indivíduo vai ser ou deve ser.
4. Em que medida a personagem Lourença corresponde, ou não, à definição de existencialismo? Valide sua resposta.
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Textos para as questões 5 e 6.
Texto I
Assim, as mudanças urbanas iniciadas na segunda metade do século XVIII, e ampliadas no final daquela centúria e início do século seguinte, foram algo visível. Nesse último período e depois dele, devido o movimento geral do capitalismo industrial no mundo e o livre comércio, a cidade de São Luís também passou por mudanças no seu cenário físico urbano. De todas as
reformas pelas quais a cidade passou, a construção do Cais da Sagração foi uma das mais significativas, pois seus resultados foram sentidos na economia por muito tempo. O impacto da construção do cais sobre a cidade foi forte a ponto de Josué Montello escrever um livro intitulado “Cais da Sagração”, cenário da construção do mesmo e através do qual se desenrola a história do pescador Mestre Severino, de sua amada Vanju e da submissa Lourença, personagens do mar, o qual, mais do que um plano de fundo, manifesta vida.
CAIS DA SAGRAÇÃO: O Processo de Modernização da Cidade de São Luís no século XIX
Texto II
Mestre Severino, inteiriçado na cadeira, não se move, a mão em cima do peito, lívido, as sobrancelhas travadas. A dor lhe viera de repente, agora crescia, alastrava-se para o lado esquerdo, (...) enquanto o velho Cunha, entregue à sua ira, gesticulava, sacudia os fios ralos da cabeleira toda branca, deixando cair as mãos ossudas (...) na tampa do balcão - e com isto espantava o gato gordo, enroscado sobre si mesmo, que dormitava adiante, num vão de prateleira.
- Outra coisa eu lhe asseguro: a Praia Grande não vai morrer sozinha. Com ela irá também o Cais da Sagração. Os barcos vão se passar para o Itaqui. Sem barcos, de que serve o cais? Nem para tomar canoa, para ir à Ponta de São Francisco ou à Ponta da Areia, ele vai ser preciso: a ponte já está aí.
Cais da Sagração, de Josué Montello, p. 389.
5. Sob diferentes perspectivas, os textos citados são exemplos de uma abordagem histórica e literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados.
b) a ironia marca o distanciamento do historiador e do narrador em relação aos atores sociais e personagens.
c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d) o espaço onde vivem os personagens constitui a natureza humana e determina suas relações.
e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

6. Outra passagem do romance, em que ocorre uma abordagem semelhante à da questão anterior se encontra na seguinte alternativa:
a) “Sei perfeitamente o que estou dizendo. Quando eu falo, pode escrever. Por fim, aliviado de sua cólera, pendeu os ombros, alisou uma das pontas do bigode”.
b) “E depois de um silêncio:
- Traga o seu neto aqui, Mestre Severino. Quando quiser. Faço questão de conhecer o rapaz. Diga-lhe que faço questão de ser amigo dele, como sempre fui de seu
avô”.
c) “Pode acrescentar que o crédito que o senhor tem aqui ele também terá. Pelo menos enquanto viver o velho Filomeno Cunha, seu criado”.
d) “Mestre Severino retardou a resposta, ainda pálido, esperando que a dor aliviasse de todo. E assim que pôde falar, respirando a breves haustos, cautelosamente, enxugou devagar o rosto, ergueu o olhar ainda tenso”.
e) “- Hoje de tarde ou amanhã de manhã, trago o rapaz aqui. Não é por ser meu neto, mas o senhor vai ver que é um pedaço de homem, mais alto do que eu, com o cabelo de fogo que eu tinha na idade dele, e caladão, de poucos amigos, como deve ser quem nasceu para viver no mar”.

