NACIONAL ENERGY

terça-feira, 11 de julho de 2023

AMOR EM CASCA - POEMA

AMOR EM CASCA - EPITALÂMIO


Anderson Damasceno


Encontre a mulher do teu amor e siga em frente.

Pegue as rosas, roube as flores pelo caminho...

Você sabe que todas ficarão lindas do lado dela,

Porque é ela.

 

Tome-a pela mão, puxe-a para caminhar, escreva teu carinho...

O tempo é o que pouco importa,

O lugar pouco importa qual é,

Ela é quem importa.

 

Cheire os cabelos uma vez mais

As ondas, onde há cachos e onde cachos não há.

Enterre neles tuas mãos, teus dedos, massageando com as digitais sob os fios e o crânio,

O crânio todo deste ser.

 

A vida que não te abraça, que não te colhe, que não te aquece...

Tem tudo isso nela.

É gratuito e tem fim. É fortuito e nada mais há que valha assim.

Que interessa se quebrar o punho da rede?

 

E se for no sofá, nos sofás, a cabeça pendida no fim da noite,

O silêncio que se escuta apesar do barulho da TV,

Do carro passando na rua...

Você já é mais que a poeira do dia deixando o corpo dela no banho.

 

Se é sem cor a escuridão da madrugada, e mesmo assim você a vê.

Agarre-as com os suspiros, com o fôlego que vem a cada fração de tempo.

Volte a dormir e escute o ar quente da paixão inflamada –

Que vai ser apagada no sono até o amanhecer.

 

E que vida é essa?

Que mão é essa que te prende deliciosamente e não te para?

Deixado os dedos na pele, e segure pra nunca mais deixar ir.

Faça doer mesmo que não pareça existir medo algum de te deixar louco o perder.

 

Canta pra ela, mesmo que tua voz não preste, e tua harmonia seja mal rotulada, bem ou mal avaliada.

Os olhos podem revirar, o gracejo pode vir, a piada...

Se lance, viva, mas não se sufoque.

Construa as estradas que você irá andar com ela.

 

E a fúria dos desencontros?

Morda tua nuca se conseguir, mas não permita que tua mente te afogue nas amenidades.

A impetuosa paixão, que não aceita ter lugar com a lascívia, está em esqueleto:

Sustenta teus músculos do peito, liga teus tendões acima das doenças.

 

Vá beijá-la! Não sucumbe!

Crave as unhas no amor da tua vida. As mesmas unhas que ela cuida.

Arranque da face negra todo os anos do desmerecer, da indignidade.

A crueldade é maior a cada segundo que passa.

 

Curve-se perto de seus pés, reclinado, e puxe seus dedos.

Estale, um a um,

Passe a outro, e outro, e ao outro pé. Desça a perna ao chão e erga a seguinte.

Tá em tuas mãos. É com tuas mãos que se faz, mãos que tecem este tempo, em que se estala um: “Estou aqui.”.

 

Em que degredo estive?

Fale a ela, espuma e mar por sobre ela, enxarcando cada som compressivo, ondular, propagado, e endereçado aos tímpanos.

Processe os sinais acústicos da fala que fala, vasculhando imprintings no cérebro dela, varredurando as funções superiores da mente,

Sons capazes de construir todo o teu rosto de amor na mente jardinada que ela tem.

 

A mente jardinada que ela tem te fez flor.

Homem, flor, raiz, minério, sol, seiva, ela...

Cave maxmartinamente que seja, mas cave. Cave policarpicamente, mas cave.

Ela-flor, enegrecida, mais que bela, maturada, plantada com os dedos de tuas mãos.

 

Grite e faça som... estrídulos que se somam ininterruptamente.

Faça!

Só não aceite o vazio se estabelecer nesse caso de amor que só agora é e só agora pode ser depois de tantos anos que é.

É audível teu sussurro no ouvido dela dando o boa noite em despedida – e que não quer mais se despedir.

 

E se quer seguir assim...

Nessa loucura do sem saber, enlouquecer-se e crescer com e pelo teste do tempo e do fruto.

Tu e ela são frutas, de sabor que se mastiga, integradas à vida, no guaraná da Amazônia.

Vem e sonha teu ser junto com ela, para que seja então o Ser de tudo aquilo que vocês ainda não conseguem mensurar.

 

Vem com a morte do arrependido.

Vem com a fé pura do convertido.

Segure-a pela mão, a dela espalmada na tua, soltando de vez quando pra enxugar o suor no cruzamento dos dedos.

Vem com a fé, o filho, a filha, em sonho, em vida.

 

O ser que sou capaz de amar,

Ela me aguarda dormindo agora, nesta hora em que não estou com ela.

A vida segue longa nesta madrugada, mas não me para nem me cancela...

Quero o meu desacordado amor, e sobreviver ao contra-desacordo do tempo que nos separa.

 

E há tanta intriga nesse nó.

Desenrole, faça o desenlace, vaqueje seus atrasos, enlace seus medos, amarre-os, dominados.

Da prisão do curral, saia batendo o pó para receber das mãos da mulher que você ama o copo d’água.

Em cada passo que você for avançando, lembre-se que cada passo também está te distanciando exatamente disso que você busca.

 

Olhe a paixão de forma cruzada, atravessada no peito, consumindo cada bombeada do sangue dos ventrículos.

Compressivamente, é ela quem te aperta.

E sistolicamente ela é quem te faz jorrar pra vida, teu sangue oxigenado pela emoção dos dois.

Talvez você não saiba, mas ninguém mais há que te faça respirar assim novamente.

 

E ganhe peso na tua busca.

O peso de quem ama é a única base forte em que os pés dela poderão se sustentar um dia.

A dor dos anos sós, insistidos e esperançados, chorados com tanto sal e silêncio, travesseirados...

Execute a confissão do teu amor por ela no altar. Se não for, há de matar por asfixia do amor quem só te há de amar. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário