Anderson Damasceno
A vida tem interesse. E a vida é interessante. Vejamos alguns tipos de relacionamentos e suas inusitadas situações.
Quando estou falando “de sério”, as pessoas querem levar na
piada. Mas quando estou fazendo graça, elas tomam isso muito a sério.
Quando eu quero que me ouçam, sequer me dão ouvidos. Já quando
quero ser esquecido por todos, colocam-me sob os holofotes.
Quando espero que me deem a justa atenção, sou lançado no
limbo do abandono, na shadowban dos sentimentos.
Ou seja... A vida realmente tem interesse.
Interessa a ela estar difícil, justo quando procuro por suas
facilidades.
Interessa a ela ignorar meus gostos somente nos momentos que
pretendo imperar algum.
Interessa-lhe tirar meu sono exatamente na hora que mais
necessito dormir.
Interessa entregar um gratuito não depois que paguei
arduamente por um custoso sim.
Mas, afinal, qual é o interesse da vida? Não posso reagir a
todas essas coisas com pouco caso, com desdém, como se nada fossem. Nem tratá-las
apenas como se fossem amenidades, bobagens e eventualidades.
Podem até parecer brincadeiras as inúmeras vezes em que se repetem
tais situações. O que me leva a querer saber, inevitavelmente, qual é o
interesse da vida em me tratar tantas vezes assim.
Então, de início, passei a procurar pelos culpados.
Encontrar quem seriam os atores sociais que tornam a minha vida um teatro dos
avessos, uma epopeia de desconcertos, em um mundo com tudo muito fora do seu lugar.
Ou do que pensava ser o lugar de todas coisas.
Cheguei à conclusão que tudo tinha a ver com os
relacionamentos que tive e tenho.
Porém, a conclusão mais segura era outra.
Tudo se resumia na minha veia aberta, negada, pouco
gerenciada, dum não-lugar em que pulsa toda a minha misantropia e toda a minha autossegura merecência.
"Tem que cuidar disso aí!", penso, temeroso.
Como é duro recalcitrar contra os aguilhões.
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