Anderson Damasceno
Na terça-feira última (20), os estudantes da Escola Estadual
de Ensino Médio Walkise da Silveira Viana, situada no Bairro São Félix 2,
realizaram a culminância do projeto “Educação tem cor? Outros olhares para a
Educação com diversidade na escola”, que recebeu a visita expressiva da
comunidade. No período de 07 de novembro a 20 de dezembro, as salas de aulas e
o corpo da escola se tornaram um espaço para trabalhos interdisciplinares, que
serviram de preparação para o evento final.
Segundo o professor, José Evandro, o objetivo do projeto “Educação
tem cor?” é implementar a lei 10.639/03, que versa sobre o ensino de história e
cultura africana, como obrigatório na educação básica.
“No Brasil, a gente sabe que a educação é direcionada aos
ricos e brancos. Por isso, a gente tem a intenção de indagar e dar outros
olhares para a diversidade com educação”, afirma Evandro.
Na ocasião, Bruna Pardim e Andressa Scardua, organizadoras
do Encontro de Crespos e Cacheados de Marabá (ECCM), foram prestigiar o evento.
Ainda no mês de novembro, Bruna Pardim, idealizadora do Encontro, Queziah Matos
e Diego Vieira foram até o Walkise a convite dos professores José Evandro e
Nelma Braga, que coordenam o projeto, e compartilharam um pouco da história e
alguns dos desafios em quase dois anos do ECCM.
EVENTO – A programação
do Walkise foi constituída de dois momentos.
Durante a tarde, uma série de exposições estavam abertas à
apreciação do público. O alunado utilizou a nave da escola – salas e pátio –
para fazer a comunicação de trabalhos e pesquisas sobre temas diversificados. Apartheid,
Quilombos no Brasil, comidas e sabores da África, leituras ancestrais e outros
estavam no currículo.
Logo à noite, ocorreram apresentações artísticas e culturais.
A abertura foi feita com a performance “Corpos diversos”,
encenada por Vanda Mello, que atua no coletivo Grupo de Ação Cultural (GAC).
Em seguida, a turma do 1º ano 01 fez a performance: “Criação do mundo segundo a
crença Iorubá” e a do 1º ano 02 apresentou uma paródia a respeito da
conscientização. Por sua vez, os alunos do 3º ano fizeram uma dança do maculelê
mesclado com o calipso, em homenagem à cultura paraense. Após isso, a galera do
1º ano 03 realizou uma dramatização acerca da condição da mulher.
OA – O autor
deste blog, além de professor e repórter, é pastor evangélico e, como tal, não
poderia deixar de tecer alguns comentários sobre o evento e se posicionar, uma
vez que a questão da (in)tolerância religiosa se torna mais urgente no Brasil.
Então, deixo aqui três reflexões.
Em primeiro lugar, penso que o sucesso desse evento na
Escola Walkise Viana foi possível por ter uma equipe de professores disposta a
construir o conhecimento em parceria com o alunado, o que faz toda a diferença.
Além disso, esse sucesso também advém da equipe de
professores buscar outras formas de se adquirir e comunicar o conhecimento já
construído, ou, redimensioná-lo, aprimorá-lo, criticá-lo, através dos vários
meios de diálogo com os estudantes e se valendo das tecnologias que temos hoje.
Em segundo, para termos um perfil de aluno mais esclarecido,
com bom senso, apto à vida em sociedade, é importante não rotular nem deixar
que o estudo e o debate sobre cultura seja monopolizado por uma visão progressista.
É necessário que, no espaço escolar, outros pontos de vistas sejam ouvidos, por
exemplo, como o ponto de vista de pessoas conservadoras como eu e muitos
outros. Do mesmo modo, e para ampliar os exemplos, é preciso ouvir a visão de
mundo de um estrangeiro. Nessa pluralidade, podemos dizer que os alunos,
seguramente, serão formados democraticamente. E isso é imprescindível e inalienável.
Por fim, embora eu dedique meu mestrado aos estudos
comparados entre meus dois autores prediletos, João Guimarães Rosa, brasileiro,
e Mia Couto, moçambicano, confesso que é necessário refletir sobre cultura
brasileira, europeia e africana, sem a apaixonada visão de esquerda (que
anteriormente citei como progressista). Na atualidade, existe um estado de
coisas que tende a prestigiar a africanidade e a negritude, enquanto apequena os
brancos e europeus. E de pronto me coloco contra isso. Também há uma onda que
endeusa a religiosidade de matriz africana à medida de demoniza a deidade de
quem é cristão. O que rechaço veementemente. Isso não é igualdade.
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