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domingo, 21 de janeiro de 2024

CRÔNICA – TÚMULO DOS SONHOS

CRÔNICA – TÚMULO DOS SONHOS

 

Nós somos os homens ocos

Os homens empalhados

Uns nos outros amparados

O elmo cheio de nada. Ai de nós!

T. S. Eliot (1888-1965)

 

Eu acredito no poder do sonho. Penso que cada sonho que buscamos realizar representa um dos meios usados por Deus para alimentar nossas almas. Alimentar com esperanças dignas, coragem e crenças no que há de mais valioso na vida.

Afinal, se não fossem os sonhos, o que seria capaz de dar motivo e sentido aos olhos que se abrem, às narinas que suspiram e aos sorrisos gostosos a cada manhã?

            Porém, parece que vivemos um tempo fatalista. Pessimista. Tempo capaz de anular até mesmo a menor fagulha do imaginário humano. Pois, a poeira nos meus ouvidos vive me contando, já faz um tempo, a respeito de uma velhacaria que se tornou triste verdade: tem sido bastante incomum encontrar pessoas que ainda ousam falar de alguns de seus sonhos.

Claro que precisamos identificar a origem desse mal funéreo. As pessoas estão caminhando como covas ambulantes. Enterram dentro de si a riqueza do expectar. Ou seja, a frase mais assassina do momento é: “Não crio nenhuma expectativa, assim não tenho que passar por nenhum tipo de decepção”. Rapaz! Será mesmo? O quanto pode ser oca uma alma assim. Nem consigo pensar se dar para medir a oquidão de um peito assim.

         Dante!

Ele, sim, soube enxergar como poucos o material que constitui a natureza embrionária do sonho. Seu germe primevo. A imaginação!

Dante sacou que a alta fantasia é um lugar que chove dentro. E, se o sonho pessoal, quer dormindo ou acordado, não for o primeiro lugar em que as gotas caem, que importa onde mais cairão?

Contudo, diante desse velório exponencial, o que podemos fazer? Devemos reconhecer que existem muitas forças atuando para que tanta gente vá dormir com pesadelos e acorde sem sonhar.

Eu tenho uma lista sintético-identificadora dessas forças catatúmbicas.

            A fonte. Um dos problemas que marcam este tempo cadavérico é a fonte. O homem moderno escasseou todos os fingidos porquês que tentaram matar Deus. E substituí-lo. Julgaram-se a nascente. Mas, hoje, só são a morrente.

O medo. Eta miserável medo! É tão difícil alcançar e eu não sou ninguém pra isso.

A desconfiança. Dos ouvidos em que meus sonhos foram pousar. Falar dos sonhos significa dar poder a quem nos escutar. Pode se fazer o bem e o mal.

O egoísmo. O mais avassalador de todos. O sonho nasce, cresce, destrói tudo e morre.

As superstições. São as respostas para as coisas que nunca foram perguntadas. E nem havia de se perguntar.

A ganância. Tudo só pra mim. Eis o túmulo mais enfeitado. E o mais seco de todos. Nada tem na cabeça deste ser. O sonho do ganancioso é a pobreza da realidade.

É por isso a epígrafe.

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