Anderson Damasceno
“Ó Marabá! Quanto do
teu caos é culpa dos que dirigem mal?”. Já podemos parodiar o grande poeta
português, Fernando Pessoa. Um mar nos separa, mas as dores não. Basta olharmos
a performance do trânsito de Marabá, digo, o comportamento dos nossos
condutores. As atitudes de motoristas, motoqueiros, ciclistas e pedestres são a
prova disso. Caos? Dores? Sim e sim. Quem reparar um pouco só, uma horinha só,
consegue ver. E não precisa ser em vias de muito movimento de pessoas e veículos.
Consegue-se presenciar não poucas atrocidades na esquina de casa.
Acidentes pequenos,
outros trágicos, trazem prejuízos materiais ou, o pior, mutilam as pessoas, retiram
vidas, desmembram famílias. Nos casos mais cruéis, destroem famílias por inteiro. Atualmente, não é difícil encontrar lares que sofrem pela perda de um familiar.
Segundo o Código de
Trânsito Brasileiro (CTB) todos que fazem o uso do tráfego em suas cidades
possuem direitos e deveres. Para dizer a verdade, isso é assim em cada esfera
da sociedade. Só que a preocupação imediata é ou deveria ser com as responsabilidades, com as
nossas obrigações. Especialmente, no que diz respeito à segurança das pessoas e
conservação da vida. Fala-se de conservação porque ninguém mais duvida que,
entrar no trânsito, seja na cidade ou no campo, significa assumir riscos vitais.
No Brasil, acidentes no
trânsito matam mais que armas de fogo. Antigamente, ter carro era a bola da
vez. Hoje, é a arma da vez.
Há quatro grupos de condutores, ou melhor, de posturas
de quem utiliza veículo motorizado, que são bem preocupantes. No entanto, há
soluções para cada caso. Melhor chamar cada um de excentricidade da natureza
automobilística. Aborrecedora, claro!
Vamos começar com aquele
tipo que dirige como se a pista fosse somente dele. Ele usa a via “sozinho”,
até parece que não há mais ninguém no mundo dirigindo também. De algum modo, na
escala de direitos e deveres que ele tem na cabecinha, em forma de senso, tem
um ponteiro que indica a identidade. E nele deve ter algo escrito, mais ou
menos, “Sou o moicano de quatros rodas”.
Daí, esse solitário para
no meio da rua e joga conversa fora com um passante qualquer. Ou para e vê com calmaria algo que o interessa. Aí, ninguém mais passa, salvo quem encara
entrar na contra mão. Só que na cabecinha desse filho único do trânsito, o
espaço que ele deixou é o suficiente pros outros continuarem o trajeto... Pouco
se importa o infeliz com quem está gastando gasolina, tendo que cumprir horário
pra chegar no trabalho ou num compromisso. Chove de gente assim, digo, brotam
do nada, em números como se pedras fossem.
Há outro adepto do
idiotismo no trânsito – com comportamento de discípulo do solitário – consegue
fazer pior. Além desse “descamarada” que usa as ruas da cidade como propriedade
particular, dirigindo sozinho e contra os outros. O gaiato é que é mais fácil
identificar esse opositor. Ele estaciona nas esquinas impedindo que os outros
tenham maior e melhor visibilidade ao chegar nela.
O medo de dobrar a rua
sem ver direito quem vem, quem vai, e a que velocidade, faz com que muitos minutos sejam
gastos esperando pela travessia mais segura. É quase dirigir no escuro, dirigir sem olhos.
E não para por aí. Às
vezes, o cara é tão do contra que ninguém mais consegue dobrar na rua que ele
estacionou. A largura da via é diminuta, todavia o cara estaciona quase
fechando tudo. Isso é menos mal que quando ele estaciona atrás do seu
veículo. Para sair daí, só quando o sujeito antiparceria resolve dar as
caras.
Mais um adepto do
idiotismo praticante é o que trata as ruas, travessas e avenidas como um ringue. Ali é sua arena de lutas. Ele está no veículo para ganhar, tipo assim, terminar o round com flawless victory e seguir pro Fatality.
Cada ultrapassagem é um
soco. E deixar todo mundo pra trás o faz sentir como vencedor do cinturão do UFC
no asfalto.
Muito cuidado com esse praticante. Ele corre na via pra mandar os
outros pra lona. Mas, é bem verdade que a lona preta é incalculável, isto é,
seria menos mal que nessa disputa acontecesse de quem vai pra lona pudesse
voltar depois. Infelizmente, esse nocaute é derrota sem revanche e
“inretornável”.
O último tipinho aqui é
aquele que compreende e se dedica pra valer os direitos e deveres de si e dos
outros. Trafega cônscio de que trânsito é jogo de futebol com um time só, todos
podem caminhar livres rumo ao gol. Juntos fazem gol ao chegar em casa e, VIVOS. Chegar vivão, abraçar a família. Mais gols ao dar caronas, dirigir até a residência
dos amigos, cumprir com saúde e todos os membros do corpo intactos um dia de
trabalho. Enfim, ser o artilheiro de todos os seus compromissos.
Agora, qual é a
preocupação com esse último? Ele não é nada nocivo. Pois é! Concordo.
Porém, a
preocupação maior é com ele sim. Podemos até chamá-lo aqui o herói das pistas,
contudo, em jogos em que há times jogando de três contra um, quem será que
perde? Nosso samaritano das pistas tá muito caladão, e tá quase desclassificado.
Os condutores cumpridores do que é certo, mas que não reivindicam melhor postura de quem pratica idiotismos no trânsito, está se valorizando pouco. Tem que cobrar mesmo de quem dirige mal e incompetentemente.
Isso só é menos entristecedor se comparado aos casos em que
ele vai parar, inocentemente, na lona. Quem chora as dores depois, somos você e
eu, ainda perdidos nas dores e no caos fora de Portugal. Bem aí em cada rua do Brasil.
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