CONFERÊNCIA CRESCIMENTO SOBRENATURAL

CONFERÊNCIA CRESCIMENTO SOBRENATURAL
No próximo sábado (26), a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) do Bairro Independência, sede da Região 337 em Marabá, será palco da Conferência Crescimento Sobrenatural, um evento que promete reunir fiéis e líderes religiosos em uma programação especial.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

COMPLEXO DE ÉDIPO, SOB A ÓTICA DE J. –D. NASIO, APLICADO À OBRA DE TEOLINDA GERSÃO, A ÁRVORE DAS PALAVRAS

(Pesquisa elaborada enquanto estudante de Letras na Universidade Federal do Pará - UFPA, hoje interiorizada como Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA)
CONCEITOS DO COMPLEXO DE ÉDIPO, SOB A ÓTICA DE J. –D. NASIO, APLICADOS À OBRA DE TEOLINDA GERSÃO, A ÁRVORE DAS PALAVRAS – ENSAIO ENTRE LITERATURA E PSICOLOGIA
Anderson Damasceno Brito
Introdução
Psicanalista e psiquiatra clínico, Juan-David Nasio, lecionou por trinta anos na Universidade de Paris VII-Sorbonne e atualmente dirige os seminários psicanalíticos de Paris. Tem mais de dez títulos publicados no Brasil, destacando-se: Lições sobre os 7 conceitos cruciais da psicanálise; O prazer de ler Freud; Como trabalha um psicanalista? e O livro da dor e do amor. 
No livro Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa, Nasio faz uma análise acerca das principais questões em torno do complexo, tomando como base parte dos pensamentos de Freud, Lacan e, minimamente, de Dolto. Ele não deixa de ressaltar mais vezes sua postura dialogando com os mestres. É de fato um livro sobre o conceito mais crucial da psicanálise, que abre as portas dessa ciência para o leigo e sumariza o complexo de Édipo para os especialistas. São as implicações na vida social, seja no âmbito familiar, educacional e artístico, e as questões em torno desse conceito que compõem o propósito deste artigo.
Desenvolvimento
            O título do livro já aponta um princípio que acarreta parte do status científico dedicado ao complexo, ou seja, observa-se a universalidade do complexo de Édipo. “Nenhuma criança escapa”. De fato, há uma lei imprescindível arrolada na estrutura genética do Homo sapiens, que determina seus estados biológicos e psicológicos, por mais vária que seja, ela implica em cada situação que um indivíduo esteja submetido.
Ressaltando Freud, Nasio explicita esse “fado” por ser a criança um ente herdeiro de certo esquema filogenético, que será realizado mesmo que suas experiências pessoais não sejam deliberadas (p. 132). Diz-se deliberadas, em virtude do complexo acontecer (na criança) a despeito de qualquer coisa, até mesmo de ser o adulto (pais) consciente de tal realidade.
Respondendo a um dos porquês sobre o complexo, Nasio assegura: “Porque nenhuma criança escapa à torrente das pulsões nela desencadeadas entre os três ou quatro anos de idade, e porque nenhum adulto de seu círculo imediato consegue evitar desempenhar o papel de alvo das pulsões e de canal para drená-las.” (p. 6). E, na parte de abertura do livro, o autor tenta definir o status do complexo de Édipo como polivalente, híbrido, uma vez que tem em sua conjuntura: realidade, fantasia, conceito e mito. Contudo, vale assegurar que: “para o psicanalista que somos, o Édipo permanece antes de tudo uma fantasia” (p. 14). O que para Nasio é muito claro definir, devido às imagens forjadas no inconsciente da criança não se consumarem como tais na realidade; a criança não vai descarregar suas pulsões sexuais da mesma forma como os adultos comumente o fazem.              
            Antes de entrarmos no Édipo do menino e no da menina, é importante validar o quanto foi significativo as confissões e os casos clínicos de homens e mulheres, para a descoberta do complexo de Édipo; bem como que solução ele traz aos trabalhos clínicos; e o que é o “Falo” para a criança e para a psicanálise.
Por observar as recordações de caráter sexual que os pacientes adultos tinham, ou melhor, quando o psicanalista tentava puxar pelo fio da memória alguma cena ou sensação adormecida, que leva a uma experiência sexual do adulto (quando criança), experiência forjada ao nível da fantasia, é que o complexo de Édipo foi de certa forma se comprovando. Os pacientes adultos conseguiam relatar, trazer a consciência essa “aventura sexual” com seus pais.  Não foi o advento das ciências em torno da psique nem mesmo a comprovação desse estágio, obrigatoriamente universal, e por que não dizer tão insolúvel quanto marcante na vida de cada pessoa, que geraram o complexo. O complexo existia muito antes da ciência descobri-lo.
Nasio esclarece que o complexo de Édipo foi descoberto por Freud a partir do relato de cenas de sedução, que seus pacientes adultos acreditavam ter vivido na infância; pois o complexo:
não é uma realidade observável, mas uma fantasia sexual forjada pela criança sob a pressão de seu desejo incestuoso. O conteúdo dessa fantasia é frequentemente uma cena de sedução sexual exercida pelo adulto. [...] embora criada na infância e sempre em ação no adulto neurótico, deverá ser reconstruída pelo analista ao longo do tratamento. (pp. 132 - 133)
E a solução que o conceito do Édipo oferece está no fato de entendermos como se forma a identidade sexual, de homem e de mulher, no ser humano. Dependendo de como for o “ciclo” edipiano deste, poderá se encontrar a razão de seus sofrimentos neuróticos. Nasio defende que sexualidade e neurose estão extremamente ligadas pelo que “a neurose resulta de uma sexualidade infantil perturbada, interrompida em sua maturidade, hipertrofiada ou, ao contrário, inibida” na relação com seus pais. (p.67).
Assim sendo, o Édipo traz à luz a compreensão de como um adulto neurótico se formou (identidade sexual e neurose) por causa do caminho que o desejo incestuoso percorreu. Nasio explica essa relação citando Freud: “O desejo de ter um filho com a mãe nunca falta no menino, o desejo de ter um filho do pai é constante na menina, e isso quando são totalmente incapazes de fazer uma idéia clara do caminho que pode levar à realização desses desejos.” (p.133).
No menino e na menina o Falo é uma fantasia de ser onipotente, é o canal das sensações erógenas. Ele representa a fonte do desejo na criança. O Falo é algo imaginário e faz a criança sentir-se onipotente com seu pênis, pênis enquanto objeto mágico de desejo. Embora seja o menino o portador do pênis como órgão máximo de sensações prazerosas, para Nasio, na cabeça tanto do menino como da menina há a presença do Falo. Isso é o que Freud chama de fase fálica. “Durante essa fase, as crianças, meninos ou meninas, acham que todas as criaturas do mundo são dotadas de um Falo, isto é, que todas as criaturas são tão fortes quanto elas.” (p. 23).
