NACIONAL ENERGY

domingo, 9 de junho de 2013

Oportunidades de cabresto


“Oxe! Eu num sou apadrinhado por políticos ou celebridades pra ganhar a vida fácil”. Esta declaração soa perigosa. Alguns diriam preconceituosa. Afinal, o Brasil não é uma nação de aproveitadores mesquinhos. Pois, as conquistas pessoais do cidadão brasileiro não negam o mérito. E nossas leis respeitam cada vez mais as minorias.  
Porém, quantos não são os jovens educados na cartilha da facilitação? Os pais conhecem alguém que por sua vez conhece alguém... E o que pensar dos adultos que cultivam isso?
Até que ponto vale a pena viver num país assim, em que as oportunidades são inconstitucionais? Isto é, elas discriminam por cor, credo, origem, sexo e idade. Claro que existem pessoas por trás disso. E como diz o artigo 3º da Constituição Federal, não é legal “quaisquer outras formas de discriminação”. Nem essa que, se a pessoa não tem amizade com personalidades famosas, as portas se fecham.   
Infelizmente, essa prática social abriu filiais em cada canto do Brasil. Cidades interioranas, capitais. Cada uma com seu proporcional absurdo. Eu ia colocar a culpa na TV, mas tudo indica que esse comportamento é anterior a ela.
Agora, alguém duvida dos absurdos? Me conte aí, como é que funciona a prefeitura de sua cidade no primeiro semestre após as eleições? Penso que nem precisa tanto tempo. Nas cidades mais sofisticadas, basta sair os resultados de vereadores e prefeitos eleitos.
Não vale nem citar que na arte também é assim. Os atores mirins, só pra apontar algo corriqueiro, eles participam de testes. Seleções com filas cheias deles. Estrear em novelas e comerciais. Os pais roem unhas às escondidas. Aí, pronto acabou. “Num é que o resultado foi pro filho de fulana, escritora de novelas!”
Mas, é bem fácil contrapor esse acontecimento com argumentos sólidos. “Filho de peixe, peixinho é. A mãe desse garoto ensinou desde cedo, poxa!”. Este é o tipo de exame de DNA que todos gostariam de levar ao Ratinho. Uma pena que não tem resultado.
E entre os jogadores de futebol? Os cantores, ou apresentadores de TV? Há absurdos? Fico feliz por não entender metade das falcatruas que venham a acontecer nesses meios. Mas, sinto-me um infeliz porque meu vizinho não tem as mesmas oportunidades.
É entristecedor falar que ainda existe tamanha separação numa nação tão diversa. Só que nossa lucidez nos cobra atitudes. E não se pode tratar como sem fundamento aquelas piadinhas, tipo, um político estrangeiro chegou e perguntou ao político brasileiro: “Como vai o Brasil?”, ele responde: “Vai bem, vai muito bem!”. “E o povo, como é que está?”, nosso representante diz: “Esse vai mal!”. 
Você sabe disso. Políticos, artistas e celebridades usam fama e influência pra favorecer parentes e amigos. É a famosa oportunidade de cabresto. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros rala feio.
Sem falar que facilitam a vidas deles com empregos rentáveis, até status, ainda que os favorecidos sejam profissionais de quinta. Sem mentira nenhuma, eu aceitaria que colocassem um parente ou amigo gabaritado e comprometido com o povo. Pelo menos estariam indicando alguém que iria produzir pra si e para os civis igualitariamente.  
No país onde a onda do “politicamente correto” está domando a língua, e o pensamento do povo, pensar assim é preocupante. Só que há coisa pior gente. Escola e estudo público não são mais o suficiente pra mudar essa reprodução de injustiças e descaramentos.
Falo isso por causa da injustidade do fator QI. Não adianta na maioria dos casos os jovens terem passado décadas, indo da escola à universidade, trabalhando intelecto e suas múltiplas habilidades, pra ter um bom currículo profissional. Basta chegar uma personalidade pública prestigiada, ou um líder influente, que indica alguém e o empregador dá a melhor vaga. Isso faz parte do “jeitinho brasileiro” que pisa em qualquer escrúpulo.
Anos de estudos que os jovens brasileiros tem são facilmente encestados no lixo.
O tal do QI é injusto mesmo! Até porque todo lugar existe aquela gentinha mendigando um favor de um padrinho influente. Ajudou fulano ali, prestou favores aqui. Agora é hora de colher. Aliás, isso é lei do cotidiano, não é mesmo? Quem não chora, não mama! Profissionais de quinta, por favor, me errem.
Vamos emparedar o “jeitinho”. E essa postura tem de ser uma profissão de fé. Enquanto essa praga do jeitinho, esse ranço dos infernos, não for pra berlinda e se tornar alvo de nossas orações mais fervorosas, os brasileirinhos que rebentarão no ventre das mães hoje padecerão com o cabresto dos privilegiados.

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