“Solo de Marajó”, um monólogo que mostra 8 pequenos quadros poéticos, baseados no segundo romance de Dalcídio Jurandir, Marajó, evento que ocorreu na noite de sábado, no Cine Marrocos |
Cláudio tornou o monólogo um espetáculo jamais visto em Marabá |
Sabe-se que o fator identificação é
importante para quem experimenta a arte. Ele colabora com o efeito provocado no
gosto do público.
A reportagem perguntou
ao diretor da peça Solo Marajó, Alberto Neto, se isso não iria prejudicar a
apresentação, supondo que o público marabaense, que foi ao teatro do Cine Marrocos,
em sua maioria não é leitor de Dalcídio Jurandir, nem é conhecedor do ambiente
marajoara.
“A obra do Dalcídio
Jurandir é poderosa porque ela parte de referências regionalistas para se
tornar universal. Ela discute questões que são da esfera do humano em qualquer
lugar. Então, o que temos percebido é que pessoas, públicos de todos os lugares
onde já estivemos, encontram formas de associar as narrativas do Dalcídio com
as próprias vivências”, explica.
Ainda segundo Neto, todo
mundo já viveu uma experiência no interior, ou na infância já esteve num sítio
de um avô, quem sabe lembra de uma tia que morava distante, na zona rural. Assim,
apesar da obra do Dalcídio ser marcantemente marajoara, na forma dela tratar o
cotidiano e a cultura do homem acaba atingindo aqueles que de algum modo tenham
relação com essa vida.
O ator do monólogo, Cláudio
Barros, que dá corpo, voz e vida às diversas personagens, também relatou para a
reportagem o significado dessa peça.
“Em primeiro lugar, a
importância está em você trabalhar a obra do Dalcídio Jurandir, que é um dos
romancistas mais importantes da Amazônia e do Brasil. Escolher esse autor tem
tamanha importância porque você torna acessível para as pessoas”, pontua.
Ainda conforme Barros, junto
com essa acessibilidade, há também o desafio de transformar o “universo dalcidiano”
– onde ele expõe figuras da sociedade amazônica de uma maneira muito cruel – em
movimento, sons, expressão corporal e personagens.
“O autor é múltiplo,
pois, vai narrando a história e abre janelas, e outras histórias dentro de
histórias, e personagens que vão surgindo e morrendo e vão nascendo de novo nos
romances. Então, é um universo muito amplo na questão psicológica do
personagem. O grande desafio é você conseguir como ator, sozinho em cena, num
monólogo, abarcar todo esse universo de personagens e lugares, porque, em
momentos se está no casarão, noutro momento está num igarapé ou numa floresta.
Então, tem também uma multiplicidade de ambientes”, detalha Barros.
Na noite de sábado, mesmo
sem qualquer elemento no cenário, Cláudio Barros conseguiu suprir apenas com o
corpo, quase todos os elementos da cenografia.
“No monólogo, você usa o
elemento essencial do ator que é seu próprio corpo. Então, no meu próprio
corpo, tento revelar esse universo através de sequências de movimentos,
estudados e analisados, de sons criados no próprio corpo. E assim, tornar isso
tudo uma narrativa clara, calma, e que tente atingir as pessoas assim como a
obra do Dalcídio faz quando você ler”, observa o ator.
Foi um lindo espetaculo! Parabéns pelo texto, amigo!
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