POEMINHA AMOROSO (Cora
Coralina)
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."
UM BREVE OLHAR DESILUDIDO E
CAPICIOSO SOBRE O POEMA ACIMA:
A única tensão presente
neste poema – e por que não chama-la conflito do belo – é a premissa de que o poema
oferecido fará com que a amada possa “entender o amor” desse eu amoroso. E aqui
me atenho a duas questões – que apesar das considerações feitas a seguir, logo
se tornam obsoletas diante de uma terceira. Penso que esta acaba com
todo o interesse desse poema infelizmente.
Primeiramente, trabalhar a
ideia de que o amor da relação homem-mulher é algo “intendível”, inteligível,
abalizado pela razão, realmente nos leva a um confronto prazeroso. Sobretudo,
porque crê-se que não é só a ideia de amor, mas de que uma atitude objetiva resulta na compreensão de que se é amado por outrem. Ou seja, um fato material
que toma corpo através do ato de um ser amoroso produzir o poema amoroso, que elogia e
cultua a mulher, levando esta a sentir o amor. Parabéns por tratar disso.
Mas, vamos a mais um
apontamento. O clima do confronto e do alto nível estético que paira no poema é
alavancado pela possibilidade. Digo, o poema que a mulher recebe “pode” ou é
feito para que ela “possa entender o amor. Estamos pisando então no terreno da
não garantia, da excitante possibilidade de realizar algo apoteótico com a
verdade, sentimento ou objeto de troca entre os seres a que chamamos amor.
Enfim, sendo sucinto e já me
sentindo deleitado pelo caminho que esse poeminha amoroso toma (parte dele, é
claro), caio aqui no abismo da decepção absoluta.
O terceiro ponto é, pondo em
relevo o verso: “te deixará pasmo, surpreso, perplexo...”, entendemos o
eu-lírico não é de um homem para uma mulher. Trata-se do contrário. Ou, então,
infere-se que seja uma relação homossexual. Obviamente esta.
Só que a perdição que me
rouba o gozo neste poema não são sequer estas inversões... Nadinha disso. Isso
é merdinha!
A perdição que sentencia a
todos os leitores está no fato de que, no fim de contas, o eu lírico ajuíza que
“não importa”. Isso mesmo. Eis a defenestração de todo prazer de quem o lê.
Sim, o ser que cultua e ama no desencaminha para o lado de que não importa que
o outro “entenda o amor” ou que “possa entender o amor”.
E, pra cagar de vez com o já
sensabor passo que o leitor-fruidor deu na queda dramática, apontada nos dois
pontos iniciais desta crítica, o eu lírico transpõe a realização do amor – que
indubitavelmente necessita do outro, do ser amado para se realizar – para a
simples dimensão do versos no papel. Nem vou entrar no arrependimento meia-boca
que aparece nos últimos três versos, porque, o cara que lê morre muito antes de
chegar lá. Aff! Que saco! Morra diabo!
Isso foi só uma possível
interpretação. Ok, gente?! kkkk
(Chamo equívoco bem vindo porque encontrei esse poema sem a autoria em um cyber e deixei minhas reflexões perquiri-lo. Só depois descobri que pertencia à renomada Cora Coralina. Fazer o quê!? Deu nisso aí! Aliás, ainda teve o equívoco de eu interpretar como se o eu lírico fosse masculino! kkk)
Nenhum comentário:
Postar um comentário