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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

POEMA – Leitores (Anderson Damasceno)


POEMA – Leitores (Anderson Damasceno*)

Saber ler pessoas
É coisa que toma o tempo.
Sou devedor risonho,
E em nada me apego a diabruras,
Apesar do tempo, escasso,
Ou por do meu diário rasgar as folhas.

Pessoas que falam com a respiração,
Te deixando ouvir o som,
Se compassado, se acelerando.
Te deixando ver a estrutura,
Remontando a caixa torácica.

Que linhas, será, têm ali?
As palavras que vejo sendo ditas de outra forma.
Não! Não quero explicações dos doutos da linguagem corporal,
Não quero a explicação psicomotora, neurolinguística.
Quero a poeticomotora, a eu-liricolinguística,
Desassoberbada de simpósios internacionais.
Não que eu odeie tais sapiências,
Mas é que elas não me respondem,
Não me dão a natureza humana na forma corpórea que faz meu sangue responder aos impulsos.
Nem me dá as incertezas das ações subsequentes que terei ao presenciar os atos corpóreos.
Só deixem as pessoas falarem mesmo que seus corpos me entulhem num labirinto que asfixia.

Que falam com o olhar, resoluto,
Quem sabe opaco, nada interpretativo.
Olha, olha e olha,
E nós, lá...
A ver...
A entender...
O que é aquilo?
Ora contemplativa, ora de um olhar perdido no horizonte
Ora o olhar surdo, irrespondível aos meus acenos, entonações, gritos.
Ou ora enfurecido, como quem batalha por algo que não consigo.
É porque não consigo ver que me angustio,
O porquê também não quero o saber dos profissionais que respeito,
Pois mesmo que interpretem a física quântica do olhar,
Ainda assim não me darão aquela natureza outra que existe
E não me socorre naquela exata hora em tento
Lê-los!
Oh olhos que me mordem!
Esse clarão de luz que me permite fixar os meus em vocês,
E apesar da matéria e fenômenos ópticos não consigo saber o que vocês são,
O que vocês dizem
O que vocês querem.
Angústia tamanha que até agora me correm na mente as imagens de vocês,
A reflexão do tempo gasto ali, perdendo-me em vocês.
Sem compreender.

E quando as mãos teimam a dizer?
O dorso revirado, a cara virada,
Os cotovelos sobre a mesa, os pés à meia entrados de lado na sapatilha?
Até a inércia,
Ou, do outro extremo, as pernas balançando no banco dizem sim estou fervilhando.

Mas quando se questiona...
Nada. Nada não!
Nada?
E eu?
Eu que li tanta coisa.
Termino...
Analfabeto.  


*Anderson Damasceno Brito Miranda é natural de Marabá, Pará, nascido a 8 de julho de 1985. Mas, residiu por longos anos em outros municípios do estado como Altamira e Goianésia do Pará. Retornou para a cidade natal em 2004, onde passou a morar, novamente, com a família. Aos 19 anos, fez confissão de fé em Cristo. Em 2005, ingressou para o curso de Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Marabá, onde hoje é o Campus I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

O poeta leciona inglês, português, redação, artes e literatura. Também é repórter, fotógrafo e blogueiro.
Participou do Concurso de Poesia Professor(a) Poeta(isa) na sua última edição, realizada em 2011, em que alcançou o segundo lugar. E participa, ativamente, do concurso anual realizado pela Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), intitulado Prêmio Inglês de Sousa, em que logrou a primeira colocação no gênero poesia, durante a edição do ano 2014.
Atualmente, trabalha no Instituto de Ensino A+, Preparatório de Medicina Everest. Além disso, é assessor parlamentar e assina o blog Olhar do Alto (OA).
Até outubro de 2016, o literato fez parte do coletivo de poetas e artistas do Sarau da Lua Cheia, sendo um dos co-fundadores do movimento, ao lado de Airton Souza, Eliane Soares e Xavier Santos. O Sarau da Lua Cheia é um evento artístico e cultural que iniciou em março de 2013, de caráter itinerante, que acontece em Marabá, uma vez por mês, promovendo a leitura, o livro e a divulgação das obras de autores paraenses.
Também foi membro-fundador da Associação de Escritores do Sul e Sudeste do Pará (AESSP), mas dissidiu por discordar da mentalidade esquerdista que passou a dominar a direção da instituição, após a queda do governo Dilma Rousseff, que manteve o PT no poder por quase 14 anos, isto é, 14 anos que foram, sem sombra de dúvidas, um dos piores projetos de poder e o maior escândalo de corrupção que o mundo já conheceu.


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