Anderson Damasceno
É muito bom fazer o exercício diário de escrever. Mesmo que
seja pra escrever bobagens. Dessas que ninguém vá lá muito se importar. Nem vai
levar muito a sério o que você escreveu.
E, ainda que você se sinta um ridículo, ou que as pessoas
passem a pensar isso de você, logo após terem lido aquela bobagem que você
escreveu. Ops! Que você ousou escrever...
Não se preocupe. Muito provavelmente você está num jogo de
iguais. Você é tão ridículo quanto elas. E é exatamente aí que mora toda a
beleza desse negócio.
A única diferença cabal desse jogo é que você se deu ao
trabalho de escrever tua própria bobagem. Você tirou essa coisa abobada do
zero. Deu vida a ela. Deu matéria. Tornou legível, entendível, ainda que rotulável
de ridícula.
Todavia, continua sendo um jogo de iguais. Por um lado, você
teve teu momento de amenidade, de jogar conversa fora. Aliás, de escrever
conversa fora.
Tá! Você poderia ficar curtindo preguiça. Calar a boca.
Ficar sem fazer nada. Teus rotuladores também ficariam.
Isso é muito fácil de entender. Quem fala mal da tua bobagem
tem as próprias bobagens também.
Enquanto tu te esforças no exercício diário da montação de
palavras, o teu leitor ou as tuas leitoras, ou quem quer te leia, também se
esforça para poder rir da sua cara. Para poder falar mal de você. Criticar o
que você veio a escrever.
Mas, veja. Quanta beleza! Fizeste quem te odeia rir. Quem te
leu foi levado a pensar. Teve a chance de te interpretar. Usufruiu da
oportunidade de te avaliar. Gozou do direito de poder te ridicularizar.
E os benefícios acabaram? Ainda não.
Quem te mal leu ou quem te ler por mal, até agora, até este
exato momento, ainda dispõe da total liberdade de escolher continuar te
ridicularizando. De seguir fazendo bobagem com as bobagens que você escreve.
Perceba que nesse jogo de iguais, a tua bobagem desencadeia
uns tantos mil benefícios, umas tantas mil possibilidades de cada ser humano, e
de cada ser leitor, ampliar a própria bobagem. São as 24 horas de cada dia, o
que cada um pode se dar.
O que poderia representar melhor a liberdade mais viva do gosto e do desgosto do que isso, gente?
Que onda, hem!? Que escalada impressionante!
Quanta beleza é
capaz de existir mesmo na pequena escrita da pessoa mais comum. No grupo do
WhatsApp, num bilhete na padaria, na carta pr'um parente, no e-mail pra sua filha...
É por tudo isso, mas não só por isso, que amo a beleza da má,
da moderada e da boa literatura.
Portanto, que elas vigorem. Que elas continuem...
E sejamos todos fazedores de bobagens.
Publicidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário