segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
VAMOS CASAR...
domingo, 21 de janeiro de 2024
CRÔNICA – TÚMULO DOS SONHOS
CRÔNICA – TÚMULO DOS SONHOS
Nós
somos os homens ocos
Os
homens empalhados
Uns
nos outros amparados
O
elmo cheio de nada. Ai de nós!
T.
S. Eliot (1888-1965)
Eu
acredito no poder do sonho. Penso que cada sonho que buscamos realizar
representa um dos meios usados por Deus para alimentar nossas almas. Alimentar
com esperanças dignas, coragem e crenças no que há de mais valioso na vida.
Afinal,
se não fossem os sonhos, o que seria capaz de dar motivo e sentido aos olhos
que se abrem, às narinas que suspiram e aos sorrisos gostosos a cada manhã?
Porém, parece que vivemos um tempo fatalista. Pessimista.
Tempo capaz de anular até mesmo a menor fagulha do imaginário humano. Pois, a
poeira nos meus ouvidos vive me contando, já faz um tempo, a respeito de uma
velhacaria que se tornou triste verdade: tem sido bastante incomum encontrar
pessoas que ainda ousam falar de alguns de seus sonhos.
Claro
que precisamos identificar a origem desse mal funéreo. As pessoas estão caminhando
como covas ambulantes. Enterram dentro de si a riqueza do expectar. Ou seja, a
frase mais assassina do momento é: “Não crio nenhuma expectativa, assim não
tenho que passar por nenhum tipo de decepção”. Rapaz! Será mesmo? O quanto pode
ser oca uma alma assim. Nem consigo pensar se dar para medir a oquidão
de um peito assim.
Dante!
Ele,
sim, soube enxergar como poucos o material que constitui a natureza embrionária
do sonho. Seu germe primevo. A imaginação!
Dante
sacou que a alta fantasia é um lugar que chove dentro. E, se o sonho pessoal,
quer dormindo ou acordado, não for o primeiro lugar em que as gotas caem, que
importa onde mais cairão?
Contudo,
diante desse velório exponencial, o que podemos fazer? Devemos reconhecer que
existem muitas forças atuando para que tanta gente vá dormir com pesadelos e
acorde sem sonhar.
Eu
tenho uma lista sintético-identificadora dessas forças catatúmbicas.
A fonte. Um dos problemas que marcam este tempo cadavérico
é a fonte. O homem moderno escasseou todos os fingidos porquês que tentaram
matar Deus. E substituí-lo. Julgaram-se a nascente. Mas, hoje, só são a
morrente.
O
medo. Eta miserável medo! É tão difícil alcançar e eu não sou ninguém pra isso.
A
desconfiança. Dos ouvidos em que meus sonhos foram pousar. Falar dos sonhos
significa dar poder a quem nos escutar. Pode se fazer o bem e o mal.
O
egoísmo. O mais avassalador de todos. O sonho nasce, cresce, destrói tudo e morre.
As
superstições. São as respostas para as coisas que nunca foram perguntadas. E
nem havia de se perguntar.
A
ganância. Tudo só pra mim. Eis o túmulo mais enfeitado. E o mais seco de todos.
Nada tem na cabeça deste ser. O sonho do ganancioso é a pobreza da realidade.
É
por isso a epígrafe.
terça-feira, 16 de janeiro de 2024
ROTEIRO AB OVO
Abertas as paredes
No sossego do meu lar
Ninguém está à porta
Só eu posso mudar
Quando eu piso no chão
As camadas de imantar
Sacodem novos sons
De Goelas a falar
Ficaram revolvidas
Mais memórias e mais
histórias
Bobinas que não rodavam
Magnetizam, mas vão
embora
Os passos até as paredes
Pra fugir do lado de lá
Comida encontro, as
cestas
Formigam, há um quarentilhar
Perto da nova esquina
O ano que se seguirá
Comboios nascem por cima
Pelas esteiras a caminhar
Vão eclodir as tartarugas
A natureza adentra o mar
Renascem novas figuras
E na minha casa vão morar
domingo, 14 de janeiro de 2024
POEMA - SUPER AÇÃO
SUPER AÇÃO
Homens
dos quais o mundo não era digno
A todos que enfrentaram
seus gigantes,
Que conseguiram se superar,
Que não pararam de seguir
adiante,
Independentemente do que
encontrar.