No menino, o percurso do Édipo pode ser vário. Tudo começa com os três desejos incestuosos que podem tomar conta do corpo do menino. Desejo enquanto aquilo que nos leva a buscar o prazer na carne do outro (p. 25). Acerca desse desejo, Nasio pontua: “É um desejo virtual, nunca saciado, cujo objeto é um dos pais e cujo objetivo seria alcançar não o prazer físico, mas o gozo” (p. 25); o corpo dos pais configura o desejo incestuoso como o padrão de todos os outros desejos, uma vez que representa a alegoria de retorno ao estado de beatitude que a criança possuía em sua fase intra-uterina (p. 26). Ainda que por um breve momento, o gozo nos remete ao estágio pleno de satisfação no qual outrora a criança esteve, e/ou nós estivemos.
Há o desejo de possuir o corpo do outro, geralmente o da mãe; ou desejo de ser possuído pelo outro, isto é, o pai; e o desejo de suprimir o corpo do outro. De alguma forma, em meio suas fantasias na fase edipiana, o menino realiza um desses desejos; e é mister compreender que “a cena fantasiada não é obrigatoriamente consciente e que ela com freqüência se traduz na vida cotidiana da criança por um sentimento,  um comportamento ou uma fala” (p. 28). Muito menos sem o adulto perceber, algumas atitudes propriamente infantis ou que uma pessoa, ao olhar certo menino, diz que não entende o porquê dele puxar algo (como a barra da saia da mãe), pode estar presenciando um momento de realização sexual ante os seus olhos, mas que de fato ocorre ao nível virtual dos desejos fantasiosos da criança. Outro exemplo prático Nasio oferece em:
Ser espancado pelo pai é uma fantasia que satisfaz parcialmente o desejo incestuoso de um menino de ser possuído sexualmente pelo pai. A dor física torna-se então prazer sexual. A propósito, observemos que um incidente traumático de grande violência física ocorrido na infância ou na adolescência pode determinar em um homem a posição sexual passiva (masoquismo) em relação a um parceiro masculino ou feminino que o domina e degrada. (p. 134)
            Além do desejo e das fantasias, o menino sofre a angústia da castração, pois passa a perceber que seu Falo pode ser perdido. Aqui entra a imagem que o pai pode assumir perante cada uma das três fantasias que o menino pode ter. O pai repressor ameaça o menino em sua relação com a mãe, proibindo-o de realizar em sua mãe o Falo; o pai sedutor ameaça abusar do menino, roubando sua virilidade; e o pai rival que mais uma vez ameaça o falo do menino, e que este deseja destruir o pai.
            A menina percorre o complexo de Édipo em três fases. Na primeira, a fase pré-Edipiana, ela também deseja possuir a mãe, pois esta é quem primeiro a amamenta, quem limpa seu ânus e a satisfaz, o que a torna objeto de desejo da filha mediante as sensações clitoridianas (p.50). Porém, quando a menina percebe que a forma de seu Falo é diferente do menino, o que a leva a buscar no corpo masculino sua realização, ela passa a querer um pênis maravilhoso. Ela está entrando na fantasia da privação porque a mãe não poderá ajudar munindo-a de um pênis. A menina sofre por perceber que “perdeu” o que nunca teve e se subtrai do corpo da mãe resoluta, em dor, decepção, solidão. Essa é a segunda fase.
            Então, para resolver sua situação, sendo movida pela inveja do Falo, a menina vai procurar no pai quem a possa doar a onipotência. O psicanalista descreve esse estágio, pois, “agora um novo personagem entra em cena: é o pai maravilhoso, grande detentor do Falo. É quando a menininha magoada e sempre ciumenta volta-se para ele a fim de se refugiar e se consolar, mas também para lhe reivindicar seu poder e sua potência” (p. 54). Agora sim a mulher está na fase Edipiana. Só que há um problema, o menino para resolver sua situação com Falo se acovarda ante a lei que o pai lhe imprime, mas a menina, jamais poderá fugir sob a pena de nunca encontrar o Falo.
            Então, o que ela faz? “A menina aceita recalcar seu desejo de ser possuída pelo pai, sem com isso renunciar à sua pessoa. Enquanto o menino Edipiano resigna-se a perder a mãe por covardia, por sua vez, a menina, que nada mais tem a perder, obstina-se audaciosamente a se apoderar do pai. [...] Ela mata seu pai fantasiado, mas o ressuscita como modelo de identificação” (pp. 56-57). Encontrando tangencialmente uma saída para sua privação, agora a menina está pronta a sair do Édipo com as ressalvas de que sua identificação é dupla: a feminilidade da mãe e a virilidade do pai são assimiladas (absorvidas); e que sua feminilidade permanece um enigma não-resolvido (p. 58). Desta forma, quando mulher, ela transformará seu desejo de ser possuída pelo pai no desejo de ser possuída pelo homem amado. Em resumo, Nasio diz, sobre as três fases:
A fase pré-edipiana, na qual a menina em posição masculina deseja a mãe como objeto sexual; a fase que designo como “dor da privação”, durante a qual a menina fica sozinha, mortificada e com inveja do menino; e, finalmente, a fase propriamente edipiana na qual a menina é arrebatada pelo desejo feminino de ser possuída pelo pai. (p. 135)
            Antes de adentrarmos às neuroses que o adulto, homem ou mulher, pode carregar em todo seu tempo de vida, vejamos os frutos básicos que o complexo de Édipo pode gerar.
            Basicamente, o supereu e a identidade sexual que o indivíduo vai assumir são conseqüências de sua passagem pelo complexo de Édipo. Vimos a pouco que a mulher, terminada suas fases edipianas, vai incorporar o pai e a mãe, principalmente esta, pois a mãe é quem dá o equilíbrio no processo psicológico da menina; e a incorporação do pai supõe (significa) que a incorporação do supereu do pai foi plausivelmente feita. Para compreendermos o supereu do pai, vejamos o que acontece com o menino quando supera o complexo de Édipo.
Segundo Nasio, o supereu é uma instância psíquica criada no menino por causa do complexo de Édipo. “O supereu é instituído graças a um gesto psíquico surpreendente: o menino abandona os pais como objetos sexuais e os mantém como objetos de identificação. [...] apropria-se deles como objetos do seu eu; [...] assimila a moral deles” (p. 40); os valores, sentimentos e o comportamento do indivíduo é operado, controlado pelo supereu. Citando Freud, o que acontece: “o complexo é abandonado, recalcado, destruído radicalmente no caso mais normal, e um supereu severo é instituído como seu herdeiro”.
            Uma questão específica acerca de nosso pai psíquico – o supereu – é o que Nasio aponta como fatores determinantes sob o tipo de supereu que será instituído no indivíduo. Para Nasio: “Nosso supereu pode ser muito severo ou muito tolerante, segundo a velocidade e a violência do recalcamento do complexo de Édipo” (p. 136); de certo, nesse ponto o adulto responsável pela criança, pode agir deliberadamente, ou não, sem prejudicar o bom andamento da fase edipiana da criança. E, novamente ressaltando Freud, Nasio especifica as determinantes do supereu:
O supereu tentará reproduzir e conservar o caráter do pai, e quanto mais intenso for o complexo de Édipo mais rapidamente se dará o recalcamento e mais intenso, também, será o rigor com que o supereu reinará sobre o eu enquanto encarnação dos escrúpulos de consciência, talvez igualmente de um sentimento de culpa inconsciente. (p. 136)

