Anderson Damasceno
Desde 2013,
rola no Brasil a tradução de uma obra excepcional, isto é, o livro do francês
Pascal Bernardin, intitulado “Maquiavel Pedagogo”. Esta obra oferece, logo de
cara, um segundo título que já adianta muito de seu conteúdo: “Maquiavel
Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica”, agora sim escrito na íntegra.
Essa ênfase na
introdução do texto serve, exatamente, para destacar que, não apenas os alunos, mas as escolas e as salas de
aula, os professores e seus coordenadores pedagógicos, os pais e as
comunidades escolares, podem ser alvos de uma pedagogia maquiavélica. Leia-se “pedagogia
maquiavélica” no sentido de um programa de ensino em que “os projetos
escolares são a aplicação direta dessa filosofia manipulatória”, em que os
estudantes não vão ter contato com as ferramentas necessárias para desenvolver
a “autonomia intelectual”, (Bernardin, 2013. p. 12).
A partir de agora, vamos ver três coisas. Uma das
técnicas apontadas por Bernardin e, em seguida, como ela pode ser aplicada nas
salas de aula, com alunos do nível fundamental ao superior. Depois disso,
veremos de que maneira o projeto Escola Sem Partido pode contribuir contra essa
manipulação que mata a autonomia intelectual dos estudantes. Ou pelo menos
tenta matar no ovo.
I
Em sua pesquisa, Bernardin
apresenta mais de 10 técnicas de manipulação psicológica. Entre elas está a d’O conformismo, que foi
estudada por A. S. Asch, ao averiguar os efeitos da pressão de grupo na modificação
de julgamentos. Ou seja, Asch fez uma experiência que comprova que as pessoas
têm tendência ao conformismo (Bernardin, 2013. pp. 18-19).
De início,
pode não parecer assim uma grande novidade, mas, vale a pena entender como que
essa experiência funciona.
Ao sujeito
avaliado, melhor dizendo, a pessoa que é a “cobaia” nessa experiência e,
obviamente, não sabe o que está acontecendo ali, apresenta-se uma linha traçada
sobre uma folha. Além dela, há três outras linhas de comprimentos diversos. Em
seguida, pede-se ao sujeito que aponte, entre as três linhas, aquela em que a
medida seja igual à da linha-padrão. Vamos supor que a linha-padrão tenha 8
centímetros, enquanto que as outras três linhas medem 6, 10 e 8 centímetros.
Nessa
experiência, há quatro pessoas associados ao pesquisador, no caso, o cientista Asch.
E esses quatro indivíduos vão responder igualmente errado. Eles vão escolher
uma linha de tamanho visivelmente incompatível com o da linha-padrão. A pessoa
testada vai responder somente depois de ver os outros quatro indivíduos
respondendo. Pois bem, ela tem duas alternativas: ou também dá uma resposta
errônea ou se opõe à opinião unânime do grupo.
Asch fez esse
experimento repetidas vezes, sendo que, em algumas situações, aqueles quatro
colaboradores respondiam de modo correto. A conclusão estatística foi a
seguinte: aproximadamente três quartos
dos indivíduos realmente avaliados deixam-se influenciar nos ensaios, dando uma
ou várias respostas errôneas. Mesmo que a questão não ofereça qualquer
dificuldade.
Asch verificou
também que, nos testes em que não há aquela pressão, digo, aquele acordo entre
os quatro colaboradores e o cientista, o
percentual de acerto chega a 92%.
O engraçado é
que, depois dessas experiências, os sujeitos conformistas foram entrevistados e
afirmaram depositar sua confiança na
opinião da maioria, mesmo vendo que o tamanho das linhas escolhidas era
evidentemente errado. Outros disseram se conformar com a opinião do grupo para
não parecer inferiores ou diferentes.
Eles não têm consciência de seu comportamento.
Antes de
terminar esse ponto, vale ressaltar que, nessa experiência, se um dos
colaboradores dá a resposta correta, o
indivíduo avaliado então se sente liberto da pressão psicológica do grupo e dá, igualmente, a resposta correta. E
olha que essa experiência não contava com aquelas situações em que os grupos
fazem ameaças ou sanções, como acontece na nossa realidade social.
(Atualização 29/12/17)
A segunda parte da postagem segue no link: ESCOLA SEM PARTIDO – Os GTs como ferramentas do Conformismo e depoimentos de mães. A 3º parte será inserida na postagem seguinte do Blog OA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário