RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “12 REGRAS PARA A VIDA”, DE JORDAN B. PETERSON [1]
Anderson
Damasceno Brito Miranda
INTRODUÇÃO
& INTRODUÇÃO
A
meu ver, essa história revela algo fundamental para os dias de hoje: a arte do
saber escutar as vozes nas redes sociais. Ou seja, é um sinal de discernimento:
entender o valor acerca do processo de audição interessada, de escuta e
observação das vozes que emergem na sociedade. Isso é uma demonstração de que
aprender a ouvir os públicos – e o que as pessoas dizem/comentam/fazem e/ou
reagem aquilo que dizemos e comentamos – deve ser visto como um ato relevante
para quem vive na Era da Informação.
Em
tese, o livro vai defender que uma vida com significado mais profundo importa
mais que a forma ou formas que a humanidade julga conhecer a ideia de
felicidade. Na minha primeira leitura, escrevi ao ler essa parte: “É na boa
aventura que se vive algo perto do que se entende por felicidade”.
A
Peterson importa mais compreendermos como que o caráter humano se desenvolve frente
ao sofrimento do que frente à felicidade. Essa percepção estaria espraiada
nas grandes histórias do passado. Isso me faz recordar do texto bíblico em Eclesiastes
7. 2-4:
2 É melhor ir a uma casa onde há luto do
que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem
levar isso a sério! 3 A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste
melhora o coração. 4 O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o do
tolo, na casa da alegria.[2]
Em
síntese, exige-se sabedoria para lidar com os formatos que o sofrimento assume
na história de cada pessoa. E um adendo: é impossível ler esse texto bíblico e
não recordar das importantes reflexões, conselhos e mensagens que o pastor
Ronisteu Araújo compartilha conosco. Posso dizer que tenho uma orientação
espiritual em que essa obra de J. B. Peterson cai bem.
Peterson
ressalta a tese de seu primeiro livro (Maps of Meaning: The Architecture of
Belief): “os grandes mitos e histórias do passado, particularmente os
provenientes de uma tradição oral mais antiga, tinham um intuito moral em
vez de serem descritivos” (grifo dele). Nele, o autor compreende o mundo como
constituído por um teatro entre a ordem (normas sociais / imaginário masculino
/ estrutura e opressão) e o caos (novo imprevisível / imaginário feminino /
nascimento e morte). Em resumo, é o taoismo: yang (serpente branca) e yin
(serpente preta) plasmado na natureza das histórias humanas.
Para
o psicólogo clínico, andar na fronteira, no limite do taoismo, é melhor que a
felicidade.
Ele
entende que as pessoas estão dispostas a destruir o mundo para que seus
sistemas de crenças sejam validados. Pois, viver sob o mesmo código tornaria as
pessoas previsíveis umas as outras e, em tese, isso simplificaria o mundo a
ponto de possibilitar que as pessoas cooperem entre si, a fim de poder domar a
complexidade do mundo.
Contudo,
ai de quem vier abalar o sistema de crenças alheio: “[...] as pessoas lutarão
para proteger algo que as salva de serem possuídas por emoções de caos e terror”.
Isto é, o professor canadense considera que as emoções são forças poderosas, por
isso, os grupos que compartilham um sistema cultural (hieraquizador de
seus valores) lutarão para manter a coerência de seu sistema – o que, a meu ver,
seria a crença do grupo sobre como se deveria produzir e conduzir uma
civilização.
A
presente obra de Peterson está ancorada numa compreensão heideggeriana do Ser e
teria o desafio de ser uma resposta ou caminho de solução contra as forças do
niilismo atual. Leia-se niilismo enquanto o “horror da existência”, afinal, o
sofrimento e suas muitas formas de doer seriam constitutivos da vida humana.
O
professor universitário considera que o Ocidente tem cedido em seus valores de
grupo (tradição, religião, nação) para poder diminuir conflitos com outras
culturas. Essa cedência estaria desconfigurando as identidades e valores da
cultura ocidental. Logo, o “desespero da falta de sentido” consegue assolar a
vida humana. Mais do que nunca. E isso me faz pensar nas possíveis consequências:
o jovem soldado ocidental já não enxerga mais valor algum em lutar pela defesa
de seu país, de sua cultura e de sua família. As ideias têm consequências.
Está
aí uma lição preciosa. Ceder para evitar brigas pode parecer nobre até certo
ponto, todavia, pode levar ao vazio de sentido. E ninguém respeita ou teme esse
vazio. Há valores inegociáveis e impassíveis de cedência. Há valores dignos de
por eles guerrear.
Mas,
entendo o alerta do professor de psicologia. O poder atual das tecnologias de destruição
é apocalíptico. Guerras como as do século 20 com o poder bélico do século 21
seriam catastróficas. Lembro agora: “Pedras e paus”[3],
teria dito Einstein sobre a quarta guerra.
Luta
e equilíbrio talvez vão ser lições constantes no livro.
Concordo com Peterson na postura de não sucumbir ao servilismo das pressões de
grupo e suas doutrinas assim como não cair no oposto disso, o niilismo extremo.
A
solução de Peterson para essa tensão me fez recordar de Yuri Bezmenov, pensador
que me foi apresentado por meu amigo, Netto Marabá, ao compartilhar vídeos do Pizzaria
Brasil, canal do YouTube que sofreu perseguição. Era no mesmo contexto em
que o pastor Marcos Feliciano sofria perseguições por presidir a Comissão de
Direitos Humanos. Momento emblemático da política brasileira. Retomando, ambos
acreditam que o ser humano pode se superar espiritualmente.
Como
reduzir o “sofrimento que envenena o mundo”? Peterson responde, alertando:
[...] através da elevação e do desenvolvimento
do indivíduo e da disposição de cada um para levar o Ser em seus ombros e
escolher o caminho do herói. Cada um de nós deve aceitar tanta responsabilidade
quanto possível pela vida individual, pela sociedade e pelo mundo. [...] Mas a
alternativa – o horror da crença totalitária, o caos do estado falido, a
catástrofe trágica do mundo natural desenfreado, a angústia existencial e a fraqueza
do indivíduo sem propósitos – é claramente pior. (grifo meu).
Por
fim, Peterson justifica o título do livro, observando que as pessoas precisam
cultivar valores sozinhas e coletivamente. E reconhece que a ordem pode se
tornar excessiva e “isso não é bom, mas o caos pode nos afogar – e isso também
não é bom”. Para ele, a ordem é o caminho estreito.
E, pra fazer uma ancoragem em Peterson, encerro essa introdução à resenha crítica com versos de Adélia Prado, que poderiam muito bem ser a epígrafe deste texto: “O céu estrelado / Vale a dor do mundo.” – Bagagem (1976).
[1]
PETERSON, Jordan B. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos.
Tradução: Wendy Campos, Alberto G. Streicher. Rio de Janeiro: Alta Boks, 2018.
[3] https://pt.quora.com/ Acesso em 20 dez. 2023.
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