Paródia em vídeo tem ganhado público local e gerado polêmica nas redes sociais
Grupo de
amigos que produziram um hit musical, em vídeo, postado nas redes sociais, tem
dado o que falar nos últimos meses em Marabá. Elogios e felicitações, mas
também comentários desagradáveis. Os jovens estudantes do rap paródia “Classe média sofre”, participaram de entrevista exclusiva, comentando a repercussão
desse trabalho e do que está acontecendo em suas vidas desde que ousaram criticar
opiniões e gostos da população local.
A produção do
“Marabaense drama”, subtítulo dado à música, envolveu Gustavo Ramos (vocalista
e criador do MC Geleia), Rafael Souza, Henrique Ribeiro, Matheus Leite, Marcos
Gabriel (Danivex), Guilherme Freitas, William Figueiredo e Brayhen Figueiredo.
Gustavo Ramos,
que criou o heterônimo Geleia, explica que tinha um projeto inicial destinado
às redes sociais, para fazer um grupo de “zoeira”. Isso porque Marabá não
dispõe dessa linha de entretenimento.
“Sempre que
colocamos Marabá no Youtube você encontra poucas coisas a esse respeito. Quando
tem, geralmente, são reportagens de televisão. E, como eu mexo com Rap,
componho, pra divulgar meu trabalho resolvi fazer essa paródia, falando da
cidade”, afirma.
Ramos entende
que esse trabalho, introduzindo elementos locais, do cotidiano marabaense,
acabou alcançando muitas pessoas.
“Elas se
identificam e, por isso, resolvi fazer uma paródia em que acontecesse isso. Por
exemplo, já tem um monte de pessoas inscritas no meu canal no Youtube. Isso até
facilita, pois, na próxima vez que formos divulgar algo, já tem um público
garantido”, observa.
COMO O GRUPO
SE CONHECEU? COMO SE DEU A REUNIÃO DESSAS FIGURAS?
Segundo
Gustavo Ramos, vocalista e compositor da paródia “Classe média sofre”, boa
parte do grupo já tem muitos anos de amizade. O ambiente escolar também foi
crucial para a amizade do grupo.
“Muitos aqui
já são amigos de longa data, como o Matheus Leite, e nos conhecemos desde
pivetes. A maioria é da escola mesmo, que me acompanham há muito tempo. Hoje eu
estou em outra escola, mas mantemos a amizade e eles me ajudaram a fazer o vídeo”,
acentua.
O jovem
rapper lembra ainda que cada amigo teve uma participação significativa, durante
a elaboração do projeto fílmico.
“Por exemplo,
eu precisava de uma câmera e o Henrique Ribeiro a forneceu pra gente, junto com
o Rafael Souza... ocorreu a cooperação de cada um, por isso, coloquei no vídeo a
galera da produção”, pontua Ramos, indicando que os cinegrafistas amadores foram
os amigos, Matheus Leite e Danivex.
COMO SURGIU A
COMPOSIÇÃO DA MÚSICA?
De acordo com
o compositor, a paródia não foi simplesmente uma cópia. Houve uma ideia
original que veio através de suas
predileções, daquilo que ele gosta de assistir, contudo, também havia um
objetivo que estava buscando.
“Existe a
composição original que é a do ‘Galo Frito’, um canal de comédia do Youtube, em
que o Murilo Couto participa fazendo um MC fictício, cantando o ‘branco drama’.
E aí, quando eu vi esse vídeo, achei muito interessante. Ri bastante vendo o
que ele fala da classe média. Então, achei que fazendo isso pra Marabá poderia
chamar bastante atenção. E é o que está acontecendo”, nota o jovem rapper.
O MC Geleia
acreditava que usando elementos da cidade ia atrair as pessoas. E mais
composições da autoria dele podem ser encontradas na rede social.
