Comecemos pelo lead, pela notícia do
dia, porque o início dessa história está lá atrás, em junho do ano passado. Já
conto. O Setorial LBGT (lésbica, gays, bissexuais e transgêneros) do PT
divulgou nesta quinta uma nota de repúdio ao senador do partido Lindberg Farias
(RJ). O que ele fez? Num discurso em plenário, solidarizou-se com o pastor
Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, que está sendo acusado de homofobia pelo
Ministério Público Federal. Mas o que fez, afinal de contas, o pastor? Então
agora é preciso recuar a junho do ano passado.
O tema da marcha gay de 2011, em São Paulo,
a maior do país, fazia uma óbvia provocação ao cristianismo: “Amai-vos uns aos
outros”. Nem eles nem os cristãos são ingênuos, não é? O “amar”, no caso,
assumia um conteúdo obviamente “homoafetivo”, como eles dizem. Como provocação
pouca é bobagem, a organização do movimento espalhou na avenida 12 modelos
masculinos, todos seminus, representando santos católicos em situações
“homoeróticas”.
Tratava-se de uma agressão imbecil a um
bem, destaque-se, protegido pela Constituição. Na época, escrevi:
“Sexualizar ícones de uma religião que
cultiva um conjunto de valores contrários a essa forma de proselitismo é uma
agressão gratuita, típica de quem se sente fortalecido o bastante para partir
para o confronto. Colabora com a causa gay e para a eliminação dos
preconceitos? É claro que não! (…) Você deixaria seu filho entregue a um
professor que achasse São João Batista um, como posso dizer, “gato”? Que visse
São Sebastião e não resistisse a o apelo ‘erótico’ de um homem agonizante,
sofrendo? O que quer essa gente, afinal? Direitos?”
Ah, sim: a proposta então, não sei se
levada a efeito, era distribuir 100 mil camisinhas que trouxessem no invólucro
a imagem dos “santos gays”. A hierarquia católica fez um muxoxo de protesto,
mas nada além disso. Teve uma reação notavelmente covarde. O sindicalismo gay
reivindique o que quiser! Precisa, para tanto, agredir a religião alheia?
Embora, por óbvio, não seja católico, Malafaia reagiu em seu programa de
televisão. Afirmou: “É para a Igreja Católica entrar de pau em cima desses
caras, sabe? Baixar o porrete em cima pra esses caras aprender. É uma
vergonha!” Ele acusou os promotores do evento de “ridicularizar os símbolos
católicos”. Teve, em suma, a coragem que faltou à CNBB!
Pois é. O Ministério Público viu na sua
fala incitamento à violência!!! Ah, tenham paciência, não é? O sindicalismo gay
tem de distinguir um “pau” que fere de um “pau” metafórico — ou “porrete”.
Alguém, por acaso, já viu católicos nas ruas, em hordas, a agredir pessoas?
Isso não acontece em nenhum lugar do mundo! O contrário se dá todos os dias: o
cristianismo, nas suas várias denominações, é a religião mais perseguida do
mundo, especialmente na África e no Oriente Médio. E, no entanto, não se ouve
um pio a respeito. A “cristofobia” é hoje uma realidade inconteste. A homofobia
existe? Sim! Tem de ser coibida? Tem! Mas nem as vítimas desse tipo de
preconceito têm o direito de ser “cristofóbicas”!
É evidente que “baixar o pau” ou
“porrete”, na fala do pastor, acena para a necessidade de uma reação da religião
agredida — legal, se for o caso. É uma metáfora comuníssima por aí afirmar que
alguém decidiu pôr outrem “no pau”, isto é, processá-lo: “Fulano pôs a empresa
no pau”, isto é, “entrou com um processo trabalhista”. Os cristãos, no Brasil,
não agridem ninguém. Mas são, sim, molestados, a exemplo do que se viu há dias
numa manifestação contra o aborto. Faziam seu protesto de modo pacífico, sem
agredir ninguém, quando o ato foi invadido por um grupo de abortistas. Estes
queriam o confronto, a agressão. Ganharam uma oração.
A ação contra Malafaia, na verdade, tem
um alcance maior. Ele é um dos mais notórios críticos da tal lei que
criminaliza a homofobia — e que, de fato, avança contra a liberdade de
expressão e a liberdade religiosa. Os que cultivam os valores da democracia não
precisam, no entanto, concordar com o que ele diz para reconhecer seu direito
de deixar claro o que pensa.
Vejam como autoritarismo e hipocrisia
se cruzam nesse caso. Os agressores — aqueles que levaram os “santos gays” para
a avenida — se fazem de vitimas e, em nome da reparação a um suposto agravo,
querem punir um de seus críticos. É um modo interessante de ver o mundo: os
sindicalistas do movimento gay acham que, em nome da causa, tudo lhes é
permitido. E aqueles que discordam? Ora, ou o silêncio ou a cadeia!
É assim que pretendem construir um
mundo melhor e mais tolerante.
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