7. Agora mesmo, se eu não batesse o pé, tornava a não deixar. E o menino em casa, na boavida, se estragando. Ultimamente passa o dia no mato caçando passarinho. Felizmente tirou da cabeça a ideia de ser padre. Era o que faltava. Ainda não largou de todo foi a mania do desenho, que aprendeu na escola.
Aquela caixa de lápis de cor, que a professora lhe deu no dia do diploma, encontrei um jeito de dar sumiço nela. De vez em quando, eu tirava um lápis e jogava fora. Quando ele abriu os olhos, não tinha mais nenhum. Os desenhos que ele fazia não eram ruins. Ele até tem muito jeito para desenhar. Mas nunca fez um barco. Pelo menos eu nunca vi. Com o mar diante dos olhos, nunca pôs o mar no papel. Era uma borboleta, uma boneca (a velha mania da boneca, que quase me fez perder a cabeça), uma casa, um passarinho, um São Luís Gonzaga, uma porta de igreja, uma escada, tudo muito parecido.
Antigamente passava o dia inteiro desenhando e com a Lourença perto dele se babando. Agora, está melhor. Ainda desenha com o lápis preto, mas é só uma vez ou outra.
Cais da Sagração, de Josué Montello, p. 131.
Nesse texto em prosa, e, no contexto em que se emprega as expressões, "batesse o pé" e "perder a cabeça", pode-se afirmar que elas contribuem para
a) marcar a classe social das personagens.
b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.



FONTES:

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

UEMA 2018 – Dicas e atividades sobre o romance "Dias e Dias", de Ana Miranda


























Eu, professor Anderson Damasceno, fiz uma breve pesquisa acerca do romance “Dias e Dias”, de Ana Miranda, uma das três cobradas no vestibular PAES 2018 - Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior, realizado pela UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), no dia 22 de outubro. O material inclui um pequeno questionário sobre essa obra. O gabarito está nos comentários. Bom estudo e sucesso pra vocês vestibulandos!

DIAS E DIAS
Nasceu Ana Maria Nóbrega Miranda em Fortaleza, Ceará e cresceu no Rio e em Brasília. A partir de 1969 radicou-se no Rio de Janeiro e em 2001 mudou-se para São Paulo. Enquanto estava casada com o ator Arduino Colasanti, trabalhou em filmes do cinema novo brasileiro entre 1971 e 1979. Dirigiu o Instituto de Artes da Funarte e foi editora chefe dessa instituição, entre 1977 e 1983. Recebeu formação na área de artes plásticas, cursando o Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília. E era desenhista, ilustrando as capas de seus livros. Teve formação literária com o escritor Rubem Fonseca, entre 1979 e 1989. Em 2006 voltou a morar no Ceará.
Uma breve apresentação da obra “Dias e dias”, autoria de Ana Miranda, livro vencedor do prêmio Jabuti 2003. A história reúne três personagens centrais: Feliciana, uma jovem sonhadora e obstinada; o poeta romântico Antonio Gonçalves Dias, por quem ela nutre longa e intensa paixão, e o sabiá - não um sabiá específico, mas a espécie inteira, que na "Canção do exílio" simboliza a pátria distante. Isso tudo marca o texto com uma rica trama intertextual.
A prática intertextual é um recurso utilizado em diversas situações que envolvem a escrita/leitura de textos. No que se refere à criação do texto literário, é comum vermos os escritores, ao construírem seus textos, inserirem nos mesmos algo que outrora já foi dito. Também é comum encontrarmos, nas obras de Miranda, menção a outros escritores, uma vez que essa prática da escritora já se tornou bastante conhecida pelo seu público.
A estratégia intertextual permite a Miranda escrever um livro a partir de Gonçalves Dias, um romance polifônico, num diálogo crescente e constante entre textos. A narrativa combina história e ficção para contar uma história sobre o amor, os costumes provincianos no interior do Brasil (séc. XIX), a descoberta da cultura indígena, a beleza da poesia e os mistérios da sensibilidade. Estes elementos, que configuram o Romantismo brasileiro, são retomado pelo romance contemporâneo.
No romance, Feliciana toma conhecimento da vida íntima de Gonçalves Dias por meio das cartas enviadas pelo poeta a seu grande amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal. Mostradas a Feliciana por Maria Luíza, esposa de Teófilo, as cartas registram muitas das questões existenciais do poeta. Feliciana descreve de forma emocionante a paixão que as cartas alimentam, e seu relato revela refinamentos da alma feminina. A trama tecida pela autora faz com que o leitor se identifique com Feliciana, uma mulher que desvenda o que sente por meio da escrita e da memória.
As personas menores - o pai de Feliciana, colecionador de sabiás; Adelino, um tímido professor apaixonado por Feliciana, e Natalícia, a doce e severa preceptora - conferem ao livro uma grande riqueza humana.
Gonçalves Dias (1823-1864) é o principal nome da poesia romântica brasileira. Além de "Canção do exílio", compôs os principais poemas da vertente indigenista do romantismo, entre eles "I-Juca-Pirama" e "Leito de folhas verdes". A autora escreve um romance no qual insere marcas biográficas do poeta, bem como passagens de algumas obras. Cabe ao leitor identificar esses trechos pertencentes a Dias.
Com uma narrativa clara e simples, reproduzindo a linguagem do romantismo, Ana Miranda recorda mais uma vez a vida de um de nossos poetas - como fez também com Gregório de Matos em Boca do Inferno -, levando o leitor a uma viagem de encantamento linguístico e conhecimento histórico.

INTERTEXTUALIDADE
Sabemos que a repetição (de um texto por outro, de um fragmento em um texto, etc.) nunca é inocente. Nem a colagem nem a alusão e, muito menos, a paródia. Toda repetição está carregada de uma intencionalidade certa: quer dar continuidade ou quer modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com relação ao texto antecessor. A verdade é que a repetição, quando acontece, sacode a poeira do texto anterior, atualiza-o, renova-o e (por que não dizê-lo?) o re-inventa.
A literatura comparada deixa então de estudar apenas as igualdades existentes entre duas obras e passa a vê-las com uma forma de investigação e interpretação de fatores mais gerais como os aspectos sociais, políticos e culturais que fazem parte da história vivida pelos leitores.
O fator histórico tem a sua importância, uma vez que contribui para que o autor relacione o contexto social vivido no texto literário. O autor vive na história e a sociedade se escreve no texto. O autor então, a partir das leituras dos seus antecedentes, insere em seu texto a sua visão, preservando a do outro e inserindo novas ideias.

ANÁLISE DE DIAS E DIAS
                Podemos identificar na obra como a primeira presença de intertextualidade explícita, a epígrafe, pois a autora já começa apresentando no prefácio de sua obra, um trecho de um dos poemas mais conhecidos de Dias, Canção do exílio. “[...] Nosso céu tem mais estrelas/ Nossas várzeas têm mais flores/ Nossos bosques têm mais vida/ Nossa vida mais amores. [...]”. A narrativa apresenta uma história de amor que por um motivo trágico não pôde se concretizar. O personagem Antônio, é descrito ao longo da narrativa como o próprio Gonçalves Dias, pois os acontecimentos por ele vividos são os mesmos que ocorreram na vida de Dias.
Feliciana começa descrevendo como começou a sua paixão por Antônio. É nesse momento que podemos identificar a poesia Olhos Verdes, de Dias, colocada na história do casal. Ela vai comprar feijão verde na venda do pai de Antônio e quem está na venda é o próprio Antônio. Na embalagem utilizada para colocar o feijão, havia um poema falando da paixão por uma moça que tinha os olhos verdes. A protagonista descobre e começa a criar expectativas. Mesmo sem ter os olhos verdes, Feliciana decide acreditar que aquele poema tinha sido feito para ela.
Para mostrar aquilo que Dias escrevia sobre o índio e o seu universo, Miranda utiliza outro recurso intertextual, a referência.
“Só descobri que eram belos os índios, seus adornos, seus costumes, quando li as composições de Antônio, “I-Juca Pirama”, “Leito das folhas verdes”, “Marabá”, tão encantadoramente líricas, que falam no índio gentil, nos moços inquietos enamorados da festa, índios que às vezes são rudos e severos mas atendem meigos à voz do cantor,[...] tudo o que escreve Antônio em suas composições deixa-me afundada como a flor de “Não me deixes”! (MIRANDA, 2002, p. 30)