“Eu tenho
outras músicas, rap principalmente. Inclusive, antes de lançar o vídeo ‘Classe
média sofre’, eu já tinha colocado outro chamado ‘A garota do cursinho’. E, o
pessoal não me conhecia ainda, e como eu precisava divulgar a minha página foi
isso que decidi fazer. Fiz a paródia, coloquei elementos da cidade e deu no que
deu”, afirma com ânimo.
Ramos detalha
que a elaboração do heterônimo e da letra do rap exigiu sigilo. Poucos dias
antes das férias escolares, ocorridas em julho deste ano.
“Quando
pensei nesse projeto, eu chamei o Willian Figueiredo para uma reunião lá em
casa, só eu e ele... Porque queria que fosse segredo e não corresse o risco de
vazar a letra ou alguém roubar a ideia. Eu disse a ele que tinha um projeto
legal e que podia dar certo”, recorda, acrescentando que apenas o Rafael Souza
não saiu no vídeo.
Os jovens
estudantes até ousaram fazer outros vídeos, mas não tiveram o mesmo sucesso.
“A gente
tinha combinado, anteriormente, de fazer um videoclipe com um grupo nosso
chamado ‘Os pimpas’. Futuramente, estaremos falando disso. Só que, tentamos
fazer esse vídeo, mas não deu muito certo. Não houve aquela empolgação”, diz.
REPERCUSSÃO
DEIXOU JOVENS IMPRESSIONADOS
Com quase 5
mil visualizações no Youtube, centenas de comentários, além de
compartilhamentos através de aplicativos de celular como WhatsApp, o grupo tem
vivido dias de sucesso no seio da cidade.
“Eu postei
numa quinta-feira à noite e, acho que duas horas depois, já tinha cerca de
duzentas visualizações. Comecei a perceber que podia ser, assim, algo especial.
E como já tínhamos certo reconhecimento na escola onde estudei com eles, o
pessoal começou a compartilhar no whatsApp. Eles baixaram do Youtube e ficam compartilhado
no Facebook, e isso ajudou bastante. Foi impressionante”, revela.
Por causa
disso, o Ramos enfatiza que um dos resultados positivos dessa divulgação, foi o
aumento no número de inscritos em seu canal no Youtube.
“Eu até
comentei lá, a zoeira está se proliferando. No outro dia, na escola já estava
sendo muito comentado, gente que não falava comigo começou a falar, muitos
enviando mensagens... Por exemplo, ainda naquela semana, na sexta-feira
disseram que foi assunto do dia, tanto por professores quanto alunos”,
rememora.
Ele afirma ainda
que os parentes gostaram da iniciativa e não esconderam a cara de surpresa,
quando perceberam a repercussão.
“Minha mãe
sabe que eu componho rap. No dia seguinte eu disse que estava chegando a mil
visualizações e ela ficou bastante surpresa. Ai, ela pediu pra ver, mostrei,
isso fez ela rir muito. Meu padrasto também, que é uma pessoa bastante
conhecida na cidade, foi logo me orientando, meio preocupado”, detalha.
Matheus
Leite, assim como os demais amigos que aparecem na paródia, também confirmaram
que os populares estão reconhecendo o grupo.
“Na rua,
aonde eu vou, o pessoal reconhece. Na escola e no curso que eu faço, as pessoas
falam ‘eu te vi no vídeo e não esquece que eu sou teu amigo’”, brinca.
Brayhen
Figueiredo, estudante que fez participação no final do vídeo, efetuando passos
de dança no estacionamento do Shopping Pátio Marabá, narrou ainda que, enquanto
iam para a entrevista no Jornal Opinião, um garçom olhou o grupo e declarou que
tinha assistido.
O grupo ficou
feliz porque o vídeo tem alcançado outros estados do país.
“Cada um aqui
tem amigos em outros estados. Ficamos sabendo que amigos de Minas Gerais, do
Ceará, Tocantins estão recebendo o link”, diz Marcos Gabriel (Danivex).
CRÍTICAS NAS
REDES SOCIAIS
A maioria dos
comentários nas redes sociais é favorável ao trabalho que o grupo de estudantes
fez. Os internautas que gostaram de assistir felicitaram o projeto que tratou
de temas “politicamente incorretos”.
A repórter e
blogueira, Fabiane Barbosa, que cursa Letras na Universidade Federal do Pará,
elogiou a paródia: “Genteeeee!!! Gostei demais disso! Tem artista em Marabá
além de mim! Tenho um blog, mas não consegui colocar o link no comentário...
deu bug! Mas, no meu canal tem o link, ok? Dá uma olhada!”.
No entanto, o
conteúdo do rap também veio a ser alvo de críticas.
Postagens
como a de Carlos Eduardo Ribeiro tentaram defender o jovem rapper do nariz
torto dos insatisfeitos: “O cara tem talento, fez um belo rap falando da
realidade da cidade, agora me diga se é mentira? Através desse vídeo ele está
fazendo o que? Tá cobrando dos fdps dos políticos. O cara é foda e geral tá
curtindo. Volto a repetir, veja a Parodia Original, talvez você entenda pelo
menos um pouco o que acho difícil! Sou filho de Marabá, gostei da paródia. O
menino tem meu respeito. É muito fácil criticar o trabalho do menino. Se você
tá achando ruim, faça melhor!”.
Um dos comentários
desfavoráveis é o do perfil assinado por Fanny Silva: “Sei o que é paródia sim,
mas essa foi de péssimo gosto! Era pra ser engraçado pra quem? Pra "Classe
média" que se acha? Se estão insatisfeitos com a cidade, se mudem, ou
façam algo para que ela melhore, comecem cobrando dos políticos que foram
eleitos, compareçam às sessões na Câmara de Vereadores, abram a boca e exijam
direitos, exijam trabalho nas ruas, mas não "queimem" sua cidade, a
cidade que os alimenta!”.
Ainda
conforme Ramos, o reconhecimento das pessoas é motivo de felicidade.
“Eu não
critiquei a cidade nos problemas mais sérios. Tentei, assim, criticar o ponto
de vista da classe média usando elementos de Marabá. A diferença desse vídeo
pro original é que dei a cara da cidade. Mas, fico feliz que isso alertou as
pessoas e até abriu portas para as pessoas se expressarem. Mostrar suas
opiniões no Youtube, inclusive em músicas”, cita.
Quanto às
opiniões divergentes, os jovens consideram importante ouvir e respeitar.
“Essa
opiniões contrárias mexeram com a gente. Com todo respeito, nesse caso (Fanny
Silva), ela esqueceu que foi uma paródia e a gente deixou claro que era uma
zoeira. A gente tem projeto de fazer uma crítica de verdade, mais complexa.
Talvez ela esperasse outra coisa. Até certo ponto eu concordo com ela, mas o
objetivo não é só desmerecer a cidade”, defende.
O AUTOR
COMENTOU FRASES PINÇADAS DA PARÓDIA
Gustavo Ramos
se disse ciente de que cada tem o direito de fazer sua interpretação,
especialmente, porque já ouviu as pessoas falarem que a música tem um conteúdo
preconceituoso e que desvaloriza a cidade onde mora.
Nossa
reportagem aproveitou o encontro para ele esclarecer o que pensa.
Sobre a introdução
do vídeo – em que se encontram declarações como: “Telexfree levou minha grana”;
cidade “onde pessoas escutam Silvano Salles e Anjos do melody”; “Tentei torcer
pro Águia e fiquei deprê de vez” e “tava no shopping, sorrindo da pobretada.
Moleque de moicano e Pitbull falsificada” – são elementos citadinos que ele
selecionou a fim de fazer uma aproximação.
