terça-feira, 14 de janeiro de 2025
POLUIÇÃO - POEMA
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
AJUDEI SEM QUERER AJUDAR – CRÔNICA
O quanto há de nobreza em se fazer o certo sem querer fazê-lo? Em se estender a mão para alguém ciente de que não há em si vontade alguma de estendê-la? Há alguma quantidade de beleza em se prestar socorro, a quem quer que seja, quando não encontramos em nós mesmos motivo nenhum que nos mova para tal?
Seria a nobreza do dever kantiano? Seria
este o pagamento por meu ato-não-ato? São muitas as questões nadando na
superfície desse mar de benevolência sem fonte. Quantas e quantas vezes me pego
sacrificiando meu tempo, minha energia, minha saúde, meu tesouro pessoal
por pessoas que eu jamais tinha visto antes.
E sacrificiei mesmo sem vontade!
E houve lucros de todo tipo na vida dos
vários alvos do meu holocausto autoimposto.
Talvez exista algo, muito profundo, que
dê conta de esclarecer o porquê de a natureza humana ser capaz de vivenciar
tamanha incoerência, tamanha contradição, como na igreja do diabo. São ajudas
sem expedientes. São ajudas que independem de horário de trabalho. São ajudas
sem calendário. Sem data para cessar. Sem garantia de que, na próxima ação ajudatória, se fará
com a vontade ausente na anterior.
O chato é que parece haver consequências. Parece que tudo isso nos leva a lugar muito ruim de se estar. Que lugar? O do não-amor sacrificial. Estaríamos, então, fazendo tudo aquilo que representa dar o próprio corpo para ser queimado em um sacrifício e benefício alheio, porém, marcado pelo ausente amor? Teria tudo a ver com o ato de transformar todos os bens pessoais em alimentos aos pobres – inda que sem sentir que haja amor suficiente em si ou o mínimo que justifique essa transformação?
Pior. Com que cara posso prestar ajuda a
quem nitidamente sabe que não queremos ajudar? E, uma questão ainda mais
dura: “Como é possível que as condições necessárias para que situações assim
existam existem?”
A única resposta para tudo isso é: “O
inexplicável existe!”.
Admitir que haja indícios de mistério em
todas as práticas de não vontade, que se corporificam em boas ações
filantrópicas.
Seria a misantropia que aprendeu a viver
em sociedade? A misantropia domesticada?
Talvez, a resposta que nos leva a algo, a
estar um pouco mais perto do inexplicável, seja a seguinte: é a pura e simples fé. Uma fé
naquilo que não somos. Uma fé que nos move vazia de crença. Ou que nos move apesar
de a não alimentarmos com a nossa manifestação mais comum de crença.
Reconheço: há algum absurdo quando nos deparamos com
o inexplicável. Contudo, quisera eu que todas as minhas inexplicações fossem
todas constituídas desse peculiar tipo de desprezo positivo: o desprezo que sempre se compadece e,
pragmaticamente, ajuda outrem.
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
A PROSA FINAL - CRÔNICA
O dia amanheceu, “nas redes”, com memes que desejavam a morte do presidente Lula. Lembro bem de como foi ruim ver gente zoando com a “Fakeada” ou “Fakada-Fest”, ou jogar bola “artisticamente” com a cabeça de Bolsonaro, ou, pior, ver repórteres inteligentinhos, articulistas e colunistas, escreverem artigo de opinião desejando que o ex-presidente morresse.
Não serei eu quem vai censurar as
pessoas, nem tenho poder algum pra cercear nenhum dos lados da polarizada
política brasileira, tampouco posso extirpar nenhum dos sujeitos que julgavam
certo se expressar assim contra seus desafetos políticos. Mas, é importante
bater um papo consigo mesmo e entender que sempre haverá uma última conversa
para todos.
Acredito que há uma necessidade, urgente
e cada vez mais carente, de se promover a consciência do fim das coisas. Uma escatologia
pessoal e de bom senso. Uma prosa poética sobre o final a que todos chegaremos.
Muita gente vai ficar muito excitada
com a notícia da morte de ambas autoridades políticas. Talvez, já haja apostas acerca
de qual das duas personalidades vai ser a primeira a partir. Penso que é penoso
as pessoas prosearem tanto sobre o fim dos outros e, poucamente, ou
quase nada, refletirem sobre os últimos dias de si mesmos.
Nós teremos uma conversa pela última
vez. E, com quem será, sobre qual assunto, quais as condições em que estaremos
quando cessarem todos os relógios, que conta pagamos com a nossa vida pelo
tempo que se viveu... poderiam ser reflexões muito mais excitantes e edificantes.
Porque, a cada dia que passa, mais fica manifesta perante todos QUEM VOCÊ
REALMENTE É diante da vida que leva.
Acredito, verdadeiramente, que carregamos
uma mensagem com a vida que levamos. Em cada fala, a cada ato, por cada escolha,
nossas ações e reações, lutas e desistências... tudo isso define a mensagem que
carregamos com a vida. É essa mensagem que fica na vida daqueles que não somos.
Saber que haverá a prosa final
deveria gerar em nós maior consciência de que todos somos passageiros. De que
ninguém todo o poder. Só de Um é o poder. Como dizia Bob Marley, contra os
poderosos que acham ter muito poder: “Cause none of them can stop the time”. Há
uma força muito poderosa, o tempo. E ela fará com que todos se calem. Que toda
língua cesse. Não à toa Deus ser o Senhor do tempo. Ser o mudador das
estações.
Na poética do fim, espero ter
deixado mais paz que dor, mais vida que desprezo, mais fé do que dívidas, mais
abraços do que costas viradas em intransigência. Não importa com que será minha
prosa final. Só importa que a prosa não acabe e que tudo que eu tenha dito com
minha vida não seja silêncio sem amor, um corpo oco sem fé.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
NA MULTIDÃO DE E(R)ROS - POEMA
NA MULTIDÃO DE E(R)ROS
“Tudo dói, mas passa!”
Não
vinha com manual de instruções...
A
vida.
Nauro,
Machado.
Com
letras de analfabeto
Escrevi
não só a minha.
Rabisquei
a de outros.
Rasurei.
Alguns
me deram chance de (re)escrever.
Outros
me apagaram com a borracha.
Fecharam
seus cadernos pra mim.
Sequer
me permitiam cola.
Contudo,
Diante
de mim,
Permanecia
a minha lida.
Ninguém
nasce sabendo...
E
o menino?
É
pai do homem.
Pai
dos Machados.
Pai
de Wordsworth.
Enfim,
Não
haveria maravilha no desconhecido.
Não
haveria prazer ao se vencer o não saber.
Muito
menos o gozo de nunca saber tudo,
Saber
que o suficiente nunca é o suficiente.
Vivendo
as incompletudes.
A
sanidade do vir a ser.
A
dispersão natural.
O
melhor vai e vem!
Somos
uma folha em branco,
Entretanto,
Sei
que fui entretecido,
Magnificamente,
No
ventre de minha mãe.
As
cachoeiras não dão água.
Elas
escorrem...
Elas
só se sabem movimentos.
Seu
líquido,
Numa
vazão medida pelo maior Astro,
Banham
as cabeças.
Banham
as cabeças que nasceram sem pensar a si próprias.
Mas,
Foram
magnificamente pensadas.
E
a minha multidão?
Está
no meu livro.
Foram
esquecidos da minha mente.
Até
onde o que é erro é erro,
Ou
é aprendizado?
Durei
tanto tempo pra agregar,
Pra
ser rico como quem aprende com os erros,
Dos
outros,
De
si.
E
agora, a fronteira entre o que me é riqueza
E
o que me é memória em falta
Faz-me
questionar:
“Que
multidão! Sempre será estúpida como tantas outras?
Como
a que levantou no madeiro o Salvador?”
Antes
só...
E
segue o ditado.
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
AS MUDANÇAS QUE NÃO VI - CRÔNICA
Há mudanças que aconteceram tão
rapidamente, algumas estão acontecendo agora mesmo, a ponto de eu sequer
perceber. Acho que muitas delas, até agora, ainda não consegui dar conta de sua
dimensão. De sua mínima dimensão. Quem dirá da máxima. E, francamente, pareço
bem desinteressado e nada disposto a gastar com meditação, energia, tempo e
trabalho para “sacar o que tá pegando!”. Seria o Ser, e não o ser, heideggeriano!
Em que momento diminui ou quase parei de
visitar a casa dos outros? Gente querida, gente amiga. Quantos anos já? Onde
está a curva decrescente do meu consumo de artigos de opinião e leitura de
romances? E o fim da vida esportiva, que tomou quase uma década da juventude, e
a nova vida esportiva que nos últimos anos insiste em ficar? Ficou na vida de
adulto.
Há mudanças bem significativas... mais do
que essas. Porém, não me interesso por formulá-las. Só as aceitei. Principalmente
as que não vi. Foram acontecendo. Em cascata. Até parece que o meu não querer
formulá-las, dizer a matéria de que se faz cada uma delas, seja sinal não do
meu desinteresse, mas da minha exata não dação de conta.
Quando eu dizia, há mais de uma década,
que tenho dormido pouco, não imaginava que isso se tornaria ou se modificaria,
no futuro, para noites de insônia. E, talvez por ser maior o desinteresse ou a
despreocupação, nem mesmo posso dizer que importa ou me valeu algo a perda das
noites. Uma ou outra, devo reconhecer, foi de puro despropósito ou necessidade
de lazer não atendida. Contudo, sigo. Claro que com bem mais lazer do que
noutros tempos.
Acredito que muita gente passa anos e anos
sem se permitir feriar. E, uma das mudanças que me ocorreram foi sim, não a
principal, só que muito substancial, foi a da prática do feriar. Em que momento
exatamente eu me percebi como um homem que nunca curtiu férias? E por que
cargas d’águas eu mudei?
Mudei que nem vi. Agora, prezo. Não mais
preso. Eu ferio.
Que show da Xuxa é esse?!
Devo tá guardando no meu bloco de notas do
celular muitas notações que foram ou seriam momentos de mudanças. Coisa para se
fazer depois. Coisas para se mudar. Coisas que eram de me interessar. Não para
aquelas horas em que anotei e, sim, para algum momento que no futuro viverei.
E vivi! Devo recordar de uma ou outra
tomação de nota que virou material de minha vida futura – que ficou em algum
momento do passado. Um mote de poema para se terminar. Uma senha para eu
recordar onlinemente. Uma homenagem pra fazer. Só que... a maioria... mudou. E
nem vi!