            Ouve-se comumente, no âmbito dos estudos da psique, a noção de neurose. Esta se divide entre ordinária – tomada com fruto de um Édipo mal recalcado –, e a mórbida – como resultado de um Édipo traumático. A neurose: “É um sofrimento psíquico provocado pela coexistência de sentimentos contraditórios de amor, ódio, medo e desejos incestuosos para com quem se ama e de quem se depende” (p.93); podendo ocorrer na criança uma vez que o complexo de Édipo é a primeira experiência desse tipo que a criança passa. Além disso, a mesma se dá em adultos, pois considera-se a neurose como a reativação do Édipo na fase adulta. Nasio defende que:
As fantasias edipianas, mal recalcadas na infância, reaparecem na idade adulta sob a forma de sintomas neuróticos. Em outras palavras, a neurose de um adulto é explicada pela intensidade com que ele viveu seu prazer sexual de criança e pela violência ou labilidade com que ele recalcou. (p. 136)
Assim sendo, ter alguma neurose ordinária é o normal no ser humano. Já a neurose mórbida possui peculiaridades mais “perigosas”.
Nasio defende que a neurose ordinária continua em nossa dia a dia devido a pessoa nunca realizar, nem evitar completamente, as torrentes de seus desejos incestuosos. Todos nós, portanto, continuamos “no conflito com as criaturas que amamos intimamente porque continuamos sempre a desejá-las com ardor” (p. 95) e essa neurose ocorre porque a dessexualização dos pais edipianos foi insuficiente.
            Já a neurose mórbida que engendra o sujeito dentro de um caso patológico. Ela se divide em: fobia, quando uma criança sofre algum abandono, real ou imaginário, provocando grande aflição; obsessão, quando a criança é vítima de maus-tratos que também pode ser fantasiosa ou não; e por fim a histeria, quando a criança passa por um contanto excessivamente sensual com o adulto de quem depende (p. 95).
           
