NACIONAL ENERGY

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

FAZEDORES DE BOBAGEM

Anderson Damasceno

 

É muito bom fazer o exercício diário de escrever. Mesmo que seja pra escrever bobagens. Dessas que ninguém vá lá muito se importar. Nem vai levar muito a sério o que você escreveu.

E, ainda que você se sinta um ridículo, ou que as pessoas passem a pensar isso de você, logo após terem lido aquela bobagem que você escreveu. Ops! Que você ousou escrever...

Não se preocupe. Muito provavelmente você está num jogo de iguais. Você é tão ridículo quanto elas. E é exatamente aí que mora toda a beleza desse negócio.

A única diferença cabal desse jogo é que você se deu ao trabalho de escrever tua própria bobagem. Você tirou essa coisa abobada do zero. Deu vida a ela. Deu matéria. Tornou legível, entendível, ainda que rotulável de ridícula.

Todavia, continua sendo um jogo de iguais. Por um lado, você teve teu momento de amenidade, de jogar conversa fora. Aliás, de escrever conversa fora.

Tá! Você poderia ficar curtindo preguiça. Calar a boca. Ficar sem fazer nada. Teus rotuladores também ficariam.

Isso é muito fácil de entender. Quem fala mal da tua bobagem tem as próprias bobagens também.

Enquanto tu te esforças no exercício diário da montação de palavras, o teu leitor ou as tuas leitoras, ou quem quer te leia, também se esforça para poder rir da sua cara. Para poder falar mal de você. Criticar o que você veio a escrever.

Mas, veja. Quanta beleza! Fizeste quem te odeia rir. Quem te leu foi levado a pensar. Teve a chance de te interpretar. Usufruiu da oportunidade de te avaliar. Gozou do direito de poder te ridicularizar.

E os benefícios acabaram? Ainda não.

Quem te mal leu ou quem te ler por mal, até agora, até este exato momento, ainda dispõe da total liberdade de escolher continuar te ridicularizando. De seguir fazendo bobagem com as bobagens que você escreve.

Perceba que nesse jogo de iguais, a tua bobagem desencadeia uns tantos mil benefícios, umas tantas mil possibilidades de cada ser humano, e de cada ser leitor, ampliar a própria bobagem. São as 24 horas de cada dia, o que cada um pode se dar.

O que poderia representar melhor a liberdade mais viva do gosto e do desgosto do que isso, gente?

Que onda, hem!? Que escalada impressionante! 

Quanta beleza é capaz de existir mesmo na pequena escrita da pessoa mais comum. No grupo do WhatsApp, num bilhete na padaria, na carta pr'um parente, no e-mail pra sua filha...

É por tudo isso, mas não só por isso, que amo a beleza da má, da moderada e da boa literatura.

Portanto, que elas vigorem. Que elas continuem...

E sejamos todos fazedores de bobagens.



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