Vocês se tornaram
exemplos ao mundo.
Espero que todos tenham
olhos de olhar:
Tiveram forças que os
outros precisam ter,
Lutaram acreditando que
vale lutar.
Homens que decidiram batalhar
por um sonho.
Ouviram palavras duras, fortes
para desmotivar.
Encararam o medo, o engano,
a solidão e a fome.
Engrossaram a pele de
tanto bater e apanhar.
Existe muito motivo para
se dizer sujeito homem,
Mesmo que ainda se
multipliquem covardes a negar.
Engolir as próprias dores
e reagir como um sem nome,
Sem saber quando, nem onde,
cada dia iria terminar.
Mulheres que anelaram,
por si, o melhor futuro,
Cultivando esperanças...
quebrando vinganças...
Tristes em face da injustiça,
impondo-se em muro,
Anoitecendo os passados,
o presente as escuras.
Firmes, com a chama inextinta,
fechados os punhos.
Leves, como a neve gelada,
congelando as amarras,
Para em seguida quebrá-las,
perpetuar-se no rumo.
Com vozes erguidas,
seguem-se os passos e as idas.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
ABELHAMENTO
Nós
só buscamos entender aquilo que é problema nosso. Esta é uma tese geral. Ou
seja, no papel de pessoas responsáveis que somos, de pessoas que cuidam das próprias
vidas, temos muito interesse em compreender os porquês das coisas que nos
afetam de perto.
Se
algo é prejudicial a você, é natural que você queira saber o que é isso que
tanto te afeta. Conhecer o problema e buscar saídas. Nó e desenlace. Na vida
como na arte.
Mesmo
que dê muito trabalho para se compreender as causas de tudo aquilo que nos
provoca dano, devemos permanecer, firmes, no propósito de lutar contra a origem
do mal. Afinal, como cita o dito popular: “Ninguém tem sangue barata!”. Se você
sofre, cuide-se. Resolva!
Além
disso, quando algo que nos prejudica diretamente acontece, as nossas reações
tendem a ser mais rápidas. Rápidas e interessadas.
Eu
sou do tipo que quer entender quem, como, quando e por que algo me afeta.
Acredito que faz parte da vida de qualquer sujeito, que atua como condutor do
próprio destino, o interesse em encontrar as melhores, mais justas e seguras soluções.
Definitivas sempre que possível! Só não gosto de perder tempo, (re)trabalho,
recursos e energias com coisas que não posso mudar, nem cabe a mim mudar.
Porém,
às vezes ocorre uma demora para que haja esse entendimento: “É algo que posso
ou não mudar? E, se posso, devo?”. Se posso e devo, logo, faço. Não vou ter
ganho nenhum deixando os problemas, cobranças e desafios que estão ligados a
mim sem encontrar seus devidos fins.
Apesar
de tudo dito até aqui, pode acontecer da tese geral conter uma falha. Isto é,
nem sempre as pessoas buscam entender apenas aquilo que é problema delas. Não
dá pra negar que existe muita gente que gasta esforço – diria até que gastam
uma grande quantidade de abelhamento – só para poder ficar se metendo nos
problemas alheios.
Metem-se,
não para resolver os problemas do próximo ou ajudar, mas, sim, para mexericar. Para
novelizar os acontecimentos da vida real. Tornar em episódio tudo aquilo que acreditam
ser dramático falar acerca das vidas alheias.
Os
abelhudos gostam de saborear sadicamente, não com poucas ilações, as nuances
que julgam ser as mais acertadas. Julgam como verdades absolutas todos os
achismos que seriam mais dolorosos na pele vizinha.
O abelhamento é uma praga local e nacional,
pessoal e coletiva. Ela está no grupo das coisas do: “Se posso ou não posso? Se
devo ou não devo?”.
Contudo,
uma coisa é certa. Só não podemos dizer que o abelhamento seja a solução. Quem
fica alienado à TV da vida do vizinho vai se assustar no dia que a programação acabar.
E, geralmente, só acaba para o lado de quem abelha. Digo, de quem assiste.