Aplicação dos conceitos
            Selecionei uma passagem do romance A árvore das palavras, de Teolinda Gersão, cuja narrativa tem como fio condutor a história da protagonista-narradora (Gita) que, por meio de um olhar sensível e lúdico, convida-nos a incursionar em suas lembranças. Na primeira parte da obra, Gita, ainda criança nos apresenta a casa branca, representada por sua família — brancos pobres, pertencentes a Moçambique — e a casa preta e o quintal, representados pela ama-de-leite, Lóia. Nesse espaço, encontraremos possíveis cenas que demonstram o encantamento, e por que não dizer encantamento erotizado (no sentido de que é rico em realização do complexo de Édipo), de Gita por seu pai Laureano.
Tal cena tomo como exemplo de fantasia que se passa na cabeça da criança, Gita, projetando nos adultos o seu Falo. E como certas brincadeiras podem gerar o prazer na mesma, levando em conta as questões a cerca do Édipo feminino.
Cena I
            E logo ali a casa se dividia em duas, a Casa Branca e a Casa Preta. A Casa Branca era a de Amélia, a Casa Preta a de Lóia. O quintal era em redor da Casa Preta. Eu pertencia à Casa Preta e ao quintal. (p.10)         
Mas o melhor momento é à noite, antes de eu adormecer, quando ele pega numa caixa de música que tem em cima um gato que dança. [descrição do gato na caixa de música] Tudo me intriga e me fascina, porque é um gato invulgar, de quem nunca se pode pensar, como de Simba, que é cunhado do gato bravo e sabe ainda muitas coisas da floresta.
                Laureano dá a volta à manivela e ele gira sobre si próprio ao som da música – notas leves, metálicas, que lembram vagamente um som de timbila. Ocorrem-me perguntas – por razão se veste assim e usa aqueles sapatos? – mas não quero falar para não deixar de ouvir, e terei adormecido antes de ele ter acabado de dançar.
            Em troca deste gato e da sua música jogarei um jogo contigo. Assim, quando chegas á tarde, e chamas, entrando pela porta: Giiiiiitaaaa... – só o silêncio responde, a casa parece vazia e sonolenta. Porque eu não estou, como à hora do almoço, à tua espera à janela, transformei-me num animal pequeno, escondido em passos furtivos atrás do guarda-louça. E tu deixaste de ser tu, és agora um animal grande chegando, fatalmente chegando, cada vez mais perto.
Sinto-te caminhar, invisível, por entre os móveis da entrada, empurrando a porta da sala, farejando o ar, à procura, por debaixo das mesas e por detrás das cortinas, enquanto eu quase desapareço na sombra, com o coração a bater cada vez mais. Sabendo que nada me dará tanto prazer como esse instante de quase terror em que me encontras, quando ainda não és tu, nem és sequer um homem, mas o desconhecido, o animal, o monstro, entrando de repente em casa e violando a sua ordem antiga.
Ser encontrada é uma morte, um júbilo, o passar de um limite. Por isso eu grito, de terror, de gozo, e de espanto. E então tu pegas em mim e seu sei que estou à tua mercê e que, como um animal vencedor, me poderás levar contigo, para o outro lado da floresta. Sim, e esse instante é uma pequena morte jubilosa. Triunfas sobre mim e, como se me devorasses, eu desapareço nos teus braços. Mas de repente continuo viva, como se voltasse à tona de água, do outro lado de uma onda gigantesca.
E agora és de novo tu, de novo homem, o homem amado desta casa. Vejo o teu rosto, o teu corpo, os teus olhos sobretudo, e não sei como foi possível ter estado alguma vez no teu lugar o animal. Ou o mal. Porque agora me é familiar como o vento e a chuva. (p.13)

            É uma passagem bastante rica em elementos fálicos, em fantasias eróticas que assumem a roupagem do lúdico – brincadeira pai e filha. Bem como vemos uma carne de criança transbordante de desejo incestuoso. Primeiramente, Gita diz que pertence à casa Preta e não à casa Branca (representante da mãe), isto é, ela já se encontra na fase edipiana, pois já superou seu pré-Édipo. O assistir ao pai com a caixa de música é uma fantasia de sedução do pai, uma atração para com a filha, um ato que a fascina. Após isso, Gita propõe um brincadeira com o pai, e como ela conhece a floresta, os animais, e vê seu comportamento de se esconder, ela transporta essa realidade animal para si e para o pai.
            A aceitação do jogo é visto na busca do pai por Gita. Então, os acontecimentos que se prosseguem: o bater da porta, o farejar já desejo sendo consumado, o coração que bate cada vez mais são sinônimos de excitação ascendente. A brincadeira faz do terror um prazer. A pulsão de vida e morte começa a ser patente nessa parte; até os termos usados (prazer, terror, morte, júbilo, grito, gozo, morte jubilosa) não disfarçam mais o que a brincadeira realmente é.
            Contudo, como foi estudado, o pai na realidade não viola sexualmente sua filha, mas a vontade desta explode nessa busca de ter o pai. Pelo menos na fantasia, esse pai vai violá-la primeiro porque a “ordem antiga da casa” não vale mais, ou seja, a lei que proíbe o incesto não vale mais. Só que, para isso ser possível, é necessário se romper um limite. É necessário morrer; morrer como uma passagem que vai levar à floresta, esta enquanto o lugar onde o gozo da criança pode continuar sem impedimentos.
            Só que tudo o que é bom passa. Sim, a onda passou, a turbulência das excitações sexuais no corpo da menina foi descarrega na carne do pai, este a devorou. Passada a onda, só resta mais uma vez cai em si, se “destransformar” de animal para ser humano, a realidade irrompe com a fantasia e a destrói. Os olhos do pai agora revelam que a lei anti-incesto, na verdade, continua e o pai não é mais aquele animal que deu gozo a ela, e sim, o homem amado. De qual casa? Da casa Branca, onde a plenitude não existe. Agora, será que outra brincadeira virá no outro dia? Gita precisa esperar, como se esperam as ondas; e também dormir e acordar, semelhante as ondas que vem e que vão.
            Eis o fim, vento e chuva são inorgânicos, mas se movem como se tivessem uma vida agindo por trás. A vida de Gita volta a ser familiar como o vento e a chuva; só que em seu inconsciente permanece um desejo pela interação tempestuosa dos dois, vento e chuva, que a levará novamente para as ondas de prazer que sua carne fora afundada (mergulhada), até chegar ao gozo, à plenitude.
Referências bibliográficas:
GERSÃO, Teolinda. A árvore das palavras. São Paulo: Planeta, 2004.
NASIO, Juan-David. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
           



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

9ª EDIÇÃO - Penúltimo Sarau da Lua Cheia em 2013 foi realizado com festa na Biblioteca Municipal Orlando Lobo

Sarauistas curtem grande noite na Biblioteca Orlando Lobo



Creusa Salame canta em homenagem a Dona Mariana
Na noite de quinta-feira última (21), houve a realização do IX Sarau da Lua Cheia no prédio da Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo, situado ao longo da Avenida 5 de Abril, no Bairro Marabá Pioneira. O evento itinerante, que incentiva a valorização de diversos gêneros de arte, tem cativado os participantes e quebrado tabus. Grandes talentos tem se revelado para a sociedade marabaense, com qualidade que pode surpreender a opinião pública.
Claudia Borges e Marluce Caetano, funcionárias da Orlando Lobo, organizaram a penúltima edição do sarau em 2013. Ornamentada no formato tradicional e bem informal, a roda de bate-papo feita com pessoas que apreciam a arte também se torna uma oportunidade de encontro, para se descobrir novas amizades.
Luan lê monólogo "Lembranças"
Na ocasião, a estudante da Escola Municipal Tereza Donato, Dona Mariana da Conceição, encantou a todos com a voz e coração dedicados à canção própria. A artista plástica, Creusa Salame, se sentiu motivada a cantar em homenagem a “Dona Mariana”, forma carinhosa pela qual é conhecida perante os amigos e professores onde cursa o sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O poeta Adão Almeida, também estudante daquela escola, recitou alguns de seus textos e revelou que o livro logo estará no prelo. “Marabá Guaridas” é título desta obra.
O professor, Raimundo Nonato, felicitou aos alunos, Adão Almeida e Dona Mariana, observando que a escola Tereza Donato tem grandes artistas. Nonato leu mais um texto poético de Almeida que homenageia a João Brasil, ilustre poeta marabaense, que não esteve presente nesse sarau.
Mais à frente, a poetisa da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), Eliane Soares, aproveitou a menção feita a João Brasil e colocou em relevo a obra e a vida deste escritor. Soares revelou ser estudante animada do peso cultural que o autor representa.
Do lado dos tímidos sempre tem alguém audacioso. Carol Iarla Leite, advogada, leu poema feito ali mesmo por Felix Mourão que não quis interpretar. O feito ganhou os aplausos, especialmente porque o conteúdo dos versos enaltecia os quatorze filhos.
Tudo poesia – Mais atrações se destacaram na noite do Sarau da Lua Cheia. Além de teatro e música, o artesanato chamou a atenção dos sarauistas e de Claudio Feitosa, secretário municipal de cultura.  
Os artistas, Claudimar e Luan Mendes, ambos colaboradores da Biblioteca Municipal Hosana Lopes de Abreu, localizado no Bairro Liberdade (núcleo Cidade Nova), apresentaram dramatizações.
Enquanto Claudimar representou um monólogo, enfatizando a condição humana e as diferenças étnicas, Luan leu um monólogo intitulado “Lembranças”.
Novamente, Marluce Caetano pediu a palavra e ressaltou obras de artistas e artesãos.
Por onde passa, os populares e artistas locais reconhecem a rica experiência que a interação poética proporciona. Durante o evento, Suely que é natural do Goiás ficou impressionada com o evento e também pediu a palavra a fim de parabenizar a iniciativa.
Música – Outra personalidade que não esteve presente, mas embelezou edições anteriores do sarau cantando com viola em punho, é Xavier Santos. Airton Souza, poeta da ALSSP, falou em nome do amigo ausente, largamente conhecido como Javier Santo e que deixou uma mensagem afetiva aos sarauistas.
Clauber Martins também contou causo de criança  
Embora a falta fosse sentida, a noite teve um clima musical multiplicado. A cantoria de evento foi bastante acompanhada pelo público conduzido por notas de Jorginho Rufá e Clauber Martins.





Jorginho Rufá deu cara nova a canção Belém Pará Brasil








Banquete de livros está na mesa

BIBLIOTECA COMUNITÁRIA - Na quarta-feira última (20), Hosana Lopes de Abreu recebeu escritores do projeto Circuito Literário

Comunidade de leitores
Alguns dos representantes da Biblioteca Hosana Lopes de Abreu. No centro,
Lara Borges está ladeada pelo escritor Salomão Larêdo e o poeta Adão Almeida
 

Acervo tem prestado enorme auxílio a estudantes na comunidade
Na tarde de quarta-feira última (20), a Biblioteca Comunitária Hosana Lopes de Abreu, situada ao longo da Avenida Adelina, no Bairro Liberdade (núcleo Cidade Nova), recebeu os artistas que realizaram a última etapa do “Circuito Literário” em Marabá, um projeto financiado pelo Banco da Amazônia (BASA) que visa estimular uma cultura de leitores. Os populares que frequentam a biblioteca, entre crianças, jovens e adultos, vieram prestigiar o encontro. 
Os escritores paraenses, Salomão Larêdo e Bella Pinto, atenderam ao convite de Lara Borges, coordenadora da biblioteca, e trataram da importância de levar incentivos, oficinas e palestras sobre a arte literária a vários municípios do Pará.
Após a recepção do público, uma mensagem bíblica, baseada no Livro dos Salmos, abriu as exposições. Reunidos numa das salas do prédio, o poeta marabaense, Airton Souza, fez a apresentações dos escritores convidados.
Segundo Larêdo, a valorização da cultura e arte locais é a bandeira que deve ser defendida. “Valorizar o que é nosso e o escritor local. Eu trabalho com a formação de leitores com um espírito crítico. Gosto de apoiar e incentivar leitores, pois, acredito que só faremos uma revolução social, investindo em educação”, enfatiza Larêdo, que é autor de quase 40 livros e jornalista.
Larêdo narrou uma experiência com outra biblioteca comunitária localizada num dos bairros de Belém, Tenoné.
De acordo com Lara Borges, a comunidade e entidades civis e religiosas contribuem com o serviço social desempenhado na Hosana Lopes de Abreu. “Como instituição, nós agradecemos e respeitamos a apoio de todos”, afirma.
Bella Pinto, representante da Fundação Tancredo Neves, destacou a importância da leitura na formação da comunidade bem como a valorização dos escritores da região amazônica.
“No projeto, a comunidade é chamada a comparecer, fazer eventos junto com a gente. E fico muito feliz por conhecer essa biblioteca. Embora seja simples, entendo que tudo começa de forma modesta e com pessoas empenhadas como as que vemos aqui”, pontuou.
A escritora assumiu o compromisso de incluir a instituição no cadastro de bibliotecas municipais, que funciona na Fundação Tancredo Neves, o que vai beneficiar com livros, treinamentos para atender a comunidade e técnicas para cuidar do acervo.

Mensagem bíblica, baseada no Livro dos Salmos, abriu as exposições


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CIRCUITO LITERÁRIO - BANCO DA AMAZÔNIA - Ontem (19), finalizou em Marabá projeto que estimula leitura

Escritores paraenses 
Escritores se confraternizam ao final do Circuito Literário

Murilo Ferrete acompanha narração de
crônica pela escritora Vânia Ribeiro 
Marabá recebeu a última etapa do projeto Circuito Literário, patrocinado pelo Banco da Amazônia (BASA), na noite de segunda-feira última (19). A programação final, que contou com a presença de escritores paraenses, ocorreu na Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), localizada na Folha 31 – núcleo Nova Marabá. O projeto foi realizado pela Fundação Tancredo Neves e percorreu um total de nove municípios, incentivando a leitura e promovendo o encontro com os literatos.
Nessa edição, boa parte do público era formada por estudantes e professores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), da Faculdade Metropolitana de Marabá e membros da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), que conversaram com os escritores paraenses Bella Pinto, Salomão Larêdo e Catalina Murchio.
Durante o encontro, escritores da ALSSP não só refletiram sobre a arte literária com os colegas de ofício, como foram convidados a recitar alguns de seus textos poéticos.
A escritora de literatura infanto-juvenil, Vânia Ribeiro, narrou com qualidade de cinema uma de suas crônicas regionais. 
Carol Iarla Leite, ao lado de Salomão
Larêdo, mostra livro Chapéu Virado
Com poemas, Airton Souza e Eliane Soares declamaram seus textos ricos em lirismo. Ele com o livro da amiga poetisa, Crisálida, e ela, retribuindo o feito com Infância Retorcida, um dos cincos livros já lançados por Souza.  
Ainda recitando no gênero lírico, foi a vez de Ademir Braz que se diz um “poeta lascado por  estar escrevendo (leia-se sofrendo) de amor”. Ele deu voz a títulos de poemas como “Para sempre”, “Encanto”, “Agonizo” e “Mensagem”.
Bella Pinto tratou das dificuldades que os artistas enfrentam até conseguir publicar uma obra. “O escritor tem que está atento aos contrastes de propostas de publicação. Leia bem o contrato com as editoras, ou veja se vale buscar um incentivo...”, pontua.  
A maior parte do evento ficou por conta de Salomão Larêdo, jornalista e escritor com livro recém lançado: “Terra dos Romualdos, país dos Maparás”, cuja pesquisa literária compõe cerca de 700 páginas. O professor Dr. Gilson Penalva (Unifesspa), Claudia Borges e Marluce, funcionárias da Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo, assistiam as reflexões do artista compondo o público atento.
Catalina Murchio fez apresentação desse autor e revelou a qualidade de estar viajando em tal companhia.
Em sua fala de abertura, Larêdo homenageou a Fundação Tancredo Neves, na pessoa da escritora Bella Pinto, pela campanha ter sido realizada com sucesso nos municípios paraenses. Especialmente, por Bella ter intermediado junto ao BASA e conseguir os incentivos para bancar o projeto.  
Ainda no discurso, Larêdo enfatizou que o Circuito Literário deve embarcar mais escritores, apontando que escritores da academia local como Airton Souza. 
“Graças a este circuito, esperamos que, em 2014, que todos os escritores daqui possam ir às escolas e nos conheçamos mutuamente. Por exemplo, que o Airton vá em Santarém, e o escritor de lá venha. Que a gente faça esse circuito”, observa, tratando em seguida sobre a obra lançada.
O representante local do BASA, gerente Vilmacir, deu detalhes de como os artistas e a comunidade da região podem fazer parceria com a instituição que valoriza a produção cultural e intelectual. 

