CRÔNICA – TÚMULO DOS SONHOS
Nós
somos os homens ocos
Os
homens empalhados
Uns
nos outros amparados
O
elmo cheio de nada. Ai de nós!
T.
S. Eliot (1888-1965)
Eu
acredito no poder do sonho. Penso que cada sonho que buscamos realizar
representa um dos meios usados por Deus para alimentar nossas almas. Alimentar
com esperanças dignas, coragem e crenças no que há de mais valioso na vida.
Afinal,
se não fossem os sonhos, o que seria capaz de dar motivo e sentido aos olhos
que se abrem, às narinas que suspiram e aos sorrisos gostosos a cada manhã?
Porém, parece que vivemos um tempo fatalista. Pessimista.
Tempo capaz de anular até mesmo a menor fagulha do imaginário humano. Pois, a
poeira nos meus ouvidos vive me contando, já faz um tempo, a respeito de uma
velhacaria que se tornou triste verdade: tem sido bastante incomum encontrar
pessoas que ainda ousam falar de alguns de seus sonhos.
Claro
que precisamos identificar a origem desse mal funéreo. As pessoas estão caminhando
como covas ambulantes. Enterram dentro de si a riqueza do expectar. Ou seja, a
frase mais assassina do momento é: “Não crio nenhuma expectativa, assim não
tenho que passar por nenhum tipo de decepção”. Rapaz! Será mesmo? O quanto pode
ser oca uma alma assim. Nem consigo pensar se dar para medir a oquidão
de um peito assim.
Dante!
Ele,
sim, soube enxergar como poucos o material que constitui a natureza embrionária
do sonho. Seu germe primevo. A imaginação!
Dante
sacou que a alta fantasia é um lugar que chove dentro. E, se o sonho pessoal,
quer dormindo ou acordado, não for o primeiro lugar em que as gotas caem, que
importa onde mais cairão?
Contudo,
diante desse velório exponencial, o que podemos fazer? Devemos reconhecer que
existem muitas forças atuando para que tanta gente vá dormir com pesadelos e
acorde sem sonhar.
Eu
tenho uma lista sintético-identificadora dessas forças catatúmbicas.
A fonte. Um dos problemas que marcam este tempo cadavérico
é a fonte. O homem moderno escasseou todos os fingidos porquês que tentaram
matar Deus. E substituí-lo. Julgaram-se a nascente. Mas, hoje, só são a
morrente.
O
medo. Eta miserável medo! É tão difícil alcançar e eu não sou ninguém pra isso.
A
desconfiança. Dos ouvidos em que meus sonhos foram pousar. Falar dos sonhos
significa dar poder a quem nos escutar. Pode se fazer o bem e o mal.
O
egoísmo. O mais avassalador de todos. O sonho nasce, cresce, destrói tudo e morre.
As
superstições. São as respostas para as coisas que nunca foram perguntadas. E
nem havia de se perguntar.
A
ganância. Tudo só pra mim. Eis o túmulo mais enfeitado. E o mais seco de todos.
Nada tem na cabeça deste ser. O sonho do ganancioso é a pobreza da realidade.
É
por isso a epígrafe.
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