Nos estudos, protagonismo das mulheres é predominante
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Na próxima terça-feira (8), comemora-se o Dia Internacional
da Mulher, data bastante marcada, de um lado, por comemorações em nome delas e,
por outro, pelos debates acerca da atuação feminina na construção da sociedade.
O pensador alexandrino, Eric Hobsbawm, colocou em relevo a mudança na condição
de vida da mulher como um dos elementos que este século herdou do anterior.
Um dos sinais dessa mudança pode ser avaliado levando-se em
consideração a presença da mulher, nos espaços reservados à preparação intelectual.
Cada vez mais elas representam a maioria em cursos, escolas e na universidade.
A reportagem procurou ouvir de estudantes secundaristas como tem sido esta fase
de formação estudantil.
As estudantes do terceiro ano médio, Victória Caroline Vital,
17 anos, e Isabela Mourão Rocha (16), que cursam no Instituto de Ensino A+,
fazem parte de uma turma constituída por 57 alunos, em que 35 são mulheres.
Durante entrevista, a reportagem buscou saber o que elas acham da passagem da
mulher pelo ensino médio, e como tem sido a atuação delas e das amigas nos estudos.
Segundo Victória Vital, é nítido o crescimento que a mulher
tem alcançado, no espaço das universidades, como reflexo da presença delas nas
salas de aulas.
“No meu caso, vejo que o interesse sempre foi maior por
parte das mulheres. Justamente pela quantidade. E, quando a gente chega na
faculdade, não é algo que muda porque a presença feminina lá é muito maior",
afirma.
Porém, a jovem ultimoanista entende que há um problema sério
em andamento.
“A gente acaba sendo doutrinada a não fazer determinados
cursos. Por exemplo, há muita menina que gosta de Engenharia Civil, mas o pai
não deixa. Casos assim eu já vi na minha sala. E isso é, justamente, porque
dizem que esse curso é para homens”, pontua.
Vital considera ainda que isso leva ao debate sobre o lugar
da mulher na sociedade.
“Os próprios professores, muitas vezes, falam que certo
curso é uma profissão de homens, como se mulheres não pudessem estar ali. Ou
que elas não têm capacidade de desenvolver cálculo. E isso é muito ruim”,
ressalta.
Por sua a vez, Isabela Rocha observa que, apesar da mulher
estar tendo abertura dentro da faculdade, ainda é muito segregada, porque há
aquele pensamento do que é de mulher e o que é de homem.
“Eu acho que esse crescimento, do direito da mulher poder
estar onde ela quiser, é o pensamento que a gente está tentando viver já na
escola. A partir do momento que você decide o que vai fazer, sem ter que pensar
Eu sou mulher, então, não posso fazer
isso, você sabe o que quer”, acentua.
Foi perguntado também se elas sentiram essa pressão da
sociedade, agora, durante os anos de estudos secundaristas.
Para Victória, isso já vem de casa.
“Mudou em relação ao passado, mas ainda continua em alguns
pontos. Há alguns anos, minha mãe não teria nem condições de criar filhos e ter
uma formação. Já no meu caso, é meu objetivo entrar na faculdade. Na minha casa
já aconteceu de meu irmão não fazer nada, e eu tinha que tomar conta da casa. E
ai fui conversar com meus pais para dizer que isso estava errado, pois nós dois
temos que manter a casa. Não é que eu me negue a fazer as atividades de casa, é
que esse trabalho tem que ser dividido”, detalha.
Já para Isabela, o espaço do ensino médio é muito complicado
para ser mulher e ter um posicionamento.
“Porque a maioria dos nossos professores são homens. Então,
você colocar seu posicionamento, principalmente quando se é feminista, e você
confrontar o professor, porque ouve uma piada machista, é difícil”, descreve.
Além disso, Isabela nota que, apesar da mulher ser a
maioria, em muitos espaços elas não são contempladas.
“É muito complicado você tentar se inserir, em um espaço
onde sua voz é diminuída, silenciada. Por exemplo, na política, por eu ser
mulher, sou minimizada”, enfatiza.
Por fim, a reportagem questionou como elas imaginam que vai
ser a vida universitária.
“Eu já fui em algumas palestras do meu curso e ouvi umas
coisas que nunca pensei escutar em toda minha vida. Um professor entrou na sala
e disse que, para você ser engenheira, tem que decidir, ou você é bonita, ou
você é engenheira”, recorda Vital.
Isabela, novamente, encerra com otimismo.
“Como eu sou militante popular, penso que minha inserção no
ambiente da universidade, onde a discussão dos movimentos sociais é mais
aberta, vai ser melhor. Principalmente na minha área, que é de humanas e artes.
Vou ter mais facilidade de atuar. É um lugar onde a mulher pode se politizar
mais”, avalia.
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