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domingo, 8 de setembro de 2013

POESIA - Ler Airton Souza é assim...

Ler Airton Souza – em À boca da noite (página 25) – é assim:

para minha eterna professora Eliane Soares

estes olhos nus
varzeam na força do imaginativo

as pálpebras protegem os sonhos
num desejo insano
de ser o mundo

Para ler Airton Souza você não pode ser um. Tem que ser dois. Melhor, três. Digo, duas pessoas e o mundo todo.
Em resumo, o poema acima faz uma correlação de visões lírico-poéticas do mundo em que vivemos. Mais próprio dizer do mundo que somos enquanto o queremos ser.
Em Souza, o eu lírico viaja pelos olhos da poetisa (Eliane Soares). Aponta-nos uma direção aos sonhos que desconhecem fronteiras. Sonhos de um ser que passeia pelo mundo que não pode ser impedido, muito menos impedido de ser só de si. Mundo que não conhece fronteiras.
Sem impossibilidades. Eis o varzear – termo que resulta do substantivo VÁRZEA, que como diz o Aurélio é “um terreno baixo, plano e fértil, nas margens de um curso de água” –, caminhar sem estar preso, caminhar pelo mundo que a poetisa homenageada aqui vê.
A poesia é a própria “água” que torna essa várzea-mundo (in)felizmente fecunda. Afinal, estamos todos nós, amazônidas, viajantes “num neste” verde-vago-mundo rico de vida.
Como posso provar isso tudo que digo? Não posso. Deixo que você vá lendo com quatro olhos esses dois amantes da poesia. Dois olhos para um e dois para outro. Até que seus quatro se confundam e se vejam híbridos. 
Mas, posso dar um passo à frente pra você. E assim mostrando que o caminho é seguro, embora não garanta que sinta, sob a planta dos pés, o chão.
Os versos primeiros: “estes olhos nus / varzeam na força do imaginativo”, só nos podem levar à primeira conclusão. Isto é, o eu lírico de Airton indica outros olhos que não os seus. Os dele não vêem o mundo porque reparando nos olhos da poetisa. Esta sim está vendo algo como quem vê tudo.
Enfim, realmente, estamos diante de uma indicação.
Agora, se Airton realmente dedica o poema a Eliane Soares, isto é, se a dedicação se estende a ponto de (eu?) provar que ele pode sinalizar um mundo sem limites, particular, possível de ser visto apenas pelos olhos dela, isso é outro história.
Querem que eu vá contar? Nada gente! O mundo da poetisa é sem limites e particular, só que é um particular solidário. Dá pra todos. Aliás, se assim não fosse, o amigo poeta Souza não cometeria a cafajestagem de nos enganar.
Contudo, para não ficarmos perdidos, leiam por si só o poema HYBRIS de Eliane Soares – em Crisálida (página 61) – depois compare com o poema de Airton Souza, claro que dessa vez levando em conta os três últimos versos, que até agora não mencionei. Então, veremos não só a sinceridade e a validade da homenagem que o poeta fez à professora, mas descobriremos em passeio ESSE MUNDO NOVO PORQUE SEM LIMITES, e tão solidário, na voz da poetisa.
Mas, para os apressadinhos. Sintam só um pouquinho da sonoridade (e tudo mais!) que HYBRIS dá:
Se eu fosse um jogo, o xadrez;
Se eu fosse um número, o três.

Se eu fosse uma arte, a pintura;
Se eu fosse uma doença, a loucura.

Se eu fosse um astro, a lua;
Se eu fosse a verdade, a crua.

Se eu fosse uma música, o fado;
Se eu fosse um sentido, o tato.

Se eu fosse uma flor, o lírio;
Se eu fosse um presente, o alívio.
[...]

Cabô! kkk
Vá comprar seu livro porque do meu num dou mais nada.
Sem falar que esqueci até de pedir pra autora me conceber a graça de utilizar esses versitos, ai acima. Mas se ela me processar, respondo com muito gosto! Bom demais!!!!!!!!
           


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