NACIONAL ENERGY

domingo, 23 de julho de 2023

MONOBLOCO ALZHEIMER

 


MONOBLOCO ALZHEIMER

 

Como é difícil seguir sendo esquecido exatamente por quem mais amamos.

Sentir que aquele olhar não existe mais do mesmo modo quando o encontramos.

Saber: tudo que (se) passar não vai somar com o tudo que já passamos.

Ouvir cada fala distante, larga... e bem diferente do que já ditamos.

Tocar a pele tão conhecida, mas que não lembra o quanto a tocamos.

Abraçar com força aquela vida deixando de ser a vida enquanto abraçamos.

Entrelaçar os dedos da mão tão querida que não entende porque entrelaçamos.

Beijar a testa seca ou úmida – como era nos dias em que a beijamos.

Cheirar o tom dos cabelos (brancos) cujo perfume não saberá que o cheiramos.

O ser que foi personificado nos seus cheiros não recordará do meu nariz em prantos,

Não lembrará que foi por muitos dias que banhei com o mesmo sabonete que usamos.

Compartilhar os perigos da vida com a mesma dor-adrenalina em que compartilhamos.

Prestar o favor em qualquer hora do dia sem ser favor o preço que pagamos.

Comer acompanhado a melhor comida que por acaso era a que mais gostamos.

Ver o prato secando à medida em que se ia a fome com que almoçamos.

Passear na praça comprida e que foi ficando pequena com o passar dos anos.

Se eu soubesse que o dom da vida a faz menos sofrida quando aceitamos,

Aceitamos que em cada partida não é só a vida que vai nos deixando,

Deixando vai a mensagem que trazemos pra plantar enquanto acabamos:

Há um milagre feito para cada dia e que é muito preciso colher sem planos.


Publicidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário