Ler Airton
Souza – em À boca da noite (página
25) – é assim:
para minha eterna
professora Eliane
Soares
estes olhos
nus
varzeam na
força do imaginativo
as pálpebras
protegem os sonhos
num desejo
insano
de ser o
mundo
Para ler Airton
Souza você não pode ser um. Tem que ser dois. Melhor, três. Digo, duas pessoas
e o mundo todo.
Em resumo, o
poema acima faz uma correlação de visões lírico-poéticas do mundo em que
vivemos. Mais próprio dizer do mundo que somos enquanto o queremos ser.
Em Souza, o
eu lírico viaja pelos olhos da poetisa (Eliane Soares). Aponta-nos uma direção
aos sonhos que desconhecem fronteiras. Sonhos de um ser que passeia pelo mundo
que não pode ser impedido, muito menos impedido de ser só de si. Mundo que não
conhece fronteiras.
Sem
impossibilidades. Eis o varzear –
termo que resulta do substantivo VÁRZEA, que como diz o Aurélio é “um terreno
baixo, plano e fértil, nas margens de um curso de água” –, caminhar sem estar
preso, caminhar pelo mundo que a poetisa homenageada aqui vê.
A poesia é a
própria “água” que torna essa várzea-mundo (in)felizmente
fecunda. Afinal, estamos todos nós, amazônidas, viajantes “num neste”
verde-vago-mundo rico de vida.
Como posso
provar isso tudo que digo? Não posso. Deixo que você vá lendo com quatro olhos
esses dois amantes da poesia. Dois olhos para um e dois para outro. Até que
seus quatro se confundam e se vejam híbridos.
Mas, posso
dar um passo à frente pra você. E assim mostrando que o caminho é seguro,
embora não garanta que sinta, sob a planta dos pés, o chão.
Os versos
primeiros: “estes olhos nus / varzeam na força do imaginativo”, só nos podem
levar à primeira conclusão. Isto é, o eu lírico de Airton indica outros olhos
que não os seus. Os dele não vêem o mundo porque reparando nos olhos da
poetisa. Esta sim está vendo algo como quem vê tudo.
Enfim, realmente,
estamos diante de uma indicação.
Agora, se
Airton realmente dedica o poema a Eliane Soares, isto é, se a dedicação se
estende a ponto de (eu?) provar que ele pode sinalizar um mundo sem limites,
particular, possível de ser visto apenas pelos olhos dela, isso é outro
história.
Querem que eu
vá contar? Nada gente! O mundo da poetisa é sem limites e particular, só que é
um particular solidário. Dá pra todos. Aliás, se assim não fosse, o amigo poeta
Souza não cometeria a cafajestagem de nos enganar.
Contudo, para
não ficarmos perdidos, leiam por si só o poema HYBRIS de Eliane Soares – em Crisálida (página 61) – depois compare
com o poema de Airton Souza, claro que dessa vez levando em conta os três
últimos versos, que até agora não mencionei. Então, veremos não só a
sinceridade e a validade da homenagem que o poeta fez à professora, mas descobriremos
em passeio ESSE MUNDO NOVO PORQUE SEM LIMITES, e tão solidário, na voz da
poetisa.
Mas, para os
apressadinhos. Sintam só um pouquinho da sonoridade (e tudo mais!) que HYBRIS
dá:
Se eu fosse
um jogo, o xadrez;
Se eu fosse
um número, o três.
Se eu fosse
uma arte, a pintura;
Se eu fosse
uma doença, a loucura.
Se eu fosse
um astro, a lua;
Se eu fosse a
verdade, a crua.
Se eu fosse
uma música, o fado;
Se eu fosse
um sentido, o tato.
Se eu fosse
uma flor, o lírio;
Se eu fosse
um presente, o alívio.
[...]
Cabô! kkk
Vá comprar
seu livro porque do meu num dou mais nada.
Sem falar que
esqueci até de pedir pra autora me conceber a graça de utilizar esses versitos,
ai acima. Mas se ela me processar, respondo com muito gosto! Bom demais!!!!!!!!
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