Na noite de terça-feira última
(10), iniciou a II Semana Pan-Amazônica: Entre-lugares, Culturas e Saberes, um evento
que reúne estudantes e professores, promovido pela Universidade Federal do Sul
e Sudeste do Pará (Unifesspa), situada na Folha 31 – núcleo Nova Marabá. A
abertura ocorreu na Câmara Municipal de Marabá (CMM), com mesa oficial
constituída por docentes do GPELLC-PAM (Grupo de Pesquisas e Estudos
Linguísticos, Literários e Culturais Pan-amazônicos), ligados à Faculdade de
Estudos da Linguagem (FAEL) na Unifesspa.
Artistas locais, escritores
e pesquisadores de várias instituições acadêmicas marcaram presença e vão
abordar estudos sobre a linguagem, a literatura e cultura da Pan-Amazônia ao
longo da programação.
A professora da
Unifesspa, Luciana Kinoshita, atuou como apresentadora do evento.
Na composição da mesa
oficial, os coordenadores do GPELLC-PAM, Gilson Penalva e Eliane Soares,
receberam os pesquisadores convidados. Entre estes, Nilsa Brito, coordenadora
do mestrado na faculdade, e Antônio Botelho, do Galpão de Artes de Marabá
(GAM).
Após o toque do hino
nacional, organizado pelos estudantes do curso de Letras, Estefani Marina e
Avelino Rodrigues, a doutora da Unifesspa, Isabel Rodrigues, abriu com
agradecimentos aos professores que se empenharam na realização desse encontro.
Rodrigues tratou da
relevância dos estudos e debates acerca das culturas na Pan-amazônia.
Antônio Botelho, mais
conhecido como Botelhinho, afirmou o papel artístico dos vários atores locais. “Ao
refletir a paisagem local devemos apresentar o cordão umbilical”, pontuou.
Júnior Ceceu, secretário-adjunto
de cultura, reconheceu a necessidade que a região tem de valorizar e trabalhar
a cultura local.
Nilsa Brito parabenizou
a iniciativa da dupla de coordenadores e acentuou o que essa linha de evento pode
resultar. Segundo Brito, as temáticas dos “GPs” vão trazer linhas de pesquisa
grandemente produtivas e o espaço de interlocução com outros pesquisadores,
provenientes de outras academias.
Palestra
– Depois que se desfez
a mesa oficial houve um breve contratempo. A palestra prevista, que seria
apresentada por Ernani Chaves, renomado pesquisador na área de literatura e
cultura amazônica, foi adiada. Houve atraso no voo de Chaves.
Mas, o debate continuou
com a exposição dos coordenadores da II Semana Pan-Amazônica, ao lado do geógrafo,
Marcos Mascarenhas Barbosa Rodrigues, e Deise Botelho, também do GAM, que
formaram uma nova mesa. A mediadora desta discussão foi Isabel Rodrigues.
Na fala de Eliane
Soares, a memória de Nelson Mandela recebeu ênfase por causa do ativismo
cultural. Soares também apontou a nova turma de magistério indígena, que passou
por solenidade de formatura no dia anterior. “Pena que muitas autoridades que
defendem esse segmento não estavam lá. Defendem pelo menos no discurso”, citou.
A preocupação com a condição
da arte dos povos índines tomou grande parte do estudo apresentado por Gilson
Penalva. Que editora se propõe a editar livros de autores indígenas, a
compreensão da noção de autoria como plural, a metáfora na perspectiva do índio
e a classificação clássica dos gêneros literários – épico, lírico e dramático –
foram questões então esclarecidas. “Como
viver no mundo sem metáforas? Ao invés de eu representar eu me relaciono com o
mundo”, colocou Penalva.
Ainda conforme o
coordenador, repensar a escola brasileira, dessacralizar
o livro e trabalhar a literatura fora do sistema são formas de trazer o
conhecimento indígena para as sociedades tradicionais. “O sistema indígena tem
muito a ensinar a forma brasileira de educar”, avalia.
Deise Botelho agradeceu
pelo convite. Para ela o GAM tem sido um espaço aberto à discussão e exposição
das experiências de cada sujeito, e, após o programa Cultura Livre, arquitetado
por Gilberto Gil, quando ministro da cultura, trouxe uma nova lógica de cultura
à sociedade.
“A cultura da periferia
passou a ser reconhecida. Nesse processo conseguiu se avançar um pouco mais em
Marabá”, recorda.
Mascarenhas tratou do
modelo ideológico que existe. Ele entende que a produção econômica mineral e
rural não condiz com as necessidades da cultura. A geografia vê na literatura
uma ferramenta documental, que registra “afetos e perceptus” do povo indígena. “Isso provoca uma postura de
resistência. E defesa”, considera.
Ele observou também que
a trilogia de Dalcídio Jurandir é especial para a criação do ideário caboclo na
Ilha do Marajó.
Participantes
– No público, além da
maioria de estudantes universitários, estavam o advogado e poeta, Ademir Brás, e
o vereador, Ubirajara Nazareno Sompré.
Haroldo Cunha, do
conselho federal da OAB e procurador do município, questionou a metáfora na
visão dos indígenas, contrapondo a visão exposta por Penalva ao colocar que, “milenarmente”,
os índios fazem isso.
Cunha deu detalhes da “corrida
da tora”, ritual indígena no qual ele tentou perceber o verdadeiro significado,
já que parece uma “atitude brutal”. "Na verdade, eles buscam o reencontro
com eles mesmos, do que ficou lá atrás, se reconhecerem e serve para se
afirmarem enquanto seres...", notou.
Cunha ainda criticou severamente
a mineradora Vale, notando que “os índios entram com o pescoço e ela com a
guilhotina”. Na visão do advogado, a Vale deposita dinheiro todo mês a fim de
que os índios fiquem calados. Para ele, essa má ética do capital está
funcionando "debaixo dos nossos narizes" e somente “a universidade
pode socorrer a diversidade indígena".
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