Atividades 1
1. [...] ele aprendeu a casar o pensamento com o sentimento, o coração com o entendimento, a ideia com a paixão, a colorir o mundo com sua imaginação, a fundir tudo isso com a vida e com a natureza, a purificar as coisas com o sentimento da religião e da divindade, a descobrir o espírito que o levaria pela vida, a santa Poesia, como ele mesmo diz no prólogo de seu primeiro livro, os Primeiros Cantos.
MIRANDA, Ana. Dias e Dias 2002, p.49
A partir do excerto, é correto afirmar que:
a) no prólogo do livro citado, Antonio Gonçalves Dias escreve em terceira pessoa, enquanto a personagem utiliza a primeira.
b) através de um processo parafrástico, a narradora utiliza as palavras que Dias escreveu no prólogo do seu primeiro livro Primeiros Cantos.
c) para construir sua epígrafe, Feliciana utiliza-se da fala original do outro personagem, compondo uma narrativa intertextual.
d) mesmo sendo utilizadas as mesmas palavras em ambas as obras, podemos verificar que em cada obra o sentido não será distinto.
e) em Primeiros Cantos, o trecho citado faz uma espécie de introdução à obra, e em Dias e Dias esse mesmo trecho serve para compor a vida do personagem Antônio, retratada aos olhos de Feliciana.

2. [...] olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir, estrelas incertas, que as águas dormentes do mar vão ferir; olhos tão negros, tão belos, tão puros, tão meiga expressão, mais doce que a brisa, - mais doce que o nauta de noite cantando,- mais doce que a frauta quebrando a solidão, esses os olhos de Ana Amélia vistos pelos olhos apaixonados de Antônio [...].
MIRANDA, Ana. Dias e Dias 2002, p. 133.
Nesse fragmento, a autora, Ana Miranda, usa o poema Seus Olhos, de Gonçalves Dias, para retratar a visão de Feliciana sobre a personagem Ana Amélia. O recurso aplicado na construção do texto exemplifica o seguinte tipo de intertextualidade:
a) citação.
b) alusão.
c) bricolagem.
d) paráfrase.
e) pastiche.

Textos para as questões 3 e 4.
Texto I
[...] mas eu olhava as margens correndo aos meus olhos e esquecia meus remorsos, tudo me fascinava, a Barriguda, o moinho, a ave assustada, o romper d’alva, os chumaços de folhas de palmeira indaiá que os marujos punham no casco do barco para ajudar na flutuação, o amarrar a barcaça com cordas às árvores para controlar a rapidez da descida e a fim de manter a embarcação na parte que se podia navegar, um estreito canal bem no meio do rio, oh como o mundo era imprevisto. Eu nem merecia isso, as cachoeiras, Angical, Gato, uma flor na rama oculta, a máquina estrelada, o universo equilibrado nos ares, como tudo aquilo era possível? [...]
MIRANDA, Ana. Dias e Dias 2002, p. 164

Texto II
O Romper d'Alva
[...]
Porque as ramas do arvoredo,
Bem como as ondas do mar,
Sem correr sopro de vento,
Começam de murmurar?

Sobre o tapiz d'alva relva,
- Rocio da madrugada -
Destila gotas de orvalho
A verde folha inclinada.

Renascida a natureza
Parece sentir amor;
Mais brilhante, mais viçosa
O cálix levanta a flor.

Por entre as ramas ocultas,
Docemente a gorjear,
Acordam trinando as aves,
Alegres, no seu trinar.
DIAS, Gonçalves. 1969, p. 118
3. O romance estabelece com o poema uma relação:
a) explícita de citação.
b) implícita de alusão.
c) explícita de bricolagem.
d) implícita de paráfrase.
e) implícita pastiche.

