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sábado, 19 de agosto de 2023

O ELOGIO DO ERRO – UMA DIDÁTICA ESCOLAR QUE FUNCIONA NO SEM QUERER QUERENDO DA SALA DE AULA

 

Anderson Damasceno

A didática por trás do "elogio do erro" pode produzir muitos benefícios na vida dos professores. E até mais que benefícios na vida dos alunos. Ou melhor, provocará bens (i)materiais na vida de quem porventura puder estudar com professores que são desse jeitinho. Assim, elogiadores do erro alheio. Especialmente dos dos seus pequenos.  

Imaginem uma situação super comum. Falo especialmente aos profs de LP. O garoto de 6º e 7º anos que ainda não diferencia na modalidade escrita da língua as palavras “pais” e “país”. A primeira serve para referendar a família: o casal de progenitores ou de adotadores desse mocinho deslizador da gramática. Sãos seus responsáveis. Já a segunda, para se referir à própria nação ou nação alheia. Quem sabe um país imaginário. Tanto faz!

O profissional que vê esse caso, nada raro, que se depara com essa cena em sala de aula e decidi fazer uma breve intervenção explicativa, levando a situação de incorrência gramatical para o quadro, está diante de um momento precioso. Uma rica oportunidade dentro do processo de ensino-aprendizagem.

“Olha aqui galera! O paquito da Xuxa ali escreveu assim na narrativa dele: ‘Quando chego em casa, eu falo com os meus país tudo que aconteceu de mais legal na escola’. E isso me fez pensar, temos um governante mirim aqui na sala, que lidera muitas nações pelo mundo. Puxa! Já pensou, você chegar em casa e contar pra população de todos os países que você governa tudo aquilo de bom que viveu na escola por um dia. Rapaz! Foi pelo Google Meet, rei do Norte?”.


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É bem verdade que por causa da rotina, da prática cotidiana de lecionar e, constantemente, ver muitas agramaticalidades na escrita e na leitura dos estudantes, possa parecer aos professores que cada situação de erro – não apenas nas aulas de português – seja algo tão habitual, comum, que acaba se automatizando. Por exemplo, o educador explica ali mecanicamente a diferença entre pais e país. Isto é, muitos profissionais atacariam somente e diretamente a questão técnica do erro.

Sabemos que há inúmeras questões que levam os educadores a agir dessa forma. E são, sim, questões que merecem ser debatidas em seus encontros de formação, capacitação, e até pesquisadas cientificamente. (E acabo de ter aqui mais uma ideia de tema/problema para publicar no BOA nos próximos dias). Também é sabido que há a postura daqueles profissionais defendem não perder muito tempo com a gramática, porque em algum momento da vida escolar as crianças e adolescentes vão acabar aprendendo a ortografia, ortoepia, a acentuação etc. E que pelo fato dessa garotada não dominar a linguagem quanto ao uso de objeto direto e indireto, no 8º ano do Fund II, isso não seria motivo suficiente para reter alguém no mesmo nível, no final do ano. E pro ano seguinte.

Contudo, quero me ater aos professores que aproveitam os momentos de vacilo na Língua Portuguesa. Ao escrever no quadro o deslize gramatical de seu pupilo, invés de ir direto para a questão técnica, envolvendo a semântica (o sentido dessas duas palavrinhas danadas), a ortografia (citar até o VOLP, a legislação...) e os elementos notacionais da escrita, resolve fazer uma singela brincadeira. Usar o momento pra elogiar de forma engraçada a incorrência cometida pelo alunado.

Essa abordagem evitaria muitos bloqueios, diminuiria a inibição, e evitaria a possibilidade dos educandos sentirem que estão “jogando contra os educadores”. Como se a nota da prova fosse a “prova” de que o professor não gosta do aluno e vice-versa.

Muita vez, o estudante que ainda está vivendo fases e fases de seu desenvolvimento filogenético acaba errando – e com todo o direito – na forma de avaliar o mundo e as pessoas em sua volta. Ainda lhes falta certa maturidade e experiência para perceber que o tempo de escola é um direito e um privilégio que cada pessoa precisa aprender a valorizar. É essa a ideia que gosto de passar quando escrevi em um dos meus “raps” os versos:

“Sei que até parece uma loucura

Passar a vida na escola sem sacar que a conta é tua.

Mas, fica calmo,

Ainda dá tempo de pagar”.

Falo que o alunado tem todo o direito errar, respeitando-se idade, capacidade intelectiva e educação recebida. Pois, há sim os casos de estudantes que entendem bem as relações de causa e consequência. Eles já desenvolveram maturidade suficiente para perceber o quanto não estão se dedicando aos estudos: gazetam aula, não prestam atenção na explicação nem respondem as atividades no caderno e no livro, conforme o prazo estipulado. Enfim, ficam na “vadiagem escolar”.

Mas, nem todos ficam gazetando aula. Há aqueles que, durante seu crescimento e amadurecimento, (leia-se aqueles enquanto crianças e adolescente) ainda não conseguem gerir bem e interpretar, com a segurança necessária, seus relacionamentos interpessoais. Afinal, isso é um dado material: pelo fato de existirem problemas em torno dos objetos do conhecimento, existirem atividades e provas, fica parecendo que os professores só existem para dificultar a vida estudantil, impedindo a felicidade.  

Raramente, um estudante vai tentar se dedicar ao conteúdo da área do conhecimento de alguém que ele sente não gostar de si. Em resumo, fica parecendo que a reprovação no final do ano depende somente do relacionamento interpessoal, entre educador e educando, ser o único quesito definidor. E não é bem por aí. Nem nunca deveria ser.

Portanto, brinquemos com mais acolhimento, sabedoria. Tentando entender o porquê de muitos erros em sala de aula. Cada um pode ser uma grande oportunidade de aprendizado. Mais alegre, mais saudável!

Um comentário:

  1. É proucupante vermos essas situações de não perceber que está na escola é o tempo oportuno para adquirir conhecimentos, porque a vida vai cobrar.

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