ABAIXO-ASSINADO - Moradores do Bairro Liberdade e vizinhos lutam por Base de Segurança Pública


Instalação de base provisória na Praça da Liberdade visa trazer segurança. Mas, nem todos aceitam que seja nela

A Associação Comunitária de Moradores do Bairro Liberdade tem realizado abaixo-assinado junto à comunidade dos bairros, situados no núcleo Cidade Nova. As assinaturas dos populares reivindicam, entre outras coisas, o retorno da 26ª AISP (Área Integrada de Segurança Pública), cujo prédio funcionou durante anos na Avenida Paraíso, via de encontro dos Bairros Liberdade e Independência. 
O projeto visa a construção de uma base de segurança em parte da Praça da Liberdade, até que o prédio definitivo seja feito.  


Edem da Silva Souza, morador da
 Avenida Adelina, confirma clima tenso 


De acordo com a comunidade, a base da 26ª AISP, que ficou conhecida como ZPOL (Zona de Policiamento), trouxe melhorias e a moralização daquele espaço. Porém, desde sua retirada – devido a pendências com o aluguel, por parte do Governo Estadual – o clima de desordem e a falta de segurança estão retornando.  
Segundo Maria do Livramento Sá de Almeida, representante da associação, o objetivo do abaixo-assinado é trazer de volta a paz para os moradores e o comércio local, porque, os populares já estão sentido que o clima de violência se parece com o anterior aos anos de atuação daquela base da Polícia Militar (PM).
“Quando a ZPOL estava aqui, quando tinha uma base aqui na comunidade, não se via tanta violência como se vê hoje”, afirma Maria de Almeida, largamente conhecida por Lia da Liberdade.
Ainda segundo Lia, a nova proposta de segurança para a comunidade vai ser ampliada.
Jovem de carreira militar, Jadenilson
 Silva, dá apoio à causa
“O nosso objetivo de trazer tanto a Polícia Militar, quanto a Guarda Municipal e o DMTU, é que o DMTU venha dar uma freada nesse ritmo que está ai no trânsito. Como é o caso aqui do cruzamento da Avenida Paraíso com a Antônio Vilhena, que está se tornando um caso rotineiro, porque todo final de semana tem acidentes. E, com certeza, a presença dos três aqui vai inibir a ação de vândalos”, enfatiza.
Município e Estado – Atualmente, a base de apoio da 26ª AISP está no prédio do 4º Batalhão da Polícia Militar (BPM), localizado na Rodovia Transamazônica (BR-230), bem distante do que os populares estavam acostumados. Porém, como a comunidade esperava que o governo estadual resolvesse logo essa pendência, parte da mobília utilizada ficou numa residência da comunidade.  
“Esperávamos que o governo do estado pudesse locar onde funcionava na travessa Pará. Só que infelizmente nada foi resolvido. O estado alega que para fazer uma locação é necessário que o prédio tenha uma escritura. Como ele não tem, a associação de moradores conseguiu junto ao prefeito João Salame um pequeno espaço na praça, para se fazer um ponto de apoio”, observa.
Marcos Jhoni contribui com abaixo-assinado
Controvérsias – O abaixo-assinado é um tipo de solicitação coletiva feita em documento, para pedir algo de interesse comum a uma autoridade, ou para manifestar apoio a alguém, ou demonstrar queixa ou protesto coletivo.
O documento vem reunir forças de entidades civis, moradores, trabalhadores e a opinião pública, uma vez que existem pessoas contrárias a utilizar parte da Praça da Liberdade para se construir uma base da PM, DMTU e Guarda Municipal.