4. No texto I, há a descrição de uma paisagem típica do Nordeste, uma vez que esse trecho se refere ao momento em que Feliciana estava viajando para o Ceará, em busca do seu grande amor, Antônio. Comparando ao texto II, pode-se inferir o seguinte equívoco:  
a) somente a narradora descreve o ambiente natural, dando nomes à flora da região.
b) essa característica de exaltar as belezas naturais e modo simples de levar a vida, também era utilizada por Dias.
c) há em ambos a preocupação em mostrar ao leitor as riquezas naturais bem como a sua relação com o homem.
d) no primeiro olhar, a autora de Dias e Dias parece “repetir” a escrita de Dias.
e) após conhecer melhor sobre essas os autores e obras, e também sobre a criação literária, percebemos a relação intertextual.

5. [...] achei, aqui dentro de mim, de meu coração, que Antônio tinha escrito a “Canção do exílio” para mim, porque eu sabia remedar igualzinho o gorjeio do sabiá, então quando ele dizia “as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”, para mim queria dizer que as mulheres do mundo não eram tão primores a desfrutar como as mulheres daqui, isso eu achava e acho ainda, e quanto ao sabiá, Antônio sabia que papai era um colecionador de sabiás, que tinha os mais belos sabiás das matas. [...]
MIRANDA, Ana. Dias e Dias 2002, p. 140
Nesse trecho, o que caracteriza Dias e Dias como texto narrativo?
a) O tom melancólico presente na cena.
b) As conclusões poéticas da personagem.
c) A interferência da narradora no desfecho da cena.
d) O uso de alternância na temporalidade verbal, para construir a ação psicológica.
e) As analogias sobre sabiá e mulheres feitas pela personagem.

Texto para as questões 6 e 7.
Atração pela melancolia
Ana Amélia, uma jovem intensa, inspirada, suave, cismada, coberta pelo prelúdio de uma infelicidade qualquer, e uma segurança pessoal tão grande... disse Maria Luíza. No camarote no teatro, Ana Amélia jamais se interessava em olhar as pessoas, disse Maria Luíza, concentrava-se no que ocorria no palco, o que denotava sua elevação espiritual, Ana Amélia não usava decote e nem usava jóias, nem babados, nem rendas, para seduzir
bastavam-lhe seus olhos negros, seu frescor de aurora, seu cálix de pureza e sua nobreza de ossos, Maria Luíza disse-me que falara a meu respeito para Ana Amélia, e que Ana Amélia comentara sobre meu nome, Feliciana, ela disse que gostaria de ter um nome assim, que fosse um prenúncio de felicidade, ou indicativo de alguém feliz, e Maria Luíza riu, porque conhece-me tão bem...
MIRANDA, Ana. Dias e Dias 2002.
6. Os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. Nesse romance, as reticências foram utilizadas para indicar,
a) no primeiro uso, uma fala nervosa e ambígua.
b) no segundo uso, uma informação implícita.
c) no primeiro caso, uma situação incoerente.
d) no segundo caso, a eliminação de uma ideia.
e) nas duas incidências, a interrupção de ações.

7. Colocando em relevo a caracterização tipológica, nessa passagem do romance de Ana Miranda, e a função da linguagem, é inconteste afirmar que:
a) há uma narração de valor metalinguístico, ao se explicar o sentido do nome de Feliciana.
b) a exposição de Ana Amélia atende unicamente ao apelo poético.
c) predomina a descrição sobre a narração, identificando-se os elementos de referencialidade.
d) o caráter descritivo indica quem, onde e o que as personagens fazem, configurando um tom apelativo.
e) fica em relevo os períodos de narração, marcado pelos recursos que testam o diálogo, o meio de comunicação das personagens, próprio da função fática.  

FONTES:

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

CULTURA DO REINO - Dia 14 de outubro, encontro de apologética debate tema “Homossexualidade”, em obra do pastor e filósofo William L. Craig


























O tema da homossexualidade é abordado pelo pastor William Lane Craig, Doutor em Filosofia pela Universidade de Birmingham (Inglaterra), e Doutor em Teologia pela Universidade de Munique (Alemanha), no capítulo 7 do livro "Apologética para questões difíceis da vida".
E, nessa oportunidade, queremos convidar os jovens universitários e do ensino médio para participar de um encontro ancorado nesse tema. Vamos debater os principais pontos apresentados no texto.