“Eu coloquei
também, no início, ‘sabe o que é comemorar no face quando vai chover’, algo tão
fútil... Esses elementos comuns são exatamente para causar esse impacto nas
pessoas. Porque, a classe média, preconceituosamente ou não, tem sim e olha sim
diferente para as classes mais baixas. Alguns bairros, inclusive, que dizem lá
você escuta só mellody, Silvano Salles e tal. Não dá pra generalizar, é
verdade. Mas eu quis colocar tudo isso pra satirizar”, explica.
Ainda conforme
o rapper, é difícil definir o que toda a classe média pensa. Mas é fácil
perceber que pessoas de porte financeiro gostam de reparar que as pessoas de
baixa renda usam roupas falsificadas, ou, que os mais pobres usam corte de
cabelos influenciados por jogadores de futebol.
“A gente vê
essas modinhas, como corte de cabelo, em todas as classes. E dá até pra dizer
que tem um certo preconceito, só que foi com outra intenção que fizemos”,
esclarece.
A temática do
estado de Carajás ganhou crítica veemente no espaço na música, quando o rapper
canta: “Até tenho orgulho de ser marabaense, mas tenho que aturar a marra
desses belenenses”.
“Lutamos
tanto para ter o estado de Carajás, mas vimos que teve forte influenciam do não
lá de Belém. Poxa, até o Ganso fazendo campanha contra. Ele nem mora pra cá,
desconhece a nossa realidade... Influenciaram ele não sei como! Foi uma
indireta a essa questão sim”, afirma, garantindo que essa temática poderá
voltar nas próximas músicas.
Inclusive a questão da segurança recebeu sátira direta: “Domingo à noite, ali na Praça São Francisco, coloco a mãe no bolso a cada vez que eu pisco”, também comenta por Ramos.
Inclusive a questão da segurança recebeu sátira direta: “Domingo à noite, ali na Praça São Francisco, coloco a mãe no bolso a cada vez que eu pisco”, também comenta por Ramos.
“Eu quis
satirizar a visão que temos de segurança. É verdade que melhorou bastante, dá
pra reconhecer isso. Tem um trailer ali da Polícia Militar, dando pra nos
sentir um pouco mais seguros. Mas, o marabaense sentiu isso durante muito tempo”,
compara.
O refrão
reserva um dos versos mais polêmicos que os garotos tiveram que dar explicações:
“Essa cidade é tensa, mas eu sou feliz. Aqui onde a pobreza só sabe andar de
Bis...”
“Eu faço um
curso técnico e a maioria da turma fala, tipo ‘poxa, mas por que tu colocou
Bis, cara? Eu tenho Bis’. Então, peço para levar na esportiva e que é só uma
brincadeira... Eu vi que realmente o pessoal usa bastante e foi essa a
intenção”, retoma.
CURTA ALGUMAS DECLARAÇÕES A MAIS:
“Não sou bom
de bola mas calço Mercurial. No meu X-box só vai jogo original. Minha Sky não
funciona se chove... Classe média sofre”
“Na
Nova Marabá nunca decorei as folhas”; “Meu brother me chamou pra passear no
vavazão”; “Ponto de ônibus que coisa irritante, trezentos Liberdade e nenhum
Novo Horizonte”.
“A capa do meu I-phone custou mais caro que meu plano de saúde”; “Não sou
pobre, nem rico. Meu sonho... comprar um iate pra andar na Praia do Tucunaré”
Além de ter ficado surpresa com o meu comentário sendo propagado por aí.. rsrs... Estou surpresa com o fato de que os caras ainda estão no ensino médio?! É isso mesmo produção?!
ResponderExcluirTá vendo?! É por isso que eu conto com a mente é "dor minino mermu" hehe... Superestimo sempre a criatividade adolescente! Os caras tem uns insights ótimos, às vezes!
Enfim, parabéns ao grupo mais uma vez e parabéns Anderson pela matéria.. gostei pra caramba! ;) Valeu gente!
PS: Quem quiser dar uma olhada nisso aqui ó: http://pimentacomchocolate.com/ (fiquem a la vontê) :P kk