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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

FOI POR CIÚME – ARTIGO DE OPINIÃO
















Anderson Damasceno

Rolou nas redes sociais de Marabá, ligadas à Imprensa local – blogs e sites – e aos cidadãos de modo geral – WhatsApp, principalmente – os fatos de um crime motivado por ciúmes. Uma narrativa bastante conhecida, o ex-cônjuge da vítima faz uma vil negociação para que uma(s) pessoa(s) cometa(m) o homicídio, porque o pagante do delito se sente mal e enciumado, já que a vítima segue a vida em novo relacionamento.
Às vezes, só segue, e mesmo assim padece injustamente.     
E nesta manhã de segunda-feira (26), resolvi comentar sobre as “justificativas”, melhor dizendo, quais seriam as “razões” motivadoras do crime. Isso me levou a refletir sobre alguns pontos.
Sei que, aqui na região sudeste do Pará, não é diferente de qualquer outra parte do Brasil, onde existe uma militância feminista, metida a progressista, que vai rotular esse crime de mais um caso bárbaro de violência contra a mulher. Mas, a narração foi naqueles termos por ter, pelo menos, três entendimentos a respeito: i – seria bárbaro mesmo que a vítima fosse homem; ii – mulheres também pagam para matar ex-cônjuges, ou elas próprias o fazem; e, iii – muita vez, os enciumados mandam matar somente o novo parceiro ou a nova parceira da vítima.   
Acrescento um quarto entendimento. O objetivo deste artigo é falar sobre a pobre motivação do crime. Ciúmes é algo ligado ao comportamento humano – em parte natural e em parte aprendido – que afeta a conduta de homens e mulheres.
Não vou citar nenhum autor aqui, como faço costumeiramente, para provar isso porque, a grosso modo, nunca vi nada na natureza humana que não seja em parte aprendido e em parte inato. O fato é que precisamos lidar com isso.
Já li que o ciúme faz parte de evolução humana. Isso mesmo, agradeçam ao evolucionismo, pois, quem não desenvolvia esse sentimento refinado era logo extinto, na pré-história. O ciúme “ajudava” a criar a ideia de bando, em que o macho defendia “sua fêmea e sua prole”. Prova disso, seriam os fósseis de fêmeas grávidas encontrados sozinhos, estando ela longe do grupo.
Também já li que é culpa da sociedade de mercado, do capitalismo, que depende do princípio de propriedade privada. Daí, o enciumado trata as relações afetivas de modo mercantilizado e, a partir do momento que você perde o valor (a ruptura da relação), o sujeito ou sujeita pensa que pode se desfazer de um “bem material” do jeito que quiser. Sendo assim, em sociedades socialistas, ninguém sente ciúme de nada, em?! Ou, ninguém teria impedimento nenhum de se relacionar com ex-mulher ou ex-marido de ninguém. Só não aconselho a tentar tomar o país de um ditador socialista, por vias democráticas, porque ai o ciúme te leva pro fuzilamento rapidinho. 
Sei também que, se eu fosse pesquisar sobre a origem da palavra ciúme, iria me aproximar da compreensão do conceito de zelo. A etimologia parece até boa, todavia, não se faria saudável sujarmos o que há de bom na ideia de zelo com crimes motivados por ciúmes. O zelo é, necessariamente, altruísta e não egoísta como o ciúme.
A reflexão central que trago aqui não deixa de ser uma das mais antigas, a saber, “Conhece-te a ti mesmo”. 
Conhece-te a ti mesmo? Esta é uma reflexão que vem desde os gregos, na antiguidade clássica. Sei que existem reflexões mais antigas e melhores, contudo, passo a refletir daqui prafrentemente em alguns pontos do Evangelho em que a pessoa precisa entender a natureza que tem e ser juíza de si.
De antemão, vale ressaltar que a formulação da doutrina cristã no seio do império romano, durante o primeiro século, conforme diz Benedito Nunes, na obra Introdução a filosofia da arte (olha eu citando autor rsrs), foi responsável pela desestabilização, embora Cristo não tivesse a intenção de derrubar Roma, assim como Lutero não tinha em acabar com o catolicismo. A meu ver foi um dos maiores exemplos de ação contra-cultural.
Retomando, a Bíblia Sagrada diz que o homem deve examinar a si mesmo; que o ódio é danoso e que o ódio também é uma forma de homicídio. Jesus revela ainda que a contaminação de uma pessoa vem do que sai de dentro dela. Então, se somos juízes de nós mesmos e temos livre arbítrio, cabe a cada pessoa julgar aquilo que permite sair do próprio interior, seja por palavras ou atitudes. Afirma ainda que cada pessoa tem que ter sua opinião bem formada na própria mente.
Então, por que não se investe em mais tempo para o autoconhecimento, para pensar em como nos sentimos, o que somos ou não? Refletir se existe um ciúme controlável e lúcido do que se é capaz, bem como existe um ciúme insano e cego, que não mede esforços para ferir e aniquilar?  
É tão ruim assim olhar pra dentro de si e tentar entender o labirinto dos sentimentos? Não, não é. Só dá muito trabalho, e custa tempo. Custa também uma angústia que se vai sentir, talvez relacionada com a grande confusão que é ser apaixonado por alguém que dava sentido à nossa vida, mas que faz bem resolvermos dentro de nós, poupando a todos de uma escravidão por sentimentos intransigentes.
Não defendo uma solução definitiva para os sentimentos descontrolados – coisa que o ciúme pode se tornar –, mas sim, um caminho que se possa sempre traçar. 
Precisamos nos conhecer de tal maneira que temos esperanças em atitudes que produzem um resultado melhor, em favor da vida. Assim, quando essa confusão retorna e os sentimentos voltam a entrar em conflito, podendo ocasionar em ações fatalistas como a de um crime, nossos sentimentos somados ao que pensamos da vida e de nós mesmos se tornam um caminho, que alguns podem chamar de fuga, porém eu diria ser um caminho que é de gente grande não só no tamanho.
Quero deixar bem claro que não estou dizendo que ciúme é crime. A última coisa que se pretende neste momento é acirrar a crise psicológica de alguém a respeito de si ou de algum conhecido. Porém, acredito que o mais positivo e feliz é termos em mente que há sempre uma escolha, uma decisão, reservada para quem entende que o ciúme pode sempre existir, assim como a solução mais justa, a preservação da vida como o bem maior.










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