"Não remova os marcos antigos."
Provérbios
Construindo-se de muitas pequenezas, com dores ainda por passar, vindas de futuras cicatrizes que provam suas travessias por marfim e morfina, a Felicidade resolveu aparecer. Tão esbelta, atraente, porém, perambuladora... Esquecida, de repente, de que sua construção só terminaria quando, pra si, parassem todos os relógios.
Ela está, agora, de pés calçados bem. Sem
perceber que a sola gasta na jornada do tempo era o que dava sentido a seus
pés. Cada passo era a bem-aventurança. A Felicidade conseguia ser bem feliz no
meio do caminho.
Houve tempos de desgraça, em que feminina conduzia
sua solidão e fome. Seu rosto era limpo pelas próprias lágrimas. Poucos davam
alguma palavra a ela. Racionavam olhar, negavam esmola. E só seguia. Fazia de
tudo para que o nada não consumisse sua pureza e devoção. Virtudes, herdades da
fé dos que a deixaram.
Ela atravessou a sombra até chegar em
tempos escuros. Naquela época, a família pouca. Só dois. Sem pai, sem mãe.
Parentes distantes. A vida adulta batendo à porta e sabe-se lá, oh Deus, de
onde a Felicidade tirava aquilo, fibra e sonho, coisas que só se procuram com
olhos tidos por aqueles que não significam nada.
Como pode? A resignação e a persistência
ao sonho de quem tem pouco para sobreviver guardarem em si uma tênue linha fronteiriça
com o show business.
Sua história de interrompida. Tantas formas
de privação viraram coisa de cinema. Queriam enlatar e podiam. Isso era pra ser
bom. Até que enfim podia chegar em todos os lugares que fora impedida de ir. No
regular das vezes – como o é para a maioria –, os chãos que Felicidade tentava
caminhar possuíam barricadas, sujas de um vinil tocador de velhos males: exploração,
luxúria e diminuição da mulher. As miseráveis!
Contudo, os holofotes finalmente...
Luzes tão fortes. A cegueira.
Finalmente, estava no ar. Aparecendo para
todos na propaganda, nos canais nobres, nos shows de renome. Contratos por anos
que talvez atravessariam os de suas cicatrizes. Grandezas que criavam nela um
novo senso de si como em Divertidamente 2. Não é justo que deixar Felicidade
ir ao ar a faria em pedaços. Que para uma nova adolescência perdida regrediria.
Ela estava em todas as TVs do país. Novelizando... podendo até reclamar dos
seguidores de Jesus como fez a Bruna Marquezine.
Sua nova história feliz foi também
interrompida. Explodiu. Menosprezou sua pequenez de valor. Não defendeu as
lições daqueles olhos que um dia teve. Estava no ar e no imenso nada.
Esqueceu-se que era menor que o vento. Evaporada, pra gente não mais enxergar.
Quem diria que Marcelo D2, com João e
Maria, cheios de regalia, teriam algo a ensinar? Coisa que se ouvia no Winning
Eleven, do Play 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário