3 de Julho, entrei no Google e vi um logo com características do conto A metamorfose. Pensei, “o que deve ser?
Morte?”; exatamente. São 89 anos sem um dos mestres da “Estética do absurdo”. Todo
leitor que ama a Literatura jamais será leitor sem experimentar seus textos,
que nos levam numa “atmosfera do inconcebível viver”. Quem é ele?
Franz Kafka (Praga, 3 de julho de 1883 — Klosterneuburg, 3 de junho de
1924) foi um dos maiores escritores de ficção do século XX. Kafka era de origem
judaica, nasceu em Praga, Áustria-Hungria (atual República Checa), e escrevia
em língua alemã. O conjunto de seus textos — na maioria incompletos e
publicados postumamente — situa-se entre os mais influentes da literatura
ocidental.
Em obras como a novela A
Metamorfose (1915) e romances como O
Processo (1925) e O Castelo
(1926), retratam indivíduos preocupados com um pesadelo de um mundo impessoal e
burocrático. Quem quiser conhecer mais leva só mais alguns minutos no link do Wikipédia.
Preferi colocar aqui duas passagens, saborosas e fastidiosas, do conto:
A Metamorfose
I
Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si
na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão
duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou
o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o
qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar.
Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente
finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.
Que me aconteceu? - pensou. Não era um sonho. O quarto, um vulgar quarto
humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro
paredes que lhe eram familiares. Por cima da mesa, onde estava deitado,
desembrulhada e em completa desordem, uma série de amostras de roupas: Samsa
era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que recentemente recortara
de uma revista ilustrada e colocara numa bonita moldura dourada.
Mostrava uma senhora, de chapéu e estola de peles, rigidamente sentada,
a estender ao espectador um enorme regalo de peles, onde o antebraço sumia!
[...]
Olhou para o despertador, que fazia tique-taque na cômoda. Pai do Céu! -
pensou. Eram seis e meia e os ponteiros moviam-se em silêncio, até passava da
meia hora, era quase um quarto para as sete. O despertador não teria tocado? Da
cama, via-se que estava corretamente regulado para as quatro; claro que devia
ter tocado. Sim, mas seria possível dormir sossegadamente no meio daquele
barulho que trespassava os ouvidos? Bem, ele não tinha dormido sossegadamente;
no entanto, aparentemente, se assim era, ainda devia ter sentido mais o
barulho. Mas que faria agora? O próximo trem saía às sete; para apanhá-lo tinha
de correr como um doido, as amostras ainda não estavam embrulhadas e ele
próprio não se sentia particularmente fresco e ativo. E, mesmo que apanhasse o
trem, não conseguiria evitar uma reprimenda do chefe, visto que o porteiro da
firma havia de ter esperado o trem das cinco e há muito teria comunicado a sua
ausência. O porteiro era um instrumento do patrão, invertebrado e idiota. Bem,
suponhamos que dizia que estava doente? Mas isso seria muito desagradável e
pareceria suspeito, porque, durante cinco anos de emprego, nunca tinha estado
doente. O próprio patrão certamente iria lá a casa com o médico da Previdência,
repreenderia os pais pela preguiça do filho e poria de parte todas as
desculpas, recorrendo ao médico da Previdência, que, evidentemente, considerava
toda a humanidade um bando de falsos doentes perfeitamente saudáveis. E
enganaria assim tanto desta vez? Efetivamente, Gregor sentia-se bastante bem, à
parte uma sonolência que era perfeitamente supérflua depois de um tão longo
sono, e sentia-se mesmo esfomeado.
À medida que tudo isto lhe passava pela mente a toda a velocidade, sem
ser capaz de resolver a deixar a cama - o despertador acabava de indicar quinze
para as sete -, ouviram-se pancadas cautelosas na porta que ficava por detrás
da cabeceira da cama.
- Gregor - disse uma voz, que era a da mãe -, é um quarto para as sete.
Não tem de apanhar o trem?
Aquela voz suave! Gregor teve um choque ao ouvir a sua própria voz
responder-lhe, inequivocamente a sua voz, é certo, mas com um horrível e
persistente guincho chilreante como fundo sonoro, que apenas conservava a forma
distinta das palavras no primeiro momento, após o que subia de tom, ecoando em
torno delas, até destruir-lhes o sentido, de tal modo que não podia ter-se a
certeza de tê-las ouvido corretamente. Gregor queria dar uma resposta longa,
explicando tudo, mas, em tais circunstâncias, limitou-se a dizer:
- Sim, sim, obrigado, mãe, já vou levantar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário