Na noite de
ontem (22), o Campus I da Universidade Federal do Pará (UFPA) recebeu a 6ª
edição do Sarau da Lua Cheia – evento mensal e itinerante que mistura as artes,
especialmente literatura e música, com amigos em gostosas rodas de bate-papo. O
Tapiri, espaço de lazer e lanchonete universitária, acomodou os sarauistas. Embora
tenha sido menor a participação do público, comparado a edições anteriores, o
encontro proporcionou inúmeros espantos e deslumbres possíveis só pela arte.
Como de
praxe, o poeta, Airton Souza, fez abertura da noite de recitais e cantorias.
Dessa vez o poema escolhido foi Madrugada camponesa, autoria de Thiago de Mello, classificado como poema de protesto
pelo declamador.
A poetisa e membro
da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará (ALSSP), Eliane Soares, leu um
trecho da obra mais lida do espanhol, Miguel de Cervantes, do século 16.
“Aquela que
considero ser a maior obra da humanidade, na minha modesta opinião, mas ousada,
é o Dom Quixote. Para mim não existe obra maior”, afirma.
Os poemas de
Alberto Caeiro, um heterônimo do grande poeta português, Fernando Pessoa,
fizeram parte do repertório de recitações de Gilson Penalva, professor
reconhecido por trabalhos de crítica literária e suas lições no curso de Letras
da UFPA.
Claudia Borges, professora que coordenou a Biblioteca do Professor, fez menção a Penalva – porque este influenciou positivamente sua formação enquanto acadêmica – bem como recitou mais textos de Alberto Caeiro.
O cantor, Xavier
Santos, apresentou um causo escrito por Jessier Quirino, cujo tom de protesto contra
a classe política brasileira gerou gargalhadas e reflexões profundas. O texto é
intitulado Virgulino Lampião, DeputadoFederá, marcado por uma linguagem própria do homem do campo.
Eduardo
Castro, atual presidente da ALSSP, declamou textos de Ana Lins dos Guimarães
Peixoto Bretas, que foi a criadora do pseudônimo, Cora Coralina. Além da homenagem
à memória da autora, Castro parabenizou o projeto do sarau.
“Quero
enaltecer, com todo louvor, a iniciativa desse sarau. Não sei se estou
cometendo injustiças, mas ele teve como idealizadores, em primeiro plano,
Eliane Soares, e como organizador o Airton Souza”, acentua.
Segundo a
organização do sarau, a presença de visitantes diminuiu, entre outras coisas, por
causa do Giro Cultural, programação que tem movimentado a cidade durante os
dias 21, 22 e 23 de agosto. Contudo, esse tipo de ocasião é mais que bem vinda,
haja vista que são eventos culturais atraindo a comunidade.
Mais de 20
pessoas ficaram à vontade no campus universitário e por toda a noite viveram
poesia.
Novas vozes – De acordo com Eliane Soares, o evento
também tem estimulado à produção artística local e, especialmente, contribuído
para descoberta de novos escritores.
“Todo mundo
que ainda tem poema, mas ainda não saiu da
gaveta¸ traz seus poemas. E ai, cada um vai lendo o do colega. Assim, a
gente se conhece enquanto se lê”, pontua.
Estudantes de
alguns cursos na UFPA aproveitaram o encontro para demonstrar seu apreço à arte
literária.
A acadêmica
de Ciências Sociais, Aline Gomes, tratou parte do poema Os ninguéns, assinado por
Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, autor do livro Veias Abertas
da América Latina.
Lourdes Sousa
e Kátia Guedes, ambas residentes em São Miguel do Guamá, cidade que dista mais
de 500 km de Marabá, estão cursando o período intervalar de Licenciatura Plena
em Letras. Elas comentaram que vão ficar com saudades, sempre que passarem
pelas noites de lua cheia, uma vez que na semana que se segue estarão
retornando àquela cidade.
Sousa entoou um
dos poemas que compõe a antologia Ao Marulhardo Tocantins – lançada em razão do centenário de Marabá – uma obra da editora
Literacidade, contendo textos de seis autores marabaenses, Abílio Pacheco,
Airton Souza, Eliane Machado, Francisca Cerqueira, Valdinar Monteiro e Vânia
Ribeiro.
A educadora
do CIEE – Centro Integrado de Ensino Êxito, Mirian Leila, encheu os pulmões e
os ouvidos sedentos dos sarauistas com versos de Mário Quintana.
Cantorias – Nessa edição, a presença de Dona
Mariana – personalidade que impactou os participantes durante a 2ª edição,
realizada em abril deste ano – mais uma vez apaixonou os espectadores com suas
novas composições musicais.
Ela estuda numa
das turmas da Escola Municipal Tereza Donato, formada por alunos do sistema
Educação de Jovens e Adultos (EJA), e veio acompanhada pelo professor, Raimundo
Nonato, participante assíduo dos saraus. Na oportunidade, Nonato tomou a
palavra para encantar o público com poemas de Paulo Leminski.
O jovem, Marcos
Gomes Cardoso, chamado pelos amigos de Marquinhos
Poeta, cantou novamente “Não sei, será?”, um dos hits mais pedidos durante
as rodas poéticas.
Para os
sarauistas, esse encontro coroou o nascimento da Unifesspa – Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará – uma vez que os estudantes de toda a região
já se preparam para construir um novo modelo de universidade.
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