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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

II SEMANA PAN-AMAZÔNICA - Ontem (10), Câmara Municipal de Marabá recebeu abertura do evento



Linhas de pesquisa e debates provocam concepções de cultura do saber homogêneo e elitista
Na noite de terça-feira última (10), iniciou a II Semana Pan-Amazônica: Entre-lugares, Culturas e Saberes, um evento que reúne estudantes e professores, promovido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), situada na Folha 31 – núcleo Nova Marabá. A abertura ocorreu na Câmara Municipal de Marabá (CMM), com mesa oficial constituída por docentes do GPELLC-PAM (Grupo de Pesquisas e Estudos Linguísticos, Literários e Culturais Pan-amazônicos), ligados à Faculdade de Estudos da Linguagem (FAEL) na Unifesspa.
Artistas locais, escritores e pesquisadores de várias instituições acadêmicas marcaram presença e vão abordar estudos sobre a linguagem, a literatura e cultura da Pan-Amazônia ao longo da programação.
A professora da Unifesspa, Luciana Kinoshita, atuou como apresentadora do evento.
Na composição da mesa oficial, os coordenadores do GPELLC-PAM, Gilson Penalva e Eliane Soares, receberam os pesquisadores convidados. Entre estes, Nilsa Brito, coordenadora do mestrado na faculdade, e Antônio Botelho, do Galpão de Artes de Marabá (GAM).
Após o toque do hino nacional, organizado pelos estudantes do curso de Letras, Estefani Marina e Avelino Rodrigues, a doutora da Unifesspa, Isabel Rodrigues, abriu com agradecimentos aos professores que se empenharam na realização desse encontro.
Rodrigues tratou da relevância dos estudos e debates acerca das culturas na Pan-amazônia.
Antônio Botelho, mais conhecido como Botelhinho, afirmou o papel artístico dos vários atores locais. “Ao refletir a paisagem local devemos apresentar o cordão umbilical”, pontuou.
Júnior Ceceu, secretário-adjunto de cultura, reconheceu a necessidade que a região tem de valorizar e trabalhar a cultura local.
Nilsa Brito parabenizou a iniciativa da dupla de coordenadores e acentuou o que essa linha de evento pode resultar. Segundo Brito, as temáticas dos “GPs” vão trazer linhas de pesquisa grandemente produtivas e o espaço de interlocução com outros pesquisadores, provenientes de outras academias.
Palestra – Depois que se desfez a mesa oficial houve um breve contratempo. A palestra prevista, que seria apresentada por Ernani Chaves, renomado pesquisador na área de literatura e cultura amazônica, foi adiada. Houve atraso no voo de Chaves.  
Mas, o debate continuou com a exposição dos coordenadores da II Semana Pan-Amazônica, ao lado do geógrafo, Marcos Mascarenhas Barbosa Rodrigues, e Deise Botelho, também do GAM, que formaram uma nova mesa. A mediadora desta discussão foi Isabel Rodrigues.
Na fala de Eliane Soares, a memória de Nelson Mandela recebeu ênfase por causa do ativismo cultural. Soares também apontou a nova turma de magistério indígena, que passou por solenidade de formatura no dia anterior. “Pena que muitas autoridades que defendem esse segmento não estavam lá. Defendem pelo menos no discurso”, citou.
A preocupação com a condição da arte dos povos índines tomou grande parte do estudo apresentado por Gilson Penalva. Que editora se propõe a editar livros de autores indígenas, a compreensão da noção de autoria como plural, a metáfora na perspectiva do índio e a classificação clássica dos gêneros literários – épico, lírico e dramático – foram questões então esclarecidas.  “Como viver no mundo sem metáforas? Ao invés de eu representar eu me relaciono com o mundo”, colocou Penalva.
Ainda conforme o coordenador, repensar a escola brasileira, dessacralizar o livro e trabalhar a literatura fora do sistema são formas de trazer o conhecimento indígena para as sociedades tradicionais. “O sistema indígena tem muito a ensinar a forma brasileira de educar”, avalia.
Deise Botelho agradeceu pelo convite. Para ela o GAM tem sido um espaço aberto à discussão e exposição das experiências de cada sujeito, e, após o programa Cultura Livre, arquitetado por Gilberto Gil, quando ministro da cultura, trouxe uma nova lógica de cultura à sociedade.
“A cultura da periferia passou a ser reconhecida. Nesse processo conseguiu se avançar um pouco mais em Marabá”, recorda.
Mascarenhas tratou do modelo ideológico que existe. Ele entende que a produção econômica mineral e rural não condiz com as necessidades da cultura. A geografia vê na literatura uma ferramenta documental, que registra “afetos e perceptus” do povo indígena. “Isso provoca uma postura de resistência. E defesa”, considera.
Ele observou também que a trilogia de Dalcídio Jurandir é especial para a criação do ideário caboclo na Ilha do Marajó.
Participantes – No público, além da maioria de estudantes universitários, estavam o advogado e poeta, Ademir Brás, e o vereador, Ubirajara Nazareno Sompré.
Haroldo Cunha, do conselho federal da OAB e procurador do município, questionou a metáfora na visão dos indígenas, contrapondo a visão exposta por Penalva ao colocar que, “milenarmente”, os índios fazem isso.
Cunha deu detalhes da “corrida da tora”, ritual indígena no qual ele tentou perceber o verdadeiro significado, já que parece uma “atitude brutal”. "Na verdade, eles buscam o reencontro com eles mesmos, do que ficou lá atrás, se reconhecerem e serve para se afirmarem enquanto seres...", notou. 
Cunha ainda criticou severamente a mineradora Vale, notando que “os índios entram com o pescoço e ela com a guilhotina”. Na visão do advogado, a Vale deposita dinheiro todo mês a fim de que os índios fiquem calados. Para ele, essa má ética do capital está funcionando "debaixo dos nossos narizes" e somente “a universidade pode socorrer a diversidade indígena".




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