Que choque de tristezas.
Eu li junto com alunos do ensino médio dois contos tratando da “infância”, durante
aula nesta quarta-feira (21). E na tarde de ontem (22), fiquei estarrecido ao
saber e ver foto de um garoto que foi atropelado, no Bairro Cidade Nova. Um acidente
trágico divulgado pelas redes sociais.
Um dia antes, estava
feliz por levar jovens a percorrer a vida com os olhos daquelas duas crianças.
Ótimas e intrigantes personagens. Os secundaristas ficaram até emocionados,
despertos. Afinal, os textos literários eram de autoria de grandes prosadores
brasileiros. De Clarice Lispector, lemos O
primeiro beijo, e, de João Guimarães Rosa, As margens da alegria.
É difícil estar diante
de realidades tão diferentes em tão pouco tempo. A vida na arte e a vida na
vida.
Numa hora você permite a
si e a outros enxergar o universo da criança, com os óculos da poesia.
No texto de Lispector, o
adolescente conta uma viagem de excursão escolar – tipo de experiência que
todos adultos guardam como uma memória bem quentinha –; e dá um beijo “sem
querer”, pois, ao procurar água que mate a sede, encontra o líquido vindo de
uma fonte. Esta escultura era a de uma mulher. Ali, ele se acorda como hominho.
Na narrativa de Rosa, a
criança é levada de avião do campo à cidade em construção. Levada pelos tios,
conhece o que é viajar nos altos céus, brincar com animais cheios de cores.
Mas, sofre por ver que a ação do homem vai fazendo fauna e flora padecerem. E
assim, os duros sentimentos sofridos fazem da criança um perdedor de alegria –
ou, um “vivenciador” de alegrias passageiras. Como o vagalume que aparece e
breve breve desaparece dos olhos do menino, cena esta que finaliza o conto.
Contudo, o que dizer
dessa criança que vinha da educação física e terminou marcada pelos pneus de um
caminhão? Que história morreu ali? Sem dúvida perdemos um espetáculo.
Talvez alguém pense ser
o fato de não ter visto o acidente o espetáculo aqui. Nunca esteve tão errado.
O espetáculo que perdemos foi ver os dias desse garoto não continuarem. Ficamos
mais pobres em Marabá, sempre que os raios do sol não podem mais banhar o
límpido rosto desses meninos, que vem e vão para aulas. Foi um jogador de
futebol que morreu? Foi mais. Foi fim de carreira de um jogador da vida. Vamos
ficar muitas partidas sem comemorar os gols dele.
Ontem, dormimos com algo
pior que uma final de Copa do mundo, em zero a zero. Algo inexistente. Hoje, Marabá
acorda desenriquecida! E isso existe!
Abaixo
mostro alguns comentários no WhatsApp:
“Gente, alguém está
sabendo de uma criança que foi atropelada agora pouco na cidade nova?”
“Eu não sei mais vou
passar lá daqui a pouco”.
“Nossa que horror será
que ele sobreviveu?”
“Sobreviver não”.
“Disseram que ele estava
sem identificação”.
“Que o senhor o tenha em
um bom lugar”.
“Cidade Nova... Ele
vinha da educação física”.
“Cidade Nova... Não sei
o local... exatamente...”
“Quem me mandou foi uma
amiga pra divulgar. Ele estava sem identificação... divulga nos grupos...”
“Caminhão acabou de
passar por cima dessa criança... Gente, coitada dessa mãe...”
(Atualização às 18h15)
O fato que deu origem a esta postagem não ocorreu em Marabá, como foi divulgado nas redes sociais. E sim em Tailândia. Porém, a localidade não diminui o peso de casos como esse. Em Jacundá, recentemente, uma adolescente estudante veio a óbito por atropelamento, exatamente com ônibus da escola. E aqui também já houve tragédias semelhantes. Que essa mensagem sirva de reflexão a todos que atuam no trânsito local.
(Atualização às 18h15)
O fato que deu origem a esta postagem não ocorreu em Marabá, como foi divulgado nas redes sociais. E sim em Tailândia. Porém, a localidade não diminui o peso de casos como esse. Em Jacundá, recentemente, uma adolescente estudante veio a óbito por atropelamento, exatamente com ônibus da escola. E aqui também já houve tragédias semelhantes. Que essa mensagem sirva de reflexão a todos que atuam no trânsito local.
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