Data: Dia 14 de outubro (Sábado)
Horário: 19h30 às 21h
Local: Na minha housedência – Ao lado do campo de futebol Parque São Jorge (Bairro Bom Planalto).

PROGRAMAÇÃO
19h30 - abertura do Cultura do Reino (Pr. Anderson Damasceno)
19h45 - Vídeo sobre o tema (Pr. Claudio Duarte)
20h - Principais tópicos capítulo 7 (Homossexualidade), do livro "Apologética para questões difíceis da vida".

#Participe #Estude #Apologética

sábado, 7 de outubro de 2017

PASSEATA - População e autoridades fazem manifestação repudiando violência contra a mulher em Marabá



















Na quinta-feira última (5), o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher (COMDIM) promoveu uma manifestação pública, contra a recorrente violência que tem vitimado as mulheres, em Marabá e região. Em parceria com a Coordenadoria da Mulher e o Fórum de Mulheres, as autoridades e representantes da sociedade civil organizada realizaram uma passeata, na Marabá Pioneira, de mãos dadas com as comunidades do espaço urbano e rural da cidade.
O ponto de partida foi a Praça do Palacete Augusto Dias (antiga Câmara Municipal), onde a presidente da Coordenadoria da Mulher, ex-vereadora Julia Rosa, e o bispo diocesano, dom Vital Corbellini, agradeceram aos populares que compareceram no ato de protesto à escalada de violência.
A Câmara Municipal de Marabá (CMM) participou da manifestação com a presença das vereadoras, Irismar Melo, Priscila Veloso, Cristina Mutran, e dos assessores dos vereadores pastor Ronisteu Araújo, Cabo Rodrigo, irmão Morivaldo, irmão Edinaldo e Ray Athie.
Segundo a vereadora, Irismar Melo, essa passeata é uma forma de cobrar o devido respeito às mulheres.
“Nos últimos anos, avançamos muito na questão jurídica de defesa da mulher. Porém, é necessário que isso seja executado. Nossa luta não é uma aniquilação contra homens, o que queremos aniquilar é a violência. Que prevaleça o respeito e amor”, defendeu Irismar.
Para uma das organizadoras da marcha, advogada Claudia Chini, um dos culpados pelo clima de insegurança é o governador do estado, Simão Jatene.
“Também é importante que os vereadores de Marabá abram o caminho, como fiscais do executivo, e cobrem a estrutura para o funcionamento da Coordenadoria da Mulher de Marabá”, afirma.
Na ocasião, houve uma sessão de depoimentos ao ar livre.
Mães e familiares comunicaram ao público o duro sofrimento de quem já perdeu filha, irmã, mãe, amiga ou colega de trabalho para crimes hediondos. “Estou aqui para pedir justiça, para que esse homem não saia da cadeia. Ele não pode passar só cinco anos lá e depois sair no natal ou na páscoa. Eu nunca mais terei natal ou páscoa com a minha filha”, cobra a mãe de Dara Vitória Alves da Silva, de 16 anos, assassinada no final de agosto.

Além disso, as crianças de escolas do município entoaram coros reivindicando paz e justiça.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ENEM 2017 – Ainda dá tempo de baixar o aplicativo e ficar por dentro das informações

Com o app você acessa os dados da sua inscrição, cronograma,
local de prova e cartão de confirmação de inscrição.



















Anderson Damasceno 


“Tá chegando a hora”. E a sensação é de que os estudantes, de todo o Brasil, estão a menos de um mês da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mas, é falta precisamente 31 dias, pois a realização da primeira prova será no dia 5 de novembro.
E ainda está em bom tempo para baixar o aplicativo Enem 2017.
Com o app você acessa os dados da sua inscrição, cronograma, local de prova e cartão de confirmação de inscrição.
Além disso, após o exame, pode conferir o gabarito e até o seu resultado.